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Eletrobras: vale a pena usar os 50% do FGTS na oferta de ações da privatização?

Oportunidade de fazer o dinheiro do fundo render mais é tentadora, mas especialistas recomendam cautela

Logo da Eletrobras: analistas recomendam aplicar até 10% do portfólio de investimentos na oferta, e por um prazo de pelo menos cinco anos (Bloomberg/Getty Images)

Logo da Eletrobras: analistas recomendam aplicar até 10% do portfólio de investimentos na oferta, e por um prazo de pelo menos cinco anos (Bloomberg/Getty Images)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 7 de junho de 2022 às 15h45.

Última atualização em 7 de junho de 2022 às 18h22.

O FGTS rende pouco, e você acredita que pode valer colocar todos os recursos depositados no fundo na oferta de ações da privatização da Eletrobras, que se encerra amanhã, ao meio-dia? Muita calma nessa hora. Pelo menos é o que dizem especialistas.

Todo trabalhador poderá colocar até 50% do dinheiro depositado no fundo em fundos de ações da privatização da companhia, os FMP-Eletrobras. Mas isso não significa que devem.

Segundo casas de análise, como Nord, Empiricus e Inv, a recomendação é que o investidor coloque, no máximo, de 5% a 10% de seu patrimônio investido na oferta.

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"Não recomendamos colocar mais do que 5% do portfólio inteiro de investimentos nesta oferta, que é mais ou menos o peso que damos para cada ação em nossos portfólios aqui", diz Ruy Hungria, analista da Empiricus. Ou seja, quem tem uma carteira de investimentos de R$ 100 mil, e pode sacar R$ 50 mil do FGTS, deve investir R$ 5 mil na oferta, no máximo.

Contudo, essa recomendação só vale para quem já tem uma reserva de emergência equivalente a 6 meses de renda. João Gabriel Abdouni, analista da casa de análise Inv, aponta que quem nem tem uma reserva de emergência formada não deveria investir na bolsa, ainda mais porque os recursos do FGTS "servem como reserva de emergência caso o trabalhador seja demitido".

Para quem já tem reserva de emergência e investimentos em renda fixa e renda variável as ações da Eletrobras têm potencial de valorizar 15% ao ano, diz Abdouni. Mas essa valorização não é garantida, e certamente não será linear.

"Os papéis podem subir 30% em um ano, e cair no outro. Por isso, o horizonte de investimento deve ser de pelo menos cinco anos. As ações da Eletrobras renderam mais do que o FGTS nos últimos 10 anos, mas deram muitos sustos no caminho. O grande risco do investidor é tirar o dinheiro na hora errada".

Para quem quer aplicar, mas está disposto a encarar o risco em prazos menores, Bruce Barbosa, sócio-diretor da Nord, recomenda ir retirando o dinheiro aos poucos, nos momentos em que a ação valorizar. "Se daqui a três anos a bolsa subir, saca metade, e mais para frente, saca mais. Não deixe para sacar tudo perto do momento em que irá precisar do dinheiro, pois o risco aumenta".

Mas o FGTS não rende muito pouco?

Para além do risco, o leitor pode questionar por que não aplicar o dinheiro, se o FGTS rende pouco.

Desde 2019 a rentabilidade do FGTS, que era equivalente a TR + 3% ao ano, aumentou: o porcentual do lucro distribuído subiu de 50% para 100%.

Como é difícil prever o quanto será distribuído de lucro nos próximos anos, é interessante relembrar o quanto o FGTS rendeu historicamente. Veja na tabela abaixo os cálculos de Michel Viriato, sócio da Casa do Investidor:

Segundo análise de Viriato, a baixa rentabilidade do fundo na maior parte dos últimos 10 anos aconteceu porque a taxa básica de juros (Selic) estava alta, atingindo o pico de 14,25% em 2015 e 2016. Quando a taxa Selic sobe, o FGTS sofre com a concorrência de outras aplicações de renda fixa, que oferecem uma rentabilidade maior.

O ano de 2012 foi uma exceção por conta do boom imobiliário, que elevou os ganhos do fundo e, em conjunto com a taxa Selic relativamente baixa, fez com que a rentabilidade do FGTS superasse o CDI. O lucro do FGTS basicamente vem do financiamento de obras para programas de subsídios na construção civil, como Minha Casa Minha Vida, além de projetos de infraestrutura e saneamento.

Ou seja, a partir de agora o FGTS tende a perder atratividade porque a taxa básica de juros está em 12,75% ao ano, quase no mesmo patamar de 2015. Neste ano, o FGTS ainda poderá dar uma rentabilidade maior do que outras aplicações de renda fixa, como o Tesouro Direto e CDBs porque distribuirá o lucro de 2021, quando a Selic chegou a 2% ao ano. Contudo, no ano que vem, deve voltar a ficar abaixo do CDI.

Portanto, não vale a pena ficar com dinheiro parado no fundo. Mas existem outras formas de retirar dinheiro do FGTS sem concentrar o risco de investimento em ações de uma empresa só.

Caso o trabalhador não se enquadre em uma das regras para saque dos recursos do FGTS, poderá optar pelo saque-aniversário e retirar o dinheiro aos poucos. Dessa forma, é possível diversificar os investimentos, e montar uma carteira mais equilibrada.

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