Quem é Marcio Freire, surfista brasileiro que morreu em Portugal
Referência nas ondas gigantes, baiano morreu afogado em Nazaré, praticando a modalidade que o deixou conhecido
Agência O Globo
Publicado em 5 de janeiro de 2023 às 19h38.
O mundo do surfe sofreu um baque na tarde desta quinta-feira quando a morte do brasileiro Marcio Freire foi anunciada. Especialista em ondas gigantes, o surfista de 47 anos se afogou ao cair de uma onda na Praia do Norte, na cidade de Nazaré, em Portugal. Conhecido como um dos integrantes do trio " Mad Dog ", o baiano foi uma referência para a modalidade.
Sempre acompanhado dos amigos de Salvador, na Bahia, Danilo Couto e Yuri Soledad, os "Mad Dogs" viraram tema de um documentário lançado em 2015. A tradução é "Cachorros Loucos", e o apelido foi dado por surfistas locais quando os baianos passaram a encarar as ondas gigantes sem coletes salva vidas e sem o auxílio de jet skis no Havaí. Eles remavam em direção ás "Jaws", como são chamadas os enormes tubos que fazem os olhos dos especialistas na modalidade brilharem.
Em uma entrevista para o site da marca Red Bul l, Marcio contou em 2015 sobre a característica que o fez ganhar o apelido.
"Não tínhamos segurança nenhuma. Era pura coragem guiada pela vontade de descer uma onda enorme. Os riscos eram muitos sem uma segurança devida. Se acontecesse algum acidente, seria o fim da jornada. Nada nós forçou a fazer o que fizemos. Era tudo pra nós mesmos, pra nossa satisfação pessoal. Eu por exemplo, nunca tive patrocínio ou dinheiro envolvido na minha jornada", contou o atleta.
Márcio se mudou com os amigos para a cidade de Maui, no Havaí, aos 23 anos, em 1998. Ele havia se profissionalizado como surfista, mas resolveu experimentar a modalidade sem contratos ou competições.
Junto com os outros Mad Dogs, passou a enxergar o surfe como um estilo de vida, e não como uma profissão. Sem patrocínios, trabalhava no setor de serviços para se manter, e já foi lavador de pratos, jardineiro, instrutor de mergulho e guia turístico em passeios de barco.
Em 2007, o trio resolveu encarar as ondas gigantes confiando apenas na habilidade em cima da prancha — principalmente nas remadas que os levariam até os tubos. A prática foi ganhando popularidade e já no início dos anos 2010 começaram a chegar mais praticantes, e a segurança se tornou uma questão. Vieram então os jet skis, que passaram a levar os aventureiros até as Jaws, na prática do tow in.
"É muito bom saber que eu influenciei uma nova geração de surfistas de ondas grandes, surfistas locais do Havaí, que fiz parte da história do surfe. É gratificante, uma sensação boa saber que fiz algo no momento certo, de coração e alma. Terminei não sendo surfista profissional, mas tive destaque e reconhecimento mundial. Olho pra trás e me sinto bem", contou o atleta em 2020 para o Correio 24 horas.
Em 2020, o surfista voltou para a Bahia, afirmando estar com saudades da cultura local. Apesar disso, frequentemente viajava pelo mundo sempre atrás da próxima grande aventura, e usava as redes socias para registrar momentos em cima da prancha, mas também com a família e os amigos. Ele estava passando uma temporada em Portugal, acompanhado por familiares, quando sofreu o acidente que tirou a vida.