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AZ Quest segue otimista com Magalu mesmo após alta de 45.000% em 5 anos

Alexandre Silverio, sócio da gestora, ignora rotação de posições adotada por investidores e mantém parte significativa do portfólio em ações de e-commerce

Alexandre Silverio: executivo-chefe de Investimentos (CIO) e gestor de ações da AZ Quest (AzQuest/Divulgação)

Alexandre Silverio: executivo-chefe de Investimentos (CIO) e gestor de ações da AZ Quest (AzQuest/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 24 de novembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 24 de novembro de 2020 às 10h16.

Beneficiadas pelas medidas de isolamento social que impulsionaram as vendas online, as ações de empresas de e-commerce têm sido as mais atingidas pela rotação de posições que acompanhm cada notícia sobre avanços em vacina contra o coronavírus. Mas ainda que parte do mercado já faça ajustes para o período pós-pandemia, a gestora AZ Quest segue confiante com as empresas de varejo digital, em especial com o Magazine Luiza.

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Com investimento no Magalu desde 2017, a gestora continua a acreditar na capacidade da empresa de seguir gerando valor, mesmo após ter subido cerca de 45.000% desde 2016. "A Magazine Luiza foi a empresa que mais conseguiu se reinventar nos últimos anos e, não à toa, foi uma das maiores altas da bolsa", disse Alexandre Silverio, executivo-chefe de Investimentos (CIO) e gestor de ações da AZ Quest, em entrevista à EXAME Invest. "Temos outras grandes empresas que estão fazendo caminho parecido. Mas o Magazine está em outro patamar", afirma.

Mesmo que o múltiplo que mede o preço da ação pelo lucro da empresa por ação (PL) seja um dos maiores da bolsa, já tendo superado a marca de 400x, o gestor afirma que olhar apenas para indicadores como esse pode ser insuficiente.  "Tem que olhar para a transformação que a empresa está fazendo e a capacidade de gerar lucro e retorno para o acionista. E nós acreditamos que esse crescimento e essa capacidade de adaptação no novo varejo vai continuar existindo."

Além das posições em e-commerce, a gestora também mantém parcela significativa de sua carteira em papéis da Vale. "O minério de ferro a 125 dólares dá uma margem de segurança gigantesca." Segundo ele, a empresa seguirá barata mesmo se o minério apresentar uma forte desvalorização. "Ou seja, ela é uma companhia que hoje está muito descontada", comenta.

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(BTG Pactual Digital/Divulgação)

Silverio também acredita que, de forma geral, o cenário é positivo para o mercado de ações e que o Ibovespa pode voltar aos 120 mil pontos caso o país mantenha sob controle o quadro fiscal. "A partir do momento que o Congresso, com a orientação do Executivo, tiver compromisso de seguir uma agenda, conseguiremos embarcar em um cenário positivo. Nossa previsão para ao PIB do ano que vem, por exemplo, é de crescimento de 3,6%, o que enseja uma retomada do circulo virtuoso." Confira a entrevista.

O momento está favorável para investir na bolsa?

Sim, por alguns motivos, mas requer alguma atenção. Nós vivemos em um ambiente global de altíssima liquidez, com estímulos monetários e fiscais que permitiriam que os mercados vislumbrassem uma suavização da queda do cenário macroeconômico -- e esse ambiente é muito propício para tomada de risco. Mas mais importante que isso é que, se o custo do dinheiro está barato, o retorno requerido para um investimento também cai.

A perspectiva também é favorável quando se olha para a situação das empresas listadas?

As empresas listadas na bolsa estão mostrando resultados melhores do que o resto da economia e melhores do que se previa. Isso se dá pela vantagem competitiva que essas grandes empresas têm em relação às pequenas e médias. É o aumento da desigualdade corporativa. Isso tem um efeito macroeconômico nocivo de longo prazo, mas é um dado da realidade. Empresas que têm acesso a crédito e emissão de ações estão sendo capazes de fazer investimentos, manter os negócios funcionando, se consolidarem e ganharem cotas de mercado. Isso torna o ambiente micro muito favorável para o investimento em bolsa.

Temos uma combinação de custo de oportunidade baixo com empresas listadas saudáveis e boas perspectivas de gerar retorno para o acionista. Claro que isso tem que estar acompanhado do valor justo para a empresa em determinado momento. É esse o nosso objetivo: buscar teses de investimento que justifiquem os preços atuais e o potencial de valorização.

Notícias de avanços no desenvolvimento de vacinas tem despertado uma rotação de posições para ações de empresas que mais se prejudicaram com a pandemia. Esse movimento ainda vai perdurar por algum tempo? Vocês estão montando posições para aproveitá-lo?

