ESG

O novo papel das empresas na sociedade — e por que ESG não é moda

Ao longo das próximas semanas, publicaremos uma série de artigos explicando cada um dos aspectos ESG e esperamos esclarecer dúvidas de leitores

Muitas empresas hoje são maiores do que o PIB de vários países, e muitas companhias estão diariamente — e várias vezes ao dia — se relacionando com as pessoas, dentro de suas casas (Hiroshi Watanabe/Getty Images)

Muitas empresas hoje são maiores do que o PIB de vários países, e muitas companhias estão diariamente — e várias vezes ao dia — se relacionando com as pessoas, dentro de suas casas (Hiroshi Watanabe/Getty Images)

Muitas empresas hoje são maiores do que o PIB de vários países, e muitas companhias estão diariamente — e várias vezes ao dia — se relacionando com as pessoas, dentro de suas casas.

Junto com o tamanho e a importância das empresas, vêm também as responsabilidades. Se, no passado, uma empresa deveria estar focada no seu crescimento e na sua lucratividade, hoje o papel delas na sociedade é muito mais amplo.

No passado, aprendemos sobre externalidades, que poderiam ser positivas ou negativas. A poluição era exemplo de externalidade negativa. Hoje, é difícil imaginar esse conceito de externalidade, pois uma empresa tem de “internalizar” — por legislação, princípio ou pressão da sociedade — o que antes era considerado externalidade, além de assumir responsabilidades que antes não eram consideradas suas.

Nesse cenário, vemos o conceito do capitalismo de stakeholder ganhar espaço sobre o capitalismo de Milton Friedman, no qual o único papel social das empresas era aumentar seu lucro.

Junto com a ascensão do capitalismo de stakeholder, escutamos muito falar sobre ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). O mercado está cada vez mais incorporando aspectos ambientais, sociais e de governança em suas análises, e esses parâmetros complementam os financeiros.

O uso de parâmetros ESG nos dá uma visão muito mais ampla das empresas: mostra desde o relacionamento das empresas com seus stakeholders (colaboradores, acionistas, fornecedores, clientes, meio ambiente e comunidade), até como macrotendências (por exemplo, urbanização e uso de energia renovável) impactam setores e empresas; também nos mostra a capacidade das empresas de atrair e reter talentos e de incentivar a inovação.

Mas quais são exatamente os fatores que explicam essa mudança no papel das empresas na sociedade e na forma como olhamos os investimentos?

● A geração dos millennials, que é muito preocupada com o impacto ambiental e social de suas atividades, está entrando no mercado de trabalho, começando a investir e decidindo o que vai consumir.

Para os millennials, propósito é mais importante do que remuneração ao escolher um trabalho; ao consumir, essa geração pensa no impacto social e ambiental do produto que está comprando e, ao investir, quer investir em empresas que tenham um desenvolvimento sustentável — nas quais o crescimento não seja à custa de impacto ambiental e que contribua para o progresso social, como podemos ver na figura abaixo.

Os millennials mais a geração Z devem representar 75% do mercado de trabalho global em 2025. Estima-se que até 2030 essas gerações herdarão 20 trilhões de dólares em ativos. Sendo assim, as empresas precisam se adaptar para continuar a atrair e reter talentos, atrair investidores e posicionar seus produtos.

● A mudança climática é uma realidade que precisa ser combatida. Vários países assinaram o Acordo de Paris em 2015, comprometendo-se a limitar o aquecimento global a 2 graus (preferencialmente 1,5) quando comparado aos níveis pré-industriais.

De acordo com o Climate Watch, as regulações existentes e planejadas atualmente cobririam aproximadamente 60% das emissões globais. Muito provavelmente, nos próximos anos veremos novas regulações e, nesse cenário, os maiores emissores terão de investir em novos processos, terão o custo de neutralizar suas emissões ou vão correr o risco de perder espaço para produtos e processos menos poluentes.

A regulação da emissão de carbono impacta de forma diferente os setores, trazendo riscos para alguns e oportunidades para outros.

● O advento das mídias sociais coloca mais pressão nas empresas, que têm de agir de acordo com seu discurso e com o que é esperado pela sociedade. Atualmente, a sociedade consegue facilmente organizar boicotes e protestos contra uma empresa ou produto.

● ESG é também uma forma eficiente de mensuração de risco. O mercado financeiro já estava acostumado a olhar a governança, mas a análise de risco fica mais completa no modelo ESG. Afinal, risco de rompimento de barragens, vazamento de óleo, trabalho infantil na cadeia de fornecedores e mudança no padrão de consumo, entre outras coisas, são fatores de risco considerados numa análise ESG.

● As leis, as normas e o que é esperado mudam ao longo do tempo. Atualmente, vