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LaBitConf exalta bitcoin e discute a próxima grande revolução monetária

Nos últimos dois dias da conferência sobre criptoativos e blockchain, palestrantes convidados exaltaram El Salvador como exemplo global e DeFi se mostrou cada vez mais perto

Painel LaBitConf (Camila Rioja/Divulgação)
GR

Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 19 de novembro de 2021 às 19h40.

por Camila Rioja Arantes*

No início da sociedade, as relações comerciais se davam através do escambo e, ao longo do tempo, as pessoas passaram a usar moedas, como as que ainda usamos hoje. Com as criptomoedas ganhando cada vez mais espaço globalmente, transformando realidades e gerando um impacto social positivo, a reflexão sobre se estamos diante da grande próxima revolução monetária ganha contornos mais definidos.

Na última quinta-feira, a LaBitConf amanheceu com uma reflexão poderosa provocada por Gabriel Kurman, no painel Por que bitcoin. O co-fundador do RSK, uma das plataformas mais seguras do mundo de smart contracts, fez um resgate histórico do termo cypherpunks - movimento ativista criado pela cultura hacker na década de 90 com o objetivo de utilizar a tecnologia como liberdade de expressão através da criptografia - para ressaltar as potencialidades da criptomoeda para a região.

Mais tarde, Max Keiser, famoso comunicador do mundo cripto, também mexeu com as emoções do público em um discurso apaixonado no painel Impressão, dívida e poder ilimitados vs vitcoin. Definindo o BTC como “o maior equalizador do mundo”, ele criticou o controle da liberdade financeira exercida pelos bancos centrais e exaltou o valor das criptomoedas, rasgando notas de dólares no palco.

Ao explicar que o dinheiro em papel é matematicamente programado para perder valor com o passar do tempo, enquanto o bitcoin é matematicamente programado para se valorizar com os anos, firmou “Estamos prestes a ver algo que a humanidade nunca viu antes, na história do nosso dinheiro e na história da nossa espécie. A instituição do bitcoin em El Salvador é o significado de liberdade no século 21”.

E para compartilhar sobre o processo de adoção do bitcoin como moeda no país centro-americano, María Luisa Hayem, Ministra da Economia de El Salvador, também subiu nos palcos da LaBitConf. Em seu painel, ela destacou os principais motivos que tornam El Salvador um país interessante para se investir, como: matriz energética verde com mais de 80% de energia renovável, posição geográfica de fácil acesso para outros países e possuir as melhores políticas de incentivo da região.

A recente adoção do bitcoin como oferta legal em El Salvador também deu os moldes ao meu painel, Serviços e ferramentas para governos e empresas. Eu, ao lado de Giuliana Berchicci, Justin Newton e Juan Pablo Moreno, analisamos os desafios encontrados em regiões como a América Latina para a implementação do blockchain e criptomoedas. A falta de conhecimento por parte da população sobre o assunto torna a adaptação do sistema financeiro ao cripto mais desafiadora.

Existem dois ângulos por onde é possível analisarmos isso: o institucional e o da comunidade. Para o primeiro, a transição pode fluir sem muitas barreiras; mas para o segundo, é uma discussão muito relevante. As pessoas precisam não só conhecer, como também confiar que as criptomoedas podem funcionar como oferta legal e serem usadas no cotidiano. E para garantir uma transição suave, o apoio de governos e empresas é essencial.

Inclusive, para os governos, a adoção do bitcoin pode ser um meio de mudar o sistema e acabar com a corrupção. Foi essa reflexão que Stephan Livera trouxe ao painel "Bitcoin como renda universal e motor de desenvolvimento social e econômico", ao lado de Stacy Herbert, Josef Tetek e Aaron Koenig. Herbert, uma das investidoras pioneiras em criptomoedas no mundo, ainda fez referência ao criador do bitcoin - conhecido pelo pseudônimo de Satoshi Nakamoto - e reforçou o poder desse criptoativo: “Você não precisa de muito bitcoin. Você precisa de um Satoshi. Um!”.

Hoje, na sexta-feira, no último dia de palestras da LaBitConf, a discussão se expandiu para as exchanges e foi a vez de Pablo Gonzales, co-founder da gigante Bitso, falar no painel Estratégias das exchanges para adotar as inovações cripto, ao lado de Adrián Díaz, da Mexo, e Igor Telyatnikov, da Alphapoint. Os três começaram contando sobre a sensação que tiveram ao usar bitcoin pela primeira vez. Para Gonzales, a primeira experiência foi enviando a criptomoeda para um amigo em Montreal: “aquele momento para mim foi mágico. Me senti forte. Senti que fazia parte de algo maior”.

Ainda reforçaram a importância das exchanges em ser a ponte de mudança entre DeFi e CeFi, que conecta as necessidades dos consumidores com a tecnologia disponível - e, para isso, é necessário entender a fundo como as pessoas podem aproveitar essa tecnologia, como é a realidade socioeconômica de cada um e quais são, realmente, suas necessidades. “Os salvadorenhos estão construindo a revolução do bitcoin e temos que aprender com tudo de incrível que está acontecendo aqui”, completou o criador da Bitso.

Para encerrar a semana, a conferência também trouxe outros painéis muito interessantes, como é o caso do NFTs e a indústria gamer, que explorou um mercado efervescente. Depois de três dias de troca intensa em 45 palestras, com certeza o mundo cripto e blockchain só tende a se fortalecer cada vez mais, e já começamos uma revolução financeira. Foi um prazer imenso viver tantas experiências diferentes, conhecer grandes personalidades de vários países e poder trazer as novidades da maior conferência de blockchain e criptomoedas da América Latina para o Future of Money. Obrigada por terem me acompanhado até aqui e até a próxima!

*Camila Rioja Arantes é head da cLabs no Brasil e em El Salvador e trabalha na Celo. É membro do Conselho Editorial do MIT Computational Law Report. Advogada há mais de 10 anos, é pós-graduada em Economics for Competition Law pela King’s College London. Camila também é co-organizadora do São Paulo Legal Hackers e atuou como mentora no HackBrazil, uma iniciativa liderada por Harvard e MIT, assim como jurada do Inclusive Innovation Challenge do MIT. Já trabalhou em casos como a Operação Lava Jato, Cartel de Trem e Metrô e a fusão de US$ 135 bilhões da DowDupont. Camila também acumula passagens pelo Insper, FAAP, Escola Paulista de Direito e University College London como professora convidada.

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