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Credit Suisse lança programa de aceleração para gestoras

Banco de investimentos vai se tornar sócio de gestoras promissoras com até 30% do capital em conjunto com clientes; Norte Asset é a primeira selecionada

Enio Shinohara, head de Funds Solutions & Institutional Business Development do Credit Suisse | Foto: Credit Suisse/Divulgação (Credit Suisse/Divulgação)

Enio Shinohara, head de Funds Solutions & Institutional Business Development do Credit Suisse | Foto: Credit Suisse/Divulgação (Credit Suisse/Divulgação)

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Marcelo Sakate

Publicado em 21 de junho de 2021 às 10h15.

Última atualização em 21 de junho de 2021 às 10h52.

Em pouco mais de um ano, o mercado de capitais no país ganhou quase cem novas gestoras. Já são mais de 500 no país, que administram mais de 16.000 fundos, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O pano de fundo é um mercado em efervescência que cresce em volume de negociação e sofisticação na oferta de produtos para os investidores, em um fenômeno conhecido como financial deepening.

A onda mais recente do desenvolvimento do mercado é a associação de grandes players como bancos e corretoras com as assets, como as gestoras são chamadas em inglês. A iniciativa da vez vem do Credit Suisse, que está lançando um programa de aceleração de gestoras no país, o Ceres.

O objetivo do banco de investimentos é participar do crescimento de gestoras com potencial elevado, ao mesmo tempo em que passa a oferecer a clientes um produto estruturado para acompanhar e se beneficiar da esperada evolução.

O Ceres prevê que o Credit Suisse e seus clientes se tornem acionistas minoritários com 25% a 30% do capital da gestora, com regras pré-definidas de saída a partir do terceiro ano. Os recursos funcionam como uma espécie de seed money (capital semente).

“O programa é uma evolução natural do modelo de negócios de fundo de fundos, em que somos o player mais experiente no Brasil com quase 25 anos. Além de fomentar o crescimento de gestores de forma estratégica, seremos provedores de capital não só financeiro como intelectual”, disse Enio Shinohara, head de Funds Solutions & Institutional Business Development do Credit Suisse, à EXAME Invest.

O banco e os clientes que investirem nas gestoras, por sua vez, serão remunerados com a participação nos resultados das mesmas, por meio de dividendos; isso além da valorização esperada da fatia que possuem, diante do crescimento dos negócios. “O upside do crescimento da gestora é compartilhado com os clientes”, diz Shinohara.

A primeira gestora selecionada é a Norte Asset Management, lançada no ano passado por Gustavo Salomão, um profissional experiente do mercado com duas décadas no Garantia e no próprio Credit Suisse.

Há outra gestora em fase final de negociação e mais quatro no pipeline para que façam parte do Ceres até o fim deste ano, de acordo com Shinohara e Raphael Fonseca, responsável pela área de gestão de fundos do Credit Suisse.

A seleção das gestoras, por sua vez, atenderá a três critérios principais: perfil empreendedor dos gestores, talento e competência da equipe e o diagnóstico de que estejam operando aquém de sua capacidade, independentemente do tempo de existência, afirma Shinohara.

Não há uma preferência pré-determinada a estratégias com ações ou multimercados. “Vamos olhar com a cabeça aberta. Existem talentos com potencial em outras estratégias como crédito e investimento de impacto.”

“A estrutura que montamos nos permite selecionar manager a manager. Não é como um fund of funds, não temos que colocar os gestores juntos. Podemos escolher as estratégias de alta convicção, gestores que acabaríamos alocando ao portfólio”, diz Fonseca.

Interesse estratégico

O programa do Credit Suisse é o mais recente exemplo do interesse estratégico de grandes players em se associar com gestoras independentes. Em geral, essa independência é preservada, enquanto os novos sócios se beneficiam do acesso privilegiado a determinados tipos de produtos e da participação no crescimento.

O caso mais notório é o do BTG Pactual (BPAC11), que há uma semana anunciou um investimento para se tornar sócio minoritário e estratégico da Perfin, gestora com mais de 20 bilhões de reais sob gestão e especializada em produtos estruturados em infraestrutura.

O BTG (do mesmo grupo que controla a EXAME) também entrou como sócio minoritário da Clave, gestora recém-criada e liderada por Rubens Henriques, ex-CEO da Itaú Asset Management. Em março, o banco de investimentos havia comprado uma fatia da Kawa Capital, uma gestora com atuação no mercado americano.

A XP, por sua vez, adquiriu participação na Giants Steps, gestora de fundos quantitativos, e na Capitânia, de crédito privado e de infraestrutura.

“O grau de competição na indústria de asset managment aumentou muito. As barreiras de entrada para um sujeito constituir uma gestora ficaram muito baixas”, diz Shinohara, um veterano de mercado egresso dos tempos de Hedging-Griffo na década de 1990 e que, mais recentemente, passou dez anos no BTG Pactual, como head de Portfolio Solutions da área de Wealth Management, em Nova York.

Ele diz que o mercado brasileiro atual remete à expressão “two guys and a Bloomberg”, comum no mercado americano há mais tempo, para falar da facilidade para a criação de gestoras.

“Mas crescer de forma sustentada são outros quinhentos. Não basta apenas ‘performar’ bem para o dinheiro chegar. Tem que ter uma estratégia de negócios, saber atrair talentos, fazer a gestão de riscos... Por isso a importância de ser gestor e empreendedor”, completa.

Retenção de talentos

Há outros motivos por trás dos interesses dos bancos de investimento. “O negócio de gestoras independentes tem essencialmente um ativo, que são as pessoas. Desenhamos uma governança robusta para que elas retenham os talentos ao longo do tempo”, afirmou Shinohara. Segundo ele, a previsibilidade para que os gestores possam recomprar a participação do Credit Suisse é um dos elementos de governança previstos.

E isso, por outro lado, evita que os melhores profissionais migrem justamente para grandes bancos e corretoras concorrentes.

Ele faz um paralelo do programa com o investimento de venture capital voltado para o crescimento de startups.

“O objetivo é participar do sucesso da gestora sem ter que exercer o controle”, completa Fonseca. Segundo ele, a saída pode ocorrer em geral a partir do terceiro ano porque os dois primeiros anos são considerados os mais críticos para uma gestora, dado o desafio de captação que permitirá, por exemplo, a remuneração adequada da equipe e o fato de que o benefício econômico do crescimento não deve vir, portanto, antes desse intervalo.

Segundo ele, os benefícios econômicos devem ser atingidos em maior grau entre o quinto e o sexto ano. Nesse prazo, as gestoras devem idealmente recomprar a participação remanescente em mãos do banco e dos clientes e seguir vida própria.

Durante o programa, as gestoras poderão distribuir os produtos fora do Credit Suisse, já considerando a premissa de que vão seguir independentes ao recomprar a sua participação.

Já a definição dos clientes vai depender, segundo Fonseca, não só do suitability (o perfil) de cada um e de sua capacidade financeira para fazer o investimento como da experiência em alocar capital em ativos semelhantes em prazos mais extensos. Ele vai trocar a liquidez pela possibilidade de participar do economics da gestora, afirma.

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