Tentamos evitar tratar esse assunto como de médio ou longo prazo. Ou seja, continuamos gostando de empresa de e-commerce, das nossas teses de concentração de mercado e de exportadoras de minério de ferro, como a Vale. Tentamos evitar cair na tentação de mexer significativamente a carteira em virtude de um movimento de rotação. Temos muitas incertezas no que diz respeito à normalização (da atividade econômica). O mercado mexe muito rápido, mas nossas teses de médio e longo prazo sempre prevalecem na hora de montar nosso portfólio.

As vendas com e-commerce dispararam durante a pandemia. O senhor acredita que esse setor vai seguir entregando bons resultados após a pandemia?

Não tenho dúvida. Continuamos muito animado com esse setor, que é um dos mais representativos da nossa carteira. Gostamos muito de Magazine Luiza (MGLU3). Ainda que tenhamos um pouco de exposição a Mercado Livre e B2W (BTOW3), a nossa preferência é por Magazine Luiza. Nós começamos a investir no Magazine Luiza em 2017. Não foi quando estava largada, já tinha subido bastante quando compramos. Mas nós acreditávamos em algumas coisas que estavam acontecendo no Magalu. O Magazine Luiza se transformou em uma empresa (com varejo digital e físico) integrado há muito tempo. Ela está muito à frente em relação às outras, porque entendeu que o varejo hoje é único, que contempla o físico e o digital.

A empresa hoje tem um dos maiores múltiplos da bolsa, razão que faz muitos investidores a considerarem cara. O que leva o senhor a crer que continua sendo um bom investimento?

Mesmo antes da pandemia, sempre errávamos o valuation da empresa porque colocávamos para baixo o crescimento. Hoje a empresa é muito mais um marketplace e caminha para ser um superapp. Não adianta olhar para um múltiplo de lucro agora. Tem que olhar para a transformação que a empresa está fazendo e a capacidade de gerar lucro e retorno para o acionista. E nós acreditamos que esse crescimento e essa capacidade de adaptação no novo varejo vai continuar existindo.

Sempre fica a sensação de "será que subiu demais?", "será que vou rotacionar?". Mas tem que entender qual é a estratégia e a capacidade de continuar crescendo. E estamos muito seguros que a tese do e-commerce como um todo -- claro, foi muito acelerado pela pandemia -- continua de pé e que o Magazine Luiza vai ser uma das grandes vencedoras desse processo.

O senhor diria que o Magazine Luiza é a empresa mais bem administrada da bolsa?

O Magazine Luiza foi a empresa que conseguiu mais se reinventar nos últimos anos -- e não à toa foi uma das maiores altas da bolsa dos últimos cinco anos. A capacidade de reinvenção dela é única. Temos outras grandes empresas que estão fazendo caminho parecido. Não dá para não citar WEG ou Natura, mas o Magazine está em outro patamar.

O senhor disse que está animado com o cenário para o minério de ferro e com a Vale, mas e o petróleo e a Petrobras?

A Petrobras tem uma história micro muito, muito boa. A empresa está com uma agenda de desalavancagem que parece muito positiva e o trabalho está sendo feito mesmo em um cenário de estresse, com o petróleo caindo para patamares incríveis. O petróleo cotado entre 30 dólares e 40 dólares não é um patamar maravilhoso para a Petrobras, mas é suficiente para ela continuar nessa trajetória. É óbvio que não é uma margem de segurança excepcional.

Eu diria que 40 dólares está bastante razoável, até acima do que esperávamos um tempo atrás. Por outro lado, havia uma preocupação de que a vitória de Joe Biden trouxesse a possibilidade de uma retomada do acordo nuclear com o Irã, o que poderia ensejar algum tipo de retomada de oferta de petróleo, com retirada de sanções. Está cedo. Mas tudo indica que o cenário geopolítico será mais brando na região.

A reação disso para o preço do petróleo vai depender de uma série de variáveis: a demanda, como essa possível oferta será compensada, por exemplo, com a saída de produtores de xisto ou com a redução de produção por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). A tese do petróleo é dependente de muitas variáveis de difícil controle. Por isso, preferimos a tese do minério, independentemente da parte micro da Petrobras.

Por que o senhor está otimista com a Vale?

O minério de ferro está a 125 dólares, o que dá uma margem de segurança gigantesca para a Vale. A parte micro da Vale também vai muito bem. A empresa trabalhou na adequação de processos de segurança, na parte ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) e tem capacidade de continuar explorando o mercado chinês, que é muito demandante.

Mas, ao contrário das petrolíferas que lidariam com uma margem muito apertada se o preço do petróleo cair de 40 dólares para 30 dólares, se o minério cair de 125 dólares para 80 dólares, ainda tenho uma razoável convicção de que a Vale vai seguir barata. Ou seja, ela é uma companhia que hoje está muito descontada e ainda estará descontada se o minério tiver uma realização de preço, que seria até esperada. Então, ainda que a tese da Petrobras seja interessante, temos a preferência por Vale.

Qual é o nível de risco da segunda onda do coronavírus para o mercado?

Nós ficamos um pouco impressionados com a velocidade da segunda onda na Europa. Mas o impacto econômico vem sendo menor que o da primeira onda. Houve algumas restrições de mobilidade, mas muito longe do que foi na primeira onda. Isso deve ser encarado com cuidado, mas não a ponto de ter uma revisão enorme da perspectiva de crescimento para o ano que vem.

O que me preocupa é a posição do Brasil. Os outros países tiveram recursos para injetar e ainda têm espaço para continuar combatendo a segunda onda com estímulos fiscais. No Brasil, nós gastamos muito na primeira onda. Isso evitou uma queda maior do PIB, mas nos colocou em uma posição mais frágil do ponto de vista fiscal. Se vier uma segunda onda mais forte, temos muito menos espaço do que tínhamos antes. O próprio ministro Paulo Guedes disse que o auxílio emergencial poderia ser prorrogado em caso de uma segunda onda.

Isso poderia fazer o governo furar o teto de gastos? Qual é o tamanho do risco fiscal?

O teto de gastos era a grande questão por trás da parte fiscal. Mas a questão fiscal deixou de ser só o teto de gastos. O teto de gastos é um compromisso constitucional que temos. Mas é muito mais importante o compromisso com a trajetória fiscal. Isso passa por algumas coisas, como agenda de reformas e a nossa capacidade de crescer. E para fazer o PIB crescer sem espaço de investimento público tem que buscar o investimento privado, melhorar as condições para o consumo das famílias e dar confiança para haver a retomada do mercado de trabalho, gerando renda e consumo.

A discussão sobre se vamos estourar ou não o teto não devia nem ser colocada no debate. O que deveria ser colocado é como nós melhoramos nossa capacidade de investimento para, junto com o controle de gastos, fazer com que o Brasil entre em uma trajetória fiscal que retroalimente o circulo virtuoso de confiança, investimento e consumo. Precisamos de uma agenda. A partir do momento que o Congresso, com a orientação do Executivo, tiver compromisso de seguir uma agenda, conseguiremos embarcar em um cenário positivo. Nossa previsão para ao PIB do ano que vem, por exemplo, é de crescimento de 3,6%, o que enseja uma retomada do circulo virtuoso.

Até onde o Ibovespa tem espaço para subir no próximo ano caso essas questões sejam endereçadas?

Eu vejo um cenário em que uma parcela significativa das companhias abertas do ano que vem tenha lucros muito próximos dos apresentados em 2019. Algumas companhias vão ter lucros muito maiores. Se isso acontecer e a questão fiscal ficar sob controle, eu imagino que o Ibovespa consiga retomar o nível de 120 mil pontos durante o ano de 2021. Agora, isso tudo tem que estar colocado. Com a parte micro das empresas, estou muito tranquilo. As companhias realmente fizeram seu dever de casa, conseguiram sobreviver, captaram recursos e estão segurando posições de mercado.

O dólar está em um valor justo?

O ministro Paulo Guedes tem dito muito sobre um novo equilíbrio, de dólar um pouco mais alto e juro baixo. Tenho opinião um pouco parecida. É uma nova realidade. Se olharmos meramente pelo fundamento de transações concorrentes e balanços de pagamentos, eu diria que o real está mais desvalorizado do que deveria.

Mas estamos vendo uma situação diferente. O real sempre foi uma moeda de carrego, que trazia investimentos para o Brasil para se aproveitar dos juros altos. Hoje o Brasil não é um país de juros atrativos. O Brasil deveria ser um país para atrair investimentos para infraestrutura, privatização -- e nós temos muita coisa para fazer. Porém a incerteza fiscal e os juros baixos devem manter o real desvalorizado por algum tempo.

Se as condições não mudarem, o dólar só vai para 6 reais se o fiscal desancorar e só vai para 4,50 reais se o governo endereçar as reformas e se a demanda de risco por mercados emergentes continuar. Não acho que vamos para uma desancorarem fiscal, mas também não há sinais de que vamos embarcar em uma agenda ultra-reformista. Por isso, o mercado fica meio preso entre 5,20 reais 5,60 reais.

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