Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 21 de junho de 2023 às 19h40.
Última atualização em 17 de julho de 2023 às 14h01.
*Por Miguel Fernandes
Há alguns dias, ninguém menos que Paul McCartney, disse em uma entrevista à “BBC Radio 4's” que usou a inteligência artificial (IA) para criar o que ele chama de "a última música dos Beatles".
A tecnologia foi usada para "extrair" a voz de John Lennon de uma antiga demo, permitindo que McCartney completasse a canção.
A música não foi especificamente mencionada, mas provavelmente se trata de uma composição de Lennon de 1978 intitulada como "Now And Then". A canção já foi finalizada, e a música será lançada ainda esse ano.
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E a história de “Now And Then” não é de agora. Em 1995, durante a produção da série Anthology, os Beatles consideraram essa música como uma possível "canção de reunião".
A banda havia tentado gravar algumas vezes, mas nunca dava certo.
E a nova oportunidade surgiu com o documentário Get Back, de Peter Jackson, onde o editor de diálogos Emile de la Rey treinou computadores para reconhecer as vozes dos Beatles e separá-las de ruídos de fundo e até mesmo de seus próprios instrumentos.
Usando a Inteligência Artificial, eles conseguiram ter a voz de Lennon de uma fita cassete de baixa qualidade e, em seguida, mixar a música como de costume.
No início, Paul ficou um pouco preocupado com algumas aplicações da IA, mas também ficou curioso pelo potencial da tecnologia no campo musical.
A IA, então, foi usada na música que, provavelmente, é a "Now And Then".
A música, e a tecnologia, irão encerrar a trajetória dos Beatles.
Quem diria.
Mas, claro que, não foram só os Beatles que reviveram através da IA.
Charlie Brown Junior foi outro exemplo disso.
O saudoso “Chorão”, graças ao uso da Inteligência Artificial, cantou uma música muito famosa da banda Supercombo, chamada “Piloto Automático".
Nas redes sociais, o hit bombou de visualizações e vem sendo bastante usado em trends do próprio TikTok.
Mas, por mais que a Inteligência Artificial venha trazendo muitos artistas queridos de volta e com músicas inéditas, as deepfakes musicais também existem.
Temos um exemplo que aconteceu com a própria Anitta.
A artista foi vítima, em Abril desse ano, de uma suposta entrevista onde ela dizia que lançaria músicas em inglês e que seriam diferentes de tudo o que o mercado norte-americano já havia escutado.
O que era uma grande fake news.
A cantora teve que vir a público desmentir e disse que toda aquela entrevista foi, de fato, gerada por Inteligência Artificial.
Outro bom exemplo sobre o deepfake na indústria da música, é o comunicado recente do Grammy Awards.
Eles proibiram recentemente em suas premiações, músicas sintéticas, ou, melhor dizendo, músicas criadas exclusivamente por Inteligência Artificial.
A decisão foi tomada em meio a debates sobre a ética envolvendo a interação entre criatividade e IA.
E, claro, após ouvir algumas críticas de artistas como Nick Cave, que fez uma polêmica afirmação:
“O que o ChatGPT é, nessa situação, é uma replicação como farsa. O ChatGPT pode ser capaz de escrever um discurso, um ensaio, um sermão ou até um obituário, mas não consegue criar uma música genuína. As músicas surgem do sofrimento, o que significa que surgem a partir do desafio complexo da criação interna humana e, tanto quanto sei, os algoritmos não são capazes de sentir.”
Conclusão, no Grammy, os artistas poderão usar a Inteligência Artificial como uma ajuda, mas, para os prêmios, o que vai contar como indispensável será o trabalho e a produção do próprio ser humano.
De um lado, artistas famosos retornando à “vida”.
De outro, grandes músicos criticando o uso da IA na criação de canções.
Ainda assim, temos que admitir que, assim como em toda inovação, as críticas e os elogios vão existir.
E pesquisadores já avaliam, por exemplo, a possibilidade da neurofisiologia e o machine learning em preverem quais músicas farão sucesso, com uma precisão de 97%.
O resultado demonstra que seria possível aplicar dados neurais a uma IA para aumentar substancialmente as chances de prever se um produto será bem recebido pelo mercado alvo.
O estudo completo pode ser lido no site da revista científica Frontiers, se você tiver interesse.
Cabe agora, à indústria musical e aos demais artistas, entenderem e respeitarem o uso responsável dessa tecnologia e usá-la da melhor forma possível.
E a pergunta que fica é:
Será que a IA, em um futuro próximo, será capaz de replicar a emoção e a autenticidade de uma performance humana?
*Miguel é cofundador da Witseed by EXAME (@inventormiguel)