Stablecoins: o dólar digital sem fronteiras?
Descubra o que são as stablecoins, suas vantagens e riscos, e como elas podem ser uma excelente alternativa de proteção contra a inflação no Brasil
Redação Exame
Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 11h00.
Nos últimos anos, as stablecoins de dólar se tornaram um dos pilares do mercado de criptomoedas. Combinando a estabilidade de moedas fiduciárias com a eficiência dos blockchains, elas conquistaram espaço em transações globais, aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) e como proteção contra a inflação, especialmente em países com economias fragilizadas, como Argentina e Venezuela.
Os nossos ‘hermanos’ argentinos têm um limite de compra de apenas US$ 200 por mês em dinheiro, o que faz das stablecoins uma alternativa essencial para preservar valor e realizar transações internacionais.
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No Brasil, a popularidade dessas moedas digitais cresce rapidamente, mesmo em meio a discussões regulatórias. Propostas como a do Banco Central, que sugerem a proibição de stablecoins em carteiras de autocustódia, geram debates sobre o futuro desse mercado. Ainda assim, stablecoins como USDT, USDC e DAI já representam uma capitalização de mercado acima dos US$ 200 bilhões.
Mas afinal, o que são stablecoins?
Stablecoins são criptomoedas projetadas para manter um valor estável, como o próprio nome sugere: “stable” (estável) e “coin” (moeda). Elas geralmente estão atreladas a outros ativos, como moedas fiduciárias (dólar ou euro) ou commodities (como o ouro).
Diferentemente de criptomoedas como o bitcoin, que podem apresentar grandes oscilações de preço, as stablecoins oferecem a segurança de um valor fixo, combinada com a rapidez e acessibilidade das transações digitais.
Principais utilidades das stablecoins
- Preservação de valor:alternativa em economias com moedas desvalorizadas.
- Transferências internacionais:mais rápidas e baratas do que métodos tradicionais.
- Investimentos em DeFi:utilizadas em plataformas como Aave para gerar rendimentos atrativos.
- Pagamentos:muitas lojas online e até físicas já aceitam stablecoins como forma de pagamento.
Comparando as 4 principais stablecoins de dólar no mercado
1. USDT (Tether)
O USDT é, de longe, a stablecoin mais utilizada no mercado cripto. Emitida pela Tether Limited, ela desempenha um papel essencial na liquidez global, sendo amplamente aceita em exchanges, plataformas de DeFi e até em pagamentos diretos.
Apesar de sua popularidade, o USDT enfrenta questionamentos sobre a transparência de suas reservas, o que levanta dúvidas entre investidores mais cautelosos.
Controle:emitida pela Tether Limited.
Lastro:supostamente apoiada por dólares e títulos de curto prazo.
Capitalização de mercado:cerca de US$ 83 bilhões (fonte: CoinGecko).
Prós:
• Alta liquidez e aceitação global.
• Boa opção para rendimento em DeFi, com APYs atraentes.
Contras:
• Falta de transparência sobre reservas.
• Possibilidade de congelamento de fundos em casos específicos.
2. USDC (USD Coin)
O USDC é conhecido por sua abordagem transparente e confiável. Criado por um consórcio liderado pela Coinbase e Circle, ele se destaca por oferecer auditorias regulares e reservas completamente respaldadas por ativos líquidos.
Controle:gerenciada pelo consórcio Centre (Coinbase e Circle).
Lastro:totalmente auditado, com reservas em dólares e ativos líquidos.
Capitalização de mercado:aproximadamente US$ 41 bilhões (fonte: CoinGecko).
Prós:
• Transparência elevada.
• Mais segura para quem prioriza confiança.
Contras:
• Possibilidade de congelamento de fundos.
• Liquidez inferior ao USDT em algumas exchanges.
3. USDe (USD E-Money)
O USDe representa um conceito inovador de stablecoin descentralizada, sem controle de uma única entidade. Baseada em ativos digitais e taxas de financiamento, ela oferece rendimentos atraentes no mercado DeFi, mas ainda enfrenta desafios de adoção e volatilidade em seu modelo de lastro.
Controle:emitida por entidades descentralizadas.
Lastro:baseada em ativos digitais e taxas de financiamento de mercados futuros.
Capitalização de mercado:aproximadamente US$ 5,31 bilhões (fonte: CoinGecko).
Prós:
• Decentralização total, sem controle centralizado.
• Rendimento elevado em DeFi, com APYs alcançando até 27%.
• Imune a congelamentos por uma única entidade.
Contras:
• Adoção mais limitada em comparação com USDT e USDC.
• Risco de volatilidade nos ativos de lastro.
4. DAI
O DAI é uma stablecoin descentralizada pioneira, gerida pela MakerDAO. Diferente das moedas centralizadas, o DAI é colateralizado por ativos cripto, o que o torna uma opção única para quem busca liberdade financeira e autonomia.
Essa característica atrai especialmente investidores que valorizam a transparência de contratos inteligentes, mas seu mecanismo complexo pode afastar iniciantes no mercado.
Controle:governada pela MakerDAO.
Lastro:colateralizado por outras criptos e stablecoins.
Capitalização de mercado:US$ 5 bilhões (fonte: CoinGecko).
Prós:
• Totalmente descentralizada.
• Boa para quem busca liberdade financeira.
Contras:
• Mecanismo mais complexo, exigindo maior conhecimento técnico.
• Risco de depeg em mercados instáveis.
O perigo do "depeg" e a lição da LUNA/UST
No universo das stablecoins, o risco de “depeg” — quando uma moeda digital perde sua paridade com o dólar — é uma realidade que não pode ser ignorada. Um dos exemplos mais marcantes ocorreu em 2022, com o colapso da UST, stablecoin algorítmica do blockchain Terra Luna.
Após um ataque especulativo e uma onda de saques em massa, a UST perdeu sua paridade com o dólar, desencadeando um efeito dominó que resultou na perda de bilhões de dólares e deixou um alerta claro: stablecoins precisam de lastros robustos e governança sólida.
A tragédia da Luna trouxe à tona a importância de se diferenciar entre os tipos de stablecoins. Moedas como USDT e USDC, apoiadas por reservas tradicionais e auditáveis, oferecem maior segurança para quem busca estabilidade. Por outro lado, stablecoins descentralizadas, como USDe e DAI, trazem a liberdade de operar sem controle centralizado, mas geralmente apresentam maior volatilidade devido à complexidade de seus mecanismos de lastro.
Escolher a stablecoin certa vai além do rendimento oferecido. É essencial entender os riscos associados e avaliar o nível de segurança, transparência e descentralização que melhor se alinha aos seus objetivos financeiros.
Qual é a melhor stablecoin para você?
A resposta depende do que você está procurando:
Liquidez e aceitação global:o USDT é o mais usado no mercado, perfeito para quem busca facilidade em transações e ampla integração.
Segurança e transparência:o USDC é auditado regularmente e oferece mais confiança para quem prefere estabilidade.
Autonomia e descentralização:o DAI é ideal para quem valoriza liberdade financeira e prefere evitar controle centralizado.
Altos rendimentos no DeFi:o USDe é ótimo para quem quer aproveitar ganhos maiores em plataformas DeFi, mas exige atenção aos riscos de volatilidade.
Dica de mestre: Antes de escolher uma stablecoin, avalie suas prioridades: liquidez, segurança ou rendimento. E nunca invista sem conhecer os riscos de cada tipo de stablecoin.
Por que stablecoins são uma boa alternativa contra a inflação no Brasil?
Com a inflação corroendo o poder de compra do real, as stablecoins surgem como uma solução prática para preservar valor. Atreladas ao dólar americano, essas moedas digitais oferecem uma forma acessível de escapar da desvalorização cambial, permitindo que brasileiros protejam suas economias sem precisar recorrer a métodos tradicionais, como contas em dólar no exterior.
Além disso, a possibilidade de usá-las em investimentos DeFi amplia ainda mais seu potencial, combinando estabilidade com oportunidades de rendimento, algo que o mercado financeiro convencional muitas vezes não consegue oferecer.
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