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Com alta de combustíveis, fundo de R$ 300 mi do BTG mira o setor de etanol

O fundo BTAG11, lançado em março, é um Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) que investe em títulos de crédito de empresas do campo

Setor de cana-de-açúcar é a principal aposta do novo Fiagro do BTG, o BTAG11 (Kiko Ferrite/Exame)
BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 10 de maio de 2022 às 06h03.

Última atualização em 10 de maio de 2022 às 08h59.

O agronegócio brasileiro vive um momento bastante particular. A combinação da alta dos preços de commodities e as consequências negativas da guerra na Ucrânia criou um cenário em que alguns segmentos do agro ganham, e outros ficam um tanto de fora da "festa". Tal contexto é desafiador também para os gestores dos Fiagro, os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais.

Agora, a tarefa dos fundos é tentar aproveitar as boas oportunidades criadas pela distorção de preços de produtos como soja, carne e etanol, ao mesmo tempo em que os sinais amarelos são observados de perto. É preciso estar atento a indícios de viradas de ciclo que possivelmente derrubem as cotações desses produtos, além de mensurar os riscos de efeitos como a alta dos fertilizantes, em razão da menor oferta russa.

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Todos esses pontos seguem no radar do Fiagro lançado em meados de março pelo BTG Pactual (instituição que faz parte do mesmo grupo controlador da EXAME). O BTAG11 investe em direitos creditórios de empresas do agronegócio, e tem um patrimônio de 311 milhões de reais.

"Hoje, o setor sucroalcooleiro tem uma melhor relação de risco-retorno do que o de grãos, por exemplo, e a dinâmica de preços e demanda nos fez começar por esse caminho. No entanto, isso não significa que o fundo será sempre concentrado, podemos ter investimentos em diferentes culturas", explicou Leonardo Zambolin, sócio do BTG Pactual e gestor do novo Fiagro.

Quando os fundos da categoria foram criados, por meio de uma lei no Congresso, a opção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi a de regulamentar o Fiagro de acordo com regras já existentes. Ficou determinado que os fundos do agro deveriam se encaixar em três categorias: Fundos de Investimento Imobiliário (FII), dos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e em Fundos de Investimento em Participações (FIP).

O Fiagro do BTG é, até agora, o único listado nas regras de FIDC— a maioria dos outros mais de 20 Fiagro que chegaram ao mercado são FII que investem em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), em uma dinâmica bastante similar aos fundos imobiliários de papeis que investem em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI).

A razão para isso, diz Zambolin, é a preferência do investidor brasileiro por produtos que distribuam dividendos de forma regular.

"No começo, alguns gestores cogitaram desenvolver fundos que investissem em terras agrícolas, dentro da regra de FIP, mas acabaram desistindo. A resposta que o mercado deu foi que fundos assim demoram para dar retorno, e o investidor não quer seu rendimento lá no ano 10, ele quer um 'pinga-pinga' mais breve e recorrente", explicou o gestor do BTG.

A vantagem de ter um Fiagro no perfil de FIDC é a variedade de títulos que podem ser inseridos no patrimônio do fundo. Além de CRA, o fundo do BTG pode acessar, direta ou indiretamente, títulos comoCédulas de Produto Rural (CPR),Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), notas de crédito de exportação, títulos de antecipação de recebíveis, entre outros.

Ter acesso a essa camada do mercado permite alcançar possibilidades de retorno maiores. A meta de rentabilidade do BTAG11 é de CDI + 3,5% a CDI + 8%. Considerando o nível atual da taxa Selic, que é a base do CDI, isso representaria um retorno bruto de 16,25% a 20,75% ao ano.

A diversidade de instrumentos financeiros também pode trazer empresas de perfis e tamanhos diferentes para dentro do fundo. O gestor do BTG explica que boa parte desses negócios não tinha acesso ao mercado de capitais tradicional— muitos sequer têm balanço auditado.

Para equacionar o risco de investir em títulos de créditos dessas empresas (e evitar eventuais inadimplências), os gestores contam com o apoio da área de tesouraria do BTG Pactual, que tem diferentes níveis de relacionamento com empresas do setor. Olhando para outros indicadores, como os das operações tradicionais de crédito, é possível fazer um mapeamento mais preciso da real situação financeira dos negócios.

"Olhamos para a tesouraria do banco, e vimos que havia algo como 20 milhões de reais emprestados para clientes corporativos do agronegócio. Decidimos, então, criar uma 'mini-tesouraria' de crédito agro para o nosso fundo, e fomos a mercado vender essa ideia", disse Zambolin.

Outra vantagem é a possibilidade de estruturar operações mais adequadas para cada cliente. O gestor do BTG lembra que os CRA envolvem, em geral, projetos de maior prazo, e que muitas vezes as empresas do agro precisam de financiamento em ciclos mais curtos. No Fiagro do BTG, há títulos com vencimento em 6 meses e que oferecem retornos bastante atrativos, por exemplo.

A agilidade da carteira permite, também, que os gestores do BTG naveguem pelos ciclos econômicos com mais facilidade. Zambolin lembra que as empresas do agro são bastante sensíveis a ciclos de preço, e que os últimos tempos de bonança e pouca inadimplência não vão durar para sempre.

Por outro lado, o fato de o BTAG11 ter sido estruturado como um FIDC faz com que ele só seja acessado por investidores qualificados (que têm mais de 1 milhão de reais investidos ou que têm certificação na área financeira).

A CVM prepara uma mudança de norma para permitir que o pequeno investidor também possa acessar os FIDC, mas enquanto a novidade não sai, o trabalho dos gestores do BTAG11 é o de preparar o terreno para os novos potenciais cotistas.

"Vejo com bons olhos essa abertura, porque não só aumentaria a demanda pelo fundo, como também democratizaria um tipo de estrutura mais sofisticada, que o público comum ainda não tem acesso", defendeu Zambolin, do BTG.

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