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Agibank: o banco digital que o mercado não quis

A oferta foi adiada devido a grande volatilidade na bolsa e insegurança dos investidores com o modelo de negócios da empresa

Bolsa: "condições de mercado" foram apontadas pelo Agibank como motivos para adiar sua abertura de capital (Germano Lüders/Reuters)
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EXAME Hoje

Publicado em 21 de junho de 2018 às 07h08.

Última atualização em 21 de junho de 2018 às 07h12.

O banco gaúcho Agibank deveria apresentar nesta quinta-feira o preço final de suas ações para a estreia na bolsa , prevista para a próxima segunda-feira. Mas a ambiciosa proposta fracassou. Um misto de grande volatilidade na bolsa e a insegurança dos investidores com o modelo de negócios da empresa foram os responsáveis por fazer o Agibank adiar a sua oferta (citando apenas as famosas “condições do mercado”).

O país de fato vive momentos conturbados. Mas não é tão difícil entender porque investidores não quiseram pagar o preço estipulado pela companhia, que a avaliaria em 9 bilhões de reais. Seria cerca de 20 vezes o seu patrimônio — enquanto o  Itaú é negociado a 1,8 vez seu valor patrimonial. O Agiplan, criado em 1999 como uma financeira, mudou seu nome para Agibank há seis meses, para dar uma guinada digital com o objetivo de quintuplicar o número de correntistas neste ano. Fica difícil, portanto, avaliar em um espaço tão curto de tempo o potencial de crescimento da nova empresa.

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De longe, o Agibank parece mais um dos muitos bancos digitais que surgem por aí. De perto, no entanto, o modelo é diferente e, em alguns momentos, nada disruptivo (como propõem os bancos digitais ou outras fintechs). Com foco nas classes C e D, o Agibank tem o legítimo objetivo de trazer o universo dos bancos para pessoas desbancarizadas e ignoradas pelas grandes instituições. O caminho para isso, no entanto, passa pelo oferecimento de empréstimos e créditos consignados com altas taxas de juros (para compensar a conta da inadimplência).

Juros menores é uma das principais bandeiras da maioria das fintechs, que focam em trazer melhores condições para seus clientes do que os grandes bancos. “As fintechs buscam entrar em segmentos que os grandes bancos não fazem tão bem e oferecer alternativas para os clientes. O Agibank tem um modelo de negócios difícil de entender porque eles pegam um público que não parece interessar nem aos grandes bancos”, diz Tiago Reis, da casa de análises Suno Research.

Juros altos vão até mesmo contra o trabalho atual do Banco Central, que tem adotado cada vez mais medidas para reduzir juros nos mais variados serviços bancários. Pesa ainda para o modelo da companhia o fato de o Ministério Público ter entrado, no fim de maio, com um processo acusando o Agibank de “práticas como a retenção automática de saldos em conta-corrente de aposentados, pensionistas e pessoas de baixa renda, sob o pretexto de que tarifas e parcelas de empréstimo consignado estariam em atraso.”

Até aqui, os altos juros com uma estratégia enxuta (poucas agências) trouxeram um retorno sobre o pratimônio (ROE) — usado para avaliar a atratividade de um banco — de 44% ao Agibank. O maior banco privado do país, Itaú, o ROE está em 22,2%. Vendo que não conseguiriam fazer a oferta de ações decolar na faixa de preço estabelecida (13,87 a 16,95 reais), os bancos coordenadores baixaram o preço para a faixa entre 11,50 a 13 reais. O esforço não foi suficiente.

O adiamento dificulta uma nova tentativa antes das eleições presidenciais, o que dá ao Agibank mais um tempo para apresentar mais resultados e, quem sabe, explicar melhor seus números e previsões para potenciais investidores. Até lá, por outro lado, a concorrência com outros bancos digitais deve estar ainda mais acirrada.

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