Bitcoin e Apple: qual a rentabilidade de dois dos maiores ativos do mundo?
Comparação entre a maior criptomoeda e a ação mais negociada do mundo mostras curiosidades sobre os tipos de investimento, mas analista aposta em sucesso do bitcoin no longo prazo
Gabriel Marques
Publicado em 13 de maio de 2022 às 08h10.
Maior criptomoeda do mundo, o bitcoin (BTC) é alvo de diversos investidores por causa de suas características únicas e, claro, por sua impressionante valorização nos últimos anos – desde 2015 o ativo subiu mais de 8.000%. Apesar dos números impressionantes, atualmente o mercado cripto ainda traz consigo uma grande correlação com outro mercado de risco: o de ações, em especial de empresas de tecnologia. E a pergunta que fica é: o bitcoin continua superando esse outro investimento? Como está o investimento na criptomoeda, em relação a quem preferiu apostar em empresas listadas em bolsa?
Entre as empresas negociadas nas bolsas tradicionais, a Apple (AAPL) se destaca como aquela com maior valor de mercado. Em uma referência histórica, desde a volta de seu fundador Steve Jobs à companhia, em 1997, o papel se valorizou mais de 94.000%. Por outro lado, analisando apenas os últimos sete anos, como no caso acima sobre o bitcoin, os papeis da Apple subiram cerca de 600% - não é de se jogar fora, claro, mas ainda longe do desempenho do principal ativo digital do mundo.
Atualmente, a situação é um pouco mais complicada - e ruim para ambos: os dois ativos perderam valor em 2022: o BTC caiu 37% e a Apple perdeu 22% do seu valor. Para o analista Felipe Medeiros, no entanto, apesar do desempenho pior neste ano, “o bitcoin ainda está no início da sua adoção e pode trazer retornos maiores”.
Criado em 2008 pelo anônimo Satoshi Nakamoto, o BTC se tornou a maior criptomoeda do mundo, atingindo uma máxima histórica de quase US$ 70.000 em 2021. Para alguns especialistas, o ativo digital é visto até como uma reserva de valor do futuro, similar ao papel que nas últimas décadas coube ao ouro.
Apesar disso, seu desempenho nos períodos mais recentes não foi animador: embora acumule uma alta de 1.335% nos últimos cinco anos – contra 263% da AAPL -, quem investiu na moeda digital um ano atrás perdeu 40,18% do seu dinheiro, número similar ao se tivesse investido no primeiro dia de 2022, sofrendo uma desvalorização de 37,97%.
De acordo com Medeiros, os movimentos de queda eram esperados, já que o momento é de apreensão com o aumento de juros norte-americanos como forma de combate à inflação, além da guerra entre Rússia e Ucrânia e o lockdown na China para conter novos casos de Covid-19. “Todos os ativos de risco devem sofrer, e cripto não será diferente. No curto e médio prazo não devemos ter recuperação”, alertou Medeiros, que é sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, à EXAME.
Fundada em 1976 por Steve Jobs e Steve Wozniak, a Apple teve imenso sucesso comercial nos anos 80, muito em conta do sucesso do Apple II, lançado no final dos anos 1970, mas que teve sucessivas novas versões durante próxima década, enquanto produtos revolucionários como o Lisa e o Macintosh (o primeiro computador realmente pessoal da história) venderam aquém do esperado, resultando na demissão de Jobs da companhia.
Embora tenha conseguido manter sua popularidade até o início dos anos 1990, a rotatividade de CEOs e linhas de produtos sem foco levaram uma das maiores empresas do Vale do Silício à quase falência. Quando Gil Amelio convidou Jobs para ser consultor da Apple após a aquisição da NeXT, analistas afirmavam que a empresa estava a três meses da falência. Com o seu fundador de volta ao comando, a Apple viu uma valorização de 500%, na esteira de sucessos como o iMac e o iBook.
Nada, porém, comparado ao que aconteceria na década seguinte: iPod, iPhone, iPad e MacBook Air foram lançados sob a segunda gestão de Jobs, mudando o mundo e o bolso dos investidores – o papel se valorizou mais de 1.000% entre 2000 e 2011, quando o CEO se afastou para cuidar de um câncer. Na gestão de Tim Cook, substituto de Jobs, mais uma impressionante valorização de mais de 900%, com lucros recorde, novos produtos como o Apple Watch e novas linhas de negócio.
De acordo com Bernardo Carneiro, analista do BTG Pactual, as ações da Apple “estão na carteira recomendada do banco pelo excelente histórico de resultados, boas perspectivas de crescimento, forte geração de caixa e um balanço patrimonial bastante saudável”. Ele chamou a atenção para os resultados do último trimestre da companhia, com uma forte receita de US$ 97,3 bilhões, alta de 8,6% contra o ano anterior. Somente com as vendas do iPhone, por exemplo, a gigante de Cupertino gerou mais de US$ 50 bilhões.
“A Apple é uma empresa com receita crescente e produtos cada vez melhores, logo, é um investimento mais seguro, que não irá sofrer tanto com crises como a atual – sempre vai se recuperar no longo prazo. Já o BTC oferece mais risco, visto que sua principal tese – a de reserva de valor – ainda precisa ser provada. Porém, com riscos maiores vêm prêmios maiores: o bitcoin ainda está no início da sua adoção e no logo prazo pode trazer retornos maiores”, acrescentou Medeiros.
Mas se cripto pode oferecer retornos maiores no longo prazo, como se explica a correlação entre as bolsas e o bitcoin? Segundo Medeiros, a adoção institucional é a grande culpada por trás disso. “Uma empresa de auditoria e gestão de risco vai construir um de seus produtos no blockchain Avalanche, a produtora de games Krafton fechou um contrato com a Solana para produzir e dar suporte para a criação de games e produtos para eles dentro do blockchain”, disse, exemplificando sobre empresas que enxergam a nova tecnologia como forma de expandir seus negócios. “Hoje, instituições financeiras como a BlackRock e a Fidelity já oferecem aos seus clientes a possibilidade de negociar bitcoin, ether e outros ativos em sua plataforma”, finaliza.
A comparação entre os dois ativos, é verdade, não faz muito sentido técnico - seria como comparar bananas com maçãs, com o perdão do trocadilho -, já que estão em diferentes setores, com diferentes níveis de maturidade e várias outras diferenças. Mas, na hora de escolher em qual ativo apostar, é importante lembrar que ganho passado não garante lucro futuro e, como quaisquer investimentos, é importante saber o objetivo e o porquê de determinada exposição, seja em bitcoin, seja em ações da Apple, ou em ambos.
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