Bitcoin contraria expectativas e apaga ganhos após Fed aumentar taxa de juros nos EUA
Banco central norte-americano anuncia redução em postura agressiva contra a inflação no país; expectativa era que medida poderia beneficiar cotação do bitcoin
Mariana Maria Silva
Publicado em 14 de dezembro de 2022 às 17h15.
Última atualização em 15 de dezembro de 2022 às 14h23.
Em dia de superquarta, o bitcoin e as principais criptomoedas apagam ganhos dos últimos dias. A expectativa era que o otimismo de investidores aumentasse ainda mais com a confirmação de um alívio monetário nos Estados Unidos. No entanto, a notícia não teve o impacto esperado na tarde desta quarta-feira, 14.
A taxa de juros norte-americana subiu 0,50%, indicando uma postura menos agressiva do banco central norte-americano contra a inflação no país, que chegou a bater o recorde dos últimos 40 anos no início de 2022.
“O mercado já contava com o aumento de 0.50% na meta de juros básicos nos EUA, o que realmente se confirmou hoje à tarde. O aumento de hoje marca uma desaceleração no aumento de juros nos EUA em relação aos últimos quatro aumentos em 2022 que foram de 0.75%. Com a elevação de hoje, a meta de juros básicos nos EUA passa a ser uma taxa entre 4.25% e 4.5% ao ano – o maior nível da taxa de juros em 15 anos”, explicou Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad.
Cotado a US$ 17.802, o bitcoin sobe 0,7% nas últimas 24 horas, segundo dados do CoinGecko. No início do dia, este número era significativamente maior. Apenas na última hora, o preço da maior criptomoeda do mundo caiu 0,2%.
Já o ether, criptomoeda nativa da rede Ethereum, é cotada a 1.306, com queda de 0,6% nas últimas 24 horas.
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Historicamente, aumentos agressivos na taxa de juros geram aversão ao risco e prejudicam a cotação de ativos do gênero, como ações e criptomoedas, que passam por um mau momento em 2022. Por isso, ainda se espera que ativos de risco como ações e criptomoedas se beneficiem com o aumento menos agressivo anunciado pelo Fed.
Conforme foi muito especulado por especialistas e investidores, o otimismo gerado pelo aumento menor que os últimos já estava sendo precificado pelo mercado há alguns dias.
“Agora há um estresse, porque essa alta foi precificada antes, e houve um comentário onde se espera que os juros permaneçam altos até 2024. Essa informação gera um leve estresse no mercado, porque o mercado já havia precificado desde que saiu o SPI ontem, o mercado se antecipou a esse anúncio de hoje, ou seja, já estava precificado, e agora há uma leve correção em todos os mercados, inclusive nas criptomoedas”, explicou Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move.
O Índice de Medo e Ganância, que serve para medir o sentimento do mercado cripto e auxiliar em decisões de compra e venda, está em – pontos, sinalizando “medo” por parte de investidores.
Com a próxima reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto dos EUA (FOMC) agendada apenas para fevereiro de 2023, a última decisão monetária do ano abre espaço para que o otimismo possa retornar ao mercado cripto, conforme outros problemas do setor, como a queda da FTX, vão ganhando uma resolução com a prisão do ex-CEO, Sam Bankman-Fried.
“Com isso, com a estabilização dos juros, a gente tende a ter um 2023-2024 levemente mais positivo para os mercados e acredito que uma nova onda de alta, uma nova recuperação e novos topos históricos possam vir em 2025-2026, apenas. Os próximos anos serão para evitar uma possível recessão de mercado, uma possível recessão econômica, que seria pior”, disse Tasso Lago.
Análise técnica, por Lucas Costa*
"O bitcoin tem leve recuperação nas últimas quatro semanas, após a queda expressiva de novembro, já amplamente discutida. O movimento de recuperação se intensificou no dia de ontem com os últimos dados de inflação ao consumidor.
Segundo a equipe de Macro e Estratégia, o CPI de novembro teve uma alta de 0,10% na comparação mensal, uma leitura de 20 bps abaixo do que o mercado esperava. A surpresa vem pelo segundo mês consecutivo. Na leitura anual, o indicador saiu de 7,7% a/a para 7,1% a/a. A leitura do núcleo do CPI (excluindo os bens mais voláteis) teve uma alta abaixo do esperado de 0,20% m/m.
Os dados de inflação abaixo do esperado trouxeram um alívio para o mercado essa semana, ainda que pontual. O gráfico abaixo mostra a reação animadora do S&P500 e do Bitcoin durante o dia de ontem (gráfico de 15 minutos).
O movimento de ontem pode ser visto como algo pontual, apesar de trazer um sentimento melhor do que o da semana anterior. Enquanto o S&P500 estiver em um movimento de queda no gráfico semanal, fica difícil ter um bom cenário para os ativos de risco como o bitcoin. A melhora deve vir no segundo semestre de 2023, com o movimento de corte de taxa de juros nos EUA.
O mês de dezembro começou com uma alta de 5% para o bitcoin, correção ainda tímida depois da queda de aproximadamente 16% no mês de novembro. A tendência é de baixa no médio e curto prazo, mas perdeu força com a superação do último fundo perdido em US$ 17.500.
O movimento de queda não teve continuidade e acompanhamos uma contração de volatilidade, com diminuição do deslocamento do preço, que não forma novos topos, mas também não renova mínimas. O movimento de recuperação pode ganhar força caso a principal cripto volte a trabalhar acima dos US$ 19.100, com objetivo na média móvel de 200 períodos e na retração de Fibonacci em US$ 23.150. O cenário dos prazos maiores é de baixa, mas podemos ter algumas oportunidades no tático, caso o preço forme um fundo mais alto que o anterior."
*Lucas Costa é mestre em administração e economista pela Universidade Federal de Juiz de Fora, atuou como pesquisador acadêmico e professor nas temáticas de blockchain, criptomoedas e comportamento de consumo, sendo um dos fundadores do grupo de pesquisa Blockchain UFJF. Foi operador de câmbio em mesa proprietária com foco em análise técnica, e trader pessoa física em mercado futuro. Atualmente, é analista técnico CNPI do BTG Pactual digital, e apresenta a sala ao vivo de análises de maior audiência do Brasil.
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