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Análise: o ‘porfólio do fim do mundo’ não pode acreditar no fim do mundo

JGP, Opportunity e Kapitalo discutiram o impacto da inflação nos investimentos e como os gestores de países desenvolvidos enfrentamum problema que é antigo para o Brasil

Investidor: como agir diante do medo de perder poder de compra? Enquanto alguns se digladiam porque os multimercados não superaram o CDI em determinados horizontes (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Investidor: como agir diante do medo de perder poder de compra? Enquanto alguns se digladiam porque os multimercados não superaram o CDI em determinados horizontes (Michael Nagle/Bloomberg via/Getty Images)

Juliana Machado*

Juliana Machado*

Publicado em 20 de abril de 2022 às 13h02.

Não é sempre que podemos ouvir JGP, Opportunity e Kapitalo no mesmo fórum, discutindo o impacto da inflação nos investimentos e como os gestores desses lugares enfrentam esse que é um problema antigo para o Brasil, mas mais severo para os países desenvolvidos hoje. Por esse motivo, quando as três casas apontam para o mesmo risco, talvez o pequeno investidor possa aproveitar para aprender algo para o seu portfólio pessoal. Quem assistiu ontem à live do BTG Atualidades com a participação das três gestoras certamente saiu com um diagnóstico: o mundo vai conviver com preços maiores e dinheiro mais caro. Isso inclui eu, você e um cidadão americano que nunca viu o CPI (inflação americana) chegar ao maior nível desde 1981, em 8,5% em 12 meses encerrados em março.

Como agir diante do medo de perder poder de compra? Enquanto alguns se digladiam porque os multimercados não superaram o CDI em determinados horizontes, lembro-me que o ganho real do investidor – ou seja, o que supera a inflação – é o que deveria nortear a alocação diversificada de uma carteira de investimentos. E esse trabalho ficará mais duro se, como indicaram os gestores Marcos Mollica (Opportunity), Bruno Cordeiro (Kapitalo) e Evandro Mota (JGP), a inflação e o juro ficarem estruturalmente maiores no Brasil e no mundo a partir de agora. O que faz crer nessa mudança de patamar é a própria reconfiguração geopolítica, que vai forçar países a criarem novas relações comerciais com parceiros mais afinados em termos ideológicos e culturais, mas não tão eficientes do ponto de vista de negócios.

Em um período de pós-pandemia, traumático pelos seus efeitos sanitários e sociais, guerra no Leste Europeu, encarecimento do custo de vida pela alta da inflação e, consequentemente, dos juros, os investidores podem se perguntar o que fazer com seus recursos. Fugir para as montanhas, talvez?

Existe um caminho para construir o “portfólio do fim do mundo”: não acreditar no fim do mundo. Tão simples quanto isso. O momento é único e não comparável a crises como em 2008, quando o maior problema foi gerado no mercado financeiro. Mas o mundo é cíclico e, para viver nele, precisamos equilibrar os pratos. É exatamente por isso que a diversificação – e os multimercados, renegados até o ano passado – precisam continuar como grande foco do investidor. Ao invés de se perguntar se é hora de colocar mais dólar na carteira ou comprar mais ações ou entrar em produtos de crédito, pergunte-se se a sua carteira está adequada ao seu 1) perfil e 2) objetivo. O restante das coisas vai girar em torno disso.

É natural que comprar uma ação no seu pico histórico implique em tolerar eventuais correções no processo, sobretudo se o papel estiver caro para o que consideramos “valor justo”. O mesmo vale para entrar em um produto que está no seu piso histórico e esteja “descontado”, ou seja, com grande chance de alta. Mas se você não tem um fundo de crédito na carteira ou renega o poder multiplicador dos fundos de ações, de que adianta tentar acertar o momento?

O momento de resolver um problema é quando identificamos o problema. Vale para a vida, vale para os investimentos.

*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na Exame e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores.

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