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Prepare-se para um futuro no qual seu artista favorito pode ser uma máquina

A música “final” dos Beatles, que será apresentada ao mundo graças ao poder da inteligência artificial, é só mais um capítulo de um futuro no qual humanos não serão os únicos responsáveis pela criatividade

BEIJING, CHINA - AUGUST 18: A humanoid robot featuring singer Teresa Teng Li-Chun sings a song during 2022 World Robot Conference at Beijing Etrong International Exhibition & Convention Center on August 18, 2022 in Beijing, China. The 2022 World Robot Conference kicked off on Thursday in Beijing. (Photo by VCG/VCG via Getty Images) (VCG/VCG/Getty Images)
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 21 de junho de 2023 às 19h40.

Última atualização em 17 de julho de 2023 às 14h01.

*Por Miguel Fernandes

Há alguns dias, ninguém menos que Paul McCartney, disse em uma entrevista à “BBC Radio 4's” que usou a inteligência artificial (IA) para criar o que ele chama de "a última música dos Beatles".

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A tecnologia foi usada para "extrair" a voz de John Lennonde uma antiga demo, permitindo que McCartney completasse a canção.

A música não foi especificamente mencionada, mas provavelmente se trata de uma composição de Lennon de 1978 intitulada como "Now And Then". A canção já foi finalizada, e a música será lançada ainda esse ano.

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E a história de “Now And Then” não é de agora. Em 1995, durante a produção da série Anthology, os Beatles consideraram essa música como uma possível "canção de reunião".

A banda havia tentado gravar algumas vezes, mas nunca dava certo.

E a nova oportunidade surgiu com o documentário Get Back, de Peter Jackson, onde o editor de diálogos Emile de la Rey treinou computadores para reconhecer as vozes dos Beatles e separá-las de ruídos de fundo e até mesmo de seus próprios instrumentos.

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Usando a Inteligência Artificial, eles conseguiram ter a voz de Lennon de uma fita cassete de baixa qualidade e, em seguida, mixar a música como de costume.

No início, Paul ficou um pouco preocupado com algumas aplicações da IA, mas também ficou curioso pelo potencial da tecnologia no campo musical.

A IA, então, foi usada na música que, provavelmente, é a "Now And Then".

A música, e a tecnologia, irão encerrar a trajetória dos Beatles.

Quem diria.

Mas, claro que, não foram só os Beatles que reviveram através da IA.

Charlie Brown Junior foi outro exemplo disso.

O saudoso “Chorão”, graças ao uso da Inteligência Artificial, cantou uma música muito famosa da banda Supercombo, chamada “Piloto Automático".
Nas redes sociais, o hit bombou de visualizações e vem sendo bastante usado em trends do próprio TikTok.

Deepfake musical: o contraponto

Mas, por mais que a Inteligência Artificial venha trazendo muitos artistas queridos de volta e com músicas inéditas, as deepfakes musicais também existem.

Temos um exemplo que aconteceu com a própria Anitta.

A artista foi vítima, em Abril desse ano, de uma suposta entrevista onde ela dizia que lançaria músicas em inglês e que seriam diferentes de tudo o que o mercado norte-americano já havia escutado.

O que era uma grande fake news.

A cantora teve que vir a público desmentir e disse que toda aquela entrevista foi, de fato, gerada por Inteligência Artificial.

Outro bom exemplo sobre o deepfake na indústria da música, é o comunicado recente do Grammy Awards.

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Eles proibiram recentemente em suas premiações, músicas sintéticas, ou, melhor dizendo, músicas criadas exclusivamente por Inteligência Artificial.

A decisão foi tomada em meio a debates sobre a ética envolvendo a interação entre criatividade e IA.

E, claro, após ouvir algumas críticas de artistas como Nick Cave, que fez uma polêmica afirmação:

“O que o ChatGPT é, nessa situação, é uma replicação como farsa. O ChatGPT pode ser capaz de escrever um discurso, um ensaio, um sermão ou até um obituário, mas não consegue criar uma música genuína. As músicas surgem do sofrimento, o que significa que surgem a partir do desafio complexo da criação interna humana e, tanto quanto sei, os algoritmos não são capazes de sentir.”

Conclusão, no Grammy, os artistas poderão usar a Inteligência Artificial como uma ajuda, mas, para os prêmios, o que vai contar como indispensável será o trabalho e a produção do próprio ser humano.

De um lado, artistas famosos retornando à “vida”.

De outro, grandes músicos criticando o uso da IA na criação de canções.

Ainda assim, temos que admitir que, assim como em toda inovação, as críticas e os elogios vão existir.

E pesquisadores já avaliam, por exemplo, a possibilidade da neurofisiologia e o machine learning em preverem quais músicas farão sucesso, com uma precisão de 97%.

O resultado demonstra que seria possível aplicar dados neurais a uma IA para aumentar substancialmente as chances de prever se um produto será bem recebido pelo mercado alvo.

O estudo completo pode ser lido no site da revista científica Frontiers, se você tiver interesse.

Cabe agora, à indústria musical e aos demais artistas, entenderem e respeitarem o uso responsável dessa tecnologia e usá-la da melhor forma possível.

E a pergunta que fica é:

Será que a IA, em um futuro próximo, será capaz de replicar a emoção e a autenticidade de uma performance humana?

*Miguel é cofundador da Witseed by EXAME (@inventormiguel)

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