Dólar? Ações? Ouro? Investir em Lego pode render mais, diz estudo
Conjuntos de Lego têm gerado retornos médios de 11% ao ano, segundo universidade russa; edições limitadas e nunca abertas podem ter valorização ainda maior
Guilherme Guilherme
Publicado em 30 de dezembro de 2021 às 07h30.
Última atualização em 3 de janeiro de 2022 às 10h52.
Joias, ações, títulos, metais preciosos e obras de arte são utilizados há séculos como reserva de valor. Mas, segundo um estudo recente realizado pela HSE University, de Moscou, peças de Lego podem não só realizar essa função como serem ainda mais lucrativas que investimentos tradicionais.
De acordo com o estudo, conjuntos de Lego que deixaram de ser produzidos proporcionaram retorno anualizado médio de 11%. Trata-se de performance invejável até para alguns dos mais renomados gestores de fundos.
Para chegar a esses números, os pesquisadores avaliaram os preços de 2.322 conjuntos de Lego vendidos entre 1987 e 2015, incluindo informações sobre vendas primárias e arremates realizados em leilões online no mercado secundário.
Os retornos, no entanto, não acontecem "de uma hora para outra".
A pesquisa aponta que a valorização das peças de Lego são mais frequentes no período de dois a três anos depois que as peças deixam de ser produzidas. Mas a diferença dos retornos entre os brinquedos -- ou seriam objetos colecionáveis -- também pode ser significativa, de altas de 600% ao ano até desvalorizações de 50%. O estudo ainda mostra que conjuntos muito pequenos ou muito grandes tendem a ter valorização mais rápida do que os de tamanho médio.
"[Isso ocorre] provavelmente porque os conjuntos pequenos geralmente contêm peças ou figuras únicas, enquanto os grandes são produzidos em pequenas quantidades e são mais atraentes para os adultos", afirma em artigo Victoria Dobrynskaya, uma das pesquisadoras do estudo e professora associada da Faculdade de Ciências Econômicas da HSE.
Segundo a pesquisadora,conjuntos temáticos dedicados a edifícios famosos (como o Big Ben, a Ópera de Sydney e o Empire State Building ), filmes populares (como Star Wars ) ou feriadostendem a ter maior valorização no mercado secundário. Mas, mesmo no mercado primário, esses brinquedos podem exigir "aportes iniciais" bem elevados.
Em sites como Amazon e Americanas, por exemplo, conjuntos do Empire State e da Estátua da Liberdade não saem por menos de algumas centenas de reais. Carros de luxo da Lego, como o Bugatti Chiron e a Lamborghini Sián, superam a marca dos 2.000 reais. Já no Mercado Livre, é possível encontrar a réplica do Titanic em Lego por mais de 8.000 reais.
Peças antigas, que fazem parte de uma primeira edição de uma linha de sucesso, podem ser vendidos por cifras ainda mais altas devido à raridade do produto. É o caso da nave espacial Millennium Falcon, de Star Wars, que chegou a ser vendida por mais de 4.000 dólares (cerca de 22.500 reais) antes de ser relançada pela Lego recentemente.
Há diferentes razões que explicam os altos valores, diz Dobrynskaya. O primeiro é que as edições dedicadas a filmes e edifícios históricos costumam ser limitadas.
O segundo motivo é que, quando uma edição tem sua produção encerrada, a disponibilidade cai de forma constante, já que, enquanto uns perdem ou quebram suas peças, outros não as vendem por nada.
"Em terceiro lugar, os conjuntos de Lego são produzidos há várias décadas e possuem muitos fãs adultos. Seria razoável supor que, quanto mais tempo se passa desde que o conjunto foi fabricado, maior será sua valorização como uma amostra clássica ou um objeto nostálgico."
A Lego foi fundada em 1932 pelo mestre carpinteiroOle Kirk Kristiansen, na Dinamarca. O nome vem da junção de duas palavras na língua local, "leg godt", ou brinque bem (em tradução livre). Inicialmente, eram brinquedos de madeira. Apenas em 1949 foram lançados blocos de plástico para montar, que, uma década, mudaram para o formato consagrado até os dias de hoje.
Na comparação com ativos financeiros tradicionais, Dobrynskaya diz acreditar que as peças de Lego possam representar uma proteção ainda maior que ações ou moedas, uma vez que, mesmo durante a crise financeira global de 2008, seus preços continuaram subindo.
Por outro lado, a pesquisadora pontua que as peças mais valiosas de Lego são aquelas que continuam embaladas, sem nunca terem sido abertas, e produzidas há mais de 20 ou 30 anos. Se para alguns ter o brinquedo por tanto tempo sem nunca ter sido montado pode ser um desperdício, para outros é um investimento.