Banco Central dos EUA aumenta taxa de juros em 0,75% e criptomoedas dão sinais de recuperação
Anúncio do Fed não parece surpreender investidores, de acordo com especialistas, que comentam a reação das criptomoedas ao aumento de 0,75 p.p
Mariana Maria Silva
Publicado em 15 de junho de 2022 às 16h40.
Última atualização em 15 de junho de 2022 às 19h02.
Como esperado, o Federal Reserve anunciou o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos em 0,75%, o maior dos últimos 28 anos. Apesar de, historicamente, as medidas do banco central norte-americano para conter a inflação recorde no país tenham afetado negativamente o preço das principais criptomoedas, acontece o inverso na tarde desta quarta-feira, 15.
O mercado de criptomoedas movimenta US$ 147 bilhões no momento, enquanto a maioria das principais criptomoedas sobre entre 2 e 12% na última hora, de acordo com dados do CoinGecko.
Cotado em US$ 21.931 no momento, o bitcoin sobe 6% na última hora, embora o movimento de alta não seja o suficiente para recuperar as perdas da maior criptomoeda do mundo. Nas últimas 24 horas, o bitcoin ainda perde 1,3%, e nos últimos 7 dias, 30,2%.
De acordo com especialistas, o fato do aumento na taxa de juros já ter sido algo esperado pelo mercado fez com que a reação das criptomoedas não fosse tão forte. “A decisão do Fed em subir 0,75 p.p foi em linha com o esperado, ou seja, já estava precificada em diversos mercados, inclusive o de cripto. Sendo assim não deverá gerar grande impacto no curto prazo”, afirmou José Arthur, CEO da Coinext.
“A preocupação agora é com a intensificação do cenário de crise econômica mundial, gerado pelo descontrole da pressão inflacionária, aumento da dívida governamental e a contínua elevação das taxas de juros. O agravamento da crise poderá derrubar ainda mais o preço dos ativos, levando a uma nova onda de venda ocasionada pela incerteza ou até mesmo por obrigações contratuais”, acrescentou.
Por outro lado, César Felix, gerente de Customer Experience da NovaDAX, apontou a importância da recente correlação do mercado cripto às finanças tradicionais. “O aumento dos juros nos EUA já era esperado por todos, mas, ultimamente, o mercado cripto está muito atrelado ao mercado financeiro tradicional, algo que antes não acontecida com tanta frequência. Em maio, quando o Fed já havia elevado as taxas de juros, houve um certo otimismo no mercado de criptomoedas e pode ser que isso aconteça novamente, mesmo que temporariamente”, disse.
Haveria, ainda, um espaço interessante para ganhos: “Essas oscilações podem ser benéficas para os traders conhecidos como holders (que não realizam trading diariamente e mantêm os criptoativos por mais tempo), que compram em baixa e vendem em alta. Aí existe um espaço para ganhos”, contou Felix.
Apontada como uma das razões para a queda do bitcoin de US$ 30 mil para a faixa dos US$ 20 mil, Felipe Medeiros, analista e sócio da Quantzed Criptos, defende a tese para justificar a pouca reação da maior criptomoeda do mundo.
“A alta de 0,75% já havia sido precificada no fim da última semana, causando a queda do bitcoin dos US$ 30 mil para os US$ 20 mil. A confirmação trouxe volatilidade durante o anúncio, mas o bitcoin se manteve na faixa dos US$ 20 mil”, disse.
O risco, agora, é uma possível migração para os títulos do tesouro, que se tornam mais rentáveis a cada aumento na taxa de juros. “A alta dos juros tende a criar uma migração de liquidez dos mercados de renda variável para títulos do tesouro americano, que tem o retorno baseado na taxa de juros e são considerados a classe de ativos mais segura do mundo”, afirmou Medeiros.
Nesse caso, o bitcoin e as criptomoedas no geral poderiam sofrer uma fuga ainda maior que outros ativos de risco, de acordo com o analista e sócio da Quantzed Criptos. “O bitcoin e as criptos em geral tem sido sensíveis ao cenário de alta de juros e inflação nos EUA, pois além do impacto direto, existe um alto nível de alavancagem, e as liquidações dessas posições alavancadas têm derrubado ainda mais os preços dos ativos”, explicou.
A CEO da Fidelity Investments, uma gigante do mercado financeiro com US$ 4,5 trilhões sob gestão, não parece estar preocupada com a queda livre que o mercado de criptomoedas vem sofrendo durante a semana. Abigail Johnson afirmou já estar em seu “terceiro inverno cripto”, dando a entender que já está “calejada” e mantém seu otimismo quanto à classe de ativos.
Apesar do otimismo de alguns, o mercado de criptomoedas bateu um novo recorde de pessimismo nesta quarta-feira, 15, de acordo com o Índice de Medo e Ganância. Marcando 7 pontos, a métrica ultrapassa o recorde anterior de 8 pontos e marca uma nova mínima para 2022.
O índice funciona da seguinte forma: quanto menor o número, maior o medo, e quanto maior o número, maior a ganância. Eles podem ser utilizados por investidores na hora de tomar decisões sobre seus investimentos.
O ether, a criptomoeda nativa da rede Ethereum, é cotado a US$ 1.182 e, apesar de ter subido 9,3% na última hora, ainda apresenta queda de 1,4% nas últimas 24 horas, de acordo com dados do CoinGecko. No cenário semanal, a queda é ainda maior, de 35,1%.
Depois do anúncio do Federal Reserve, outras duas criptomoedas entre as 20 maiores apresentam alta na casa dois dois dígitos. São elas: Solana e Avalanche, que sobem 10,6% e 11,8%, respectivamente. Apesar de conseguirem emplacar uma alta diária, as duas moedas também continuam em forte queda no cenário semanal, de 19,6% e 30,9%.
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