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Ação da Petrobras valeria o dobro após privatização, diz Bradesco

Apesar disso, banco vê grandes desafios para concretizar venda da estatal

PETROBRAS: Cade um acordo para a venda de ativos no mercado de gás natural por parte da petroleira, como parte do novo programa para o setor anunciado pelo governo no final de junho, que pretende criar condições para a redução do preço do gás no país / REUTERS/Paulo Whitaker (Paulo Whitaker/Reuters)

PETROBRAS: Cade um acordo para a venda de ativos no mercado de gás natural por parte da petroleira, como parte do novo programa para o setor anunciado pelo governo no final de junho, que pretende criar condições para a redução do preço do gás no país / REUTERS/Paulo Whitaker (Paulo Whitaker/Reuters)

TL

Tais Laporta

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 16h06.

A privatização da Petrobras voltou a ser assunto do mercado financeiro, depois que o ValorPro divulgou informação de que o processo estaria sendo analisado no governo e poderia ocorrer ainda no mandato do presidente Jair Bolsonaro. As informações, porém, são contraditórias, com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmando que há estudos, negados pelo porta-voz da Presidência. Já Bolsonaro admitiu hoje que pode discutir a privatização da empresa.

Independentemente de o projeto já estar em andamento ou não, a privatização da maior empresa brasileira enfrentará muitos desafios, avaliam analistas. E já há quem faça estimativas de quanto valeria a ação após sua privatização.

Para os analistas Vicente Falanga e Ricardo França, da Bradesco Corretora e da Ágora Investimentos, uma análise do fluxo de caixa descontado da empresa ajustada para uma situação de empresa privada indicaria que a ação da companhia poderia valer de R$ 50 a R$ 55, o dobro do preço atual das ações, de R$ 27 a ordinária (ON com voto) e R$ 25 a preferencial (PN, sem direito a voto).

Esse valor projetado significaria um valor de empresa (Enterprise Value, equivalente ao valor de mercado da companhia mais sua dívida) em relação ao lucro antes de impostos, depreciação e amortização (Ebitda ou Lajida, indicador do desempenho operacional da companhia) de 6,5 vezes, um pouco abaixo da concorrente Exon.

Para o banco, porém, o processo de privatização teria três grandes desafios. O primeiro seria aprovar a proposta no Congresso, o que teria de ser feito via emenda constitucional com maioria absoluta. “Isso por si só já representaria um desafio político significativo para o governo e poderia levar vários anos de discussão”, diz o relatório da corretora.

O segundo ponto é que já há um processo de privatização direta em andamento, desde a gestão de Pedro Parente, em 2016, por meio da venda de ativos, que devem resultar em uma empresa mais enxuta, com menos intervenção do governo, sem ter de transferir o monopólio da energia para um grupo privado.

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O processo está sendo continuado pelo atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, com o argumento de que as vendas indiretamente privatizam a empresa e ajudam a trazer concorrência privada saudável para o Brasil, como foi o caso da venda dos dutos, refinarias, parcelas de ações da BR Distribuidora e do mercado de gás. “Portanto, questionamos até que ponto essa mentalidade de “privatização indireta” realmente mudou dentro do governo a ponto de o governo federal querer abrir mão das ações ordinárias”, avaliam os analistas.

O terceiro ponto é que o governo poderia levantar muito capital apenas com a venda da participação do BNDES, que chegaria a US$ 12 bilhões, ou R$ 48 bilhões. A participação da União na Petrobras hoje, estima a corretora, vale US$ 24 bilhões, ou seja, R$ 96 bilhões.

Também o UBS vê algumas dificuldades para a privatização da empresa. Antes, a empresa precisa 1) romper o monopólio da refinação, 2) encerrar o monopólio do gás natural e 3) discutir a medida com o Congresso, pois sua aprovação será necessária. “Então, este processo pode ser concluído em 2022, no melhor cenário, na nossa opinião”, diz o UBS.

O banco suíço fez uma lista dos ganhos que a empresa teria. Para os analistas Luiz Carvalho e Gabriel Barra, a privatização seria uma “virada de jogo”, pois permitiria à Petrobras mexer em alguns fatores cruciais, como:

1) assegurar uma política de preço livre;

2) promover um desinvestimento mais veloz de ativos não essenciais, pois as vendas deixariam de se aplicar à Lei das Estatais;

3) continuidade, já que os presidentes não seriam mais indicados pelo governo, permitindo que a empresa adotasse um plano de negócios de longo prazo;

4) alocação de capital mais disciplinada; e 5) menor estrutura de custos, provavelmente levando a uma nova avaliação de suas ações. “Já discutimos um possível formato para a privatização da Petrobras sob a possibilidade de o governo diluir sua participação unificando as classes de ações (ON e PN)”, diz o banco. Nesse caso, mesmo considerando um desconto de 30% da ação PN para ON, o governo teria menos de 50% após a diluição das ações. No entanto, a venda da participação do BNDES poderia pesar sobre o papel no curto prazo.

O UBS tem um preço justo para a ação PN da Petrobras de R$ 33,00, com recomendação de compra.

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