O Ibovespa subiu 3,7% ontem, aumentando para 22% a valorização desde agosto. O “bull market” é normalmente definido por um avanço de pelo menos 20% (Raul Júnior/VOCÊ S/A)
Da Redação
Publicado em 28 de outubro de 2011 às 09h18.
São Paulo - Os investidores do mercado de ações mostram pouca confiança no “bull market” brasileiro.
As vendas a descoberto, ou “short selling”, estão hoje em um nível duas vezes maior do que o visto antes de o Ibovespa despencar em 2008 com os receios de que os cortes de juros vão acelerar ainda mais a inflação, ao mesmo tempo em que o desaquecimento da economia mundial ameaça a demanda por commodities. O acordo para conter a crise de dívida na Europa ajudou o principal índice acionário do país a sair do “bear market” ontem. A alta do dólar tornou as ações brasileiras mais baratas para os estrangeiros, que foram atraídos pelos múltiplos mais baixos em dois anos.
O Ibovespa ainda acumula uma baixa de 14 por cento no ano, depois que economistas cortaram as previsões para o crescimento da economia local. Essa queda se compara a uma alta de 2,1 por cento para o Standard & Poor’s 500 e de 1 por cento para o FTSE/JSE Africa All Share da África do Sul.
A disparada do “bull market” “não indica uma movimento sustentável de alta para o Brasil”, disse Komal Sri-Kumar, estrategista-chefe mundial do TWC Group Inc. em Los Angeles, que administra cerca de US$ 120 bilhões em ativos. “Há muito otimismo - em minha opinião, não totalmente justificado - quanto à solução para a crise de dívida da Europa. Eu não ficaria tão animado.”
O Ibovespa subiu 3,7 por cento ontem, aumentando para 22 por cento a valorização desde a mínima atingida em 8 de agosto. O “bull market” é normalmente definido por um avanço de pelo menos 20 por cento em relação à mínima do “bear market” anterior. O índice da bolsa paulista chegou a acumular uma queda de 33 por cento entre novembro de 2010 e o início de agosto. Com isso, o preço médio das ações que fazem parte do Ibovespa caiu para 7,9 vezes as estimativas para os lucros das empresas, o menor múltiplo desde março de 2009, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Avanço de commodities
As commodities subiram 5,9 por cento desde 8 de agosto, com o maior esforço das autoridades europeias para conter a crise de dívida do continente, segundo o índice GSCI, da Standard & Poor’s, que acompanha 24 matérias-primas. Essa valorização dá impulso à receita de empresas brasileiras do setor.
A bolsa da Rússia também entrou no “bull market” ontem, puxada pela disparada das commodities. O índice Micex, que engloba 30 ações, subiu 1,7 por cento, ampliando a valorização desde a mínima de 5 de outubro para 21 por cento.
O Brasil ficou fora da queda nas operações pessimistas para opções nos mercados emergentes. A relação entre opções de compra e opções de venda do ETF, ou exchange-traded fund, iShares MSCI Emerging Markets caiu 24 por cento desde 8 de agosto, para 1,22 por 1 em 25 de outubro, a mínima de 22 meses. Essa relação para o ETF iShares MSCI Brazil subiu 23 por cento no mesmo período, para 1,42 por 1.
O volume de aluguéis de ações no Brasil, um indicador de vendas a descoberto, subiu para US$ 35,2 bilhões no mês passado, ou 2,9 por cento do valor total do mercado acionário do País, segundo dados da BM&FBovespa SA e da Bloomberg. Essa relação chegou a bater no recorde de 3 por cento em agosto. Em 2008, o máximo atingido foi de 1,5 por cento, três meses antes do colapso do Lehman Brothers Holdings Inc., em setembro daquele ano.