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Bolsa monitora risco de alta maior da Selic em 2011

SÃO PAULO - A eficácia do aperto nos juros contra a inflação será um dos principais pontos de discussão na bolsa de valores nas próximas semanas. Caso seja necessário um aumento da Selic mais forte do que o atualmente previsto, o Ibovespa -- que gravita em torno dos 70 mil pontos -- pode frustrar as […]

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Da Redação

Publicado em 20 de janeiro de 2011 às 14h23.

SÃO PAULO - A eficácia do aperto nos juros contra a inflação será um dos principais pontos de discussão na bolsa de valores nas próximas semanas.

Caso seja necessário um aumento da Selic mais forte do que o atualmente previsto, o Ibovespa -- que gravita em torno dos 70 mil pontos -- pode frustrar as previsões mais otimistas. Quem tem condições de se sobressair, dependendo do exterior, são as ações ligadas a commodities.

"O que vai mudar o 'call' dos analistas é uma deterioração das expectativas de inflação. Há riscos para isso ocorrer", disse Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC, citando a volatilidade dos preços de alimentos e a dificuldade de se esfriar as pressões sobre os custos de serviços.

Na véspera, o Banco Central elevou a taxa básica de juro em 0,50 ponto percentual, para 11,25 por cento. Como a decisão já era esperada, o efeito sobre a bolsa foi diluído nas últimas semanas, com queda de 2,8 por cento em 2011 do índice ICON <.ICON>, que reúne as principais empresas ligadas a consumo.

O efeito da alta dos juros demora meses para ser sentido sobre a economia real. Já haverá um alívio, no entanto, se as expectativas para a inflação em 2011, divulgadas toda segunda-feira pelo BC, se aproximarem do centro da meta, a 4,5 por cento --algo que pode ser facilitado por uma redução de grandes proporções nos gastos públicos, dizem analistas.

Segundo Kelly Trentin, analista da corretora Spinelli, o foco agora recai sobre os índices de preços e sobre a ata da reunião do Copom, a ser divulgada na próxima semana. A maior parte dos analistas ouvidos pela Reuters em pesquisa feita na semana passada previa alta de mais 1 ponto percentual da taxa de juros neste ano. [ID:nN12214033]

"A percepção geral é negativa para a bolsa (com a alta dos juros). Pouca coisa se salva. O mercado começa a se focar em setores mais 'defensivos'", acrescentou, em referência a setores ligados a serviços essenciais, como fornecimento de água e eletricidade, que sofrem um impacto menor da redução na atividade econômica.

O índice IEE de energia elétrica <.IEE> acumulava alta de 2,8 por cento em 2011, até a véspera. O Ibovespa <.BVSP>, que concentra as principais ações da bolsa, tinha alta de 1,1 por cento.

APOSTA EM COMMODITIES

Julio Hegedus, economista-chefe da corretora Interbolsa, elenca os setores mais vinculados à demanda interna --como varejo-- como os que tradicionalmente mais têm a perder com um ciclo mais forte de alta dos juros.

No início do mês, a equipe de análise do banco HSBC havia retirado da carteira de recomendações os papéis ligados ao consumo, como Hering , e ao setor de cartões de crédito e débito, como Redecard .

O setor imobiliário, outra vítima comum do aumento dos juros, é poupado pelos analistas Stephen Graham e Alexander Kazan, do banco de investimento Goldman Sachs. "Os preços (das ações) são atraentes o bastante para garantir uma exposição acima da média para essas ações", afirmaram em relatório.

A visão do Goldman sobre os bancos também é neutra, embora os analistas enfatizem que, no curto prazo, essas instituições sigam vulneráveis a potenciais medidas de restrição do crédito, como um aumento dos depósitos compulsórios.

O próprio Banco Central deu pistas de que mantém em aberto a adoção de mais medidas "macroprudenciais". "O setor (bancário) sofre bastante com isso", acrescentou Nunes, do HSBC. "É possível que a gente já veja uma redução da oferta de crédito e demanda por financiamento de veículos."

Para os analistas do Goldman Sachs, as ações que podem se sobressair são as ligadas a commodities, como mineração e petróleo. Empresas como Vale e Petrobras estão mais ligadas aos preços internacionais das matérias-primas, cuja alta é justamente uma das razões para o aumento da inflação e para alta dos juros no Brasil e outros emergentes, como a China.

Olhando em um horizonte mais longo, no entanto, analistas do banco de investimento JPMorgan, liderados por Emy Shayo Cherman, afirmaram em relatório recente que os investidores na bolsa não devem temer um aperto monetário maior. Um surto inflacionário, dizem, teria efeitos piores.

"O melhor cenário para as ações seria uma alta dos juros mais concentrada no curto prazo", afirmam.

Nunes, do HSBC, corrobora essa visão. "Tem um custo de oportunidade que sempre bate no curto prazo: é sempre esperada uma correção do mercado de 'equities'."

"Mas, dos males, o menor. É muito melhor um banco central atuante do que um banco central omisso", afirmou.

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