Painel de cotações da B3 (Germano Lüders/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de março de 2021 às 07h45.
Última atualização em 8 de março de 2021 às 09h25.
A semana que passou deixou investidores e analistas em choque com a rápida guinada em questão de 48 horas. Na quarta-feira, 3, o Ibovespa chegou a bater na casa de 107.600 pontos a pouco mais de uma hora do fechamento, o que naquele momento levaria o índice ao menos patamar em mais de três meses, desde o fim de novembro.
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Mas o principal índice da bolsa brasileira engatou um rali na hora que faltava e depois emendou duas altas seguidas para fechar o pregão na sexta-feira aos 115.202,23 pontos, com uma forte valorização de 4,7% na semana.
Veja a seguir 3 razões apontadas por analistas para explicar a reviravolta em período tão curto de tempo. E o que esperar na próxima semana.
Na terça-feira, 2, lideranças partidárias expressaram apoio à proposta do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) de excluir o Bolsa Família e outros programas sociais dos gatilhos previstos na PEC Emergencial. O objetivo é que os gatilhos sejam acionados quando as despesas atingirem o equivalente a 95% das receitas, para conter o aumento de gastos.
Nos bastidores, ganhava força a ideia de excluir o Bolsa Família do próprio Teto de Gastos, a lei que coloca um limite para o aumento de despesas do governo a cada ano.
Na quarta à tarde, por meio de post em rede social e declarações no Congresso, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse que não havia possibilidade de excluir o Bolsa Família das regras que disciplinam os gastos do governo.
Chamou as discussões de "especulações" e afirmou que Câmara e Senado estavam comprometidos com as regras. E isso causou a reviravolta antes do fim do pregão.
Quero deixar claro q/ são infundadas todas as especulações sobre furar o teto. Tanto o Senado quanto a Câmara votarão as PECs sem nenhum risco ao teto de gastos, sem nenhuma excepcionalidade ao teto.Essas especulações não contribuem para o clima de estabilidade e previsibilidade.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) March 3, 2021
A aprovação da proposta de emenda à Constituição pelo Senado em termos próximos ao que defendia o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sem as brechas que chegaram a ser cogitadas, teve um peso que vai além da importância da medida em si.
"A aprovação foi um sinal importante de compromisso com a responsabilidade fiscal e sugere que o Congresso dá suporte à agenda de reformas da equipe econômica", apontou relatório do Banco Mizuho.
A PEC Emergencial, por um lado, abre caminho para a volta do auxílio emergencial: permite um gasto de até 44 bilhões de reais com o seu pagamento sem que isso interfira no volume de despesas do Teto dos Gastos. Por outro, coloca esse limite para os gastos com o programa e cria os gatilhos para evitar um descontrole das despesas.
A PEC vai agora para a Câmara, onde Lira sinalizou intenção de colocá-la em votação já na próxima semana.
"A PEC foi aprovada da melhor forma possível e não se espera grandes ruídos na Câmara, já que passou em dois turnos no Senado. O presidente da Câmara, Arthur Lira, tem falado em prol da PEC Emergencial. Por isso o mercado teve uma guinada positiva", disse Luis Mollo, analista da EXAME Invest Pro, na live diária Abertura de Mercado da sexta, 5.
Na sexta-feira pela manhã, foram conhecidos os dados do mercado de trabalho na economia americana em fevereiro. Trata-se do principal indicador observado por analistas, uma vez que sinaliza a força atividade econômica e baliza as decisões do Federal Reserve, o Fed, o banco central americano. E os dados surpreenderam positivamente.
Houve a criação líquida (vagas novas menos as fechadas) de 379.000 empregos no mês passado, quase o dobro das projeções médias do mercado. Os três principais índices de ações fecharam a sexta com alta acima de 1,5%, encobrindo no dia as preocupações com o aumento dos juros de longo prazo, que voltaram a bater a casa de 1,60% ao ano.
Apesar da melhora nos últimos dias, analistas alertam que a situação da economia brasileira ainda é muito delicada. O agravamento da pandemia, com o aumento do número de casos, internações e mortes, vai impactar negativamente o nível de atividade econômica em março, um choque que não estava precificado na maior parte dos cenários-base.
No front político-econômico em Brasília, por sua vez, as pressões de parlamentares e de alas do governo pela ampliação dos gastos devem continuar, em um contexto em que o ministro Paulo Guedes se mostra cada vez menos decisivo.
Na economia global, os juros de longo prazo nos Estados Unidos continuam pressionados, o que pode afetar negativamente as bolsas no cenário de curto e médio prazo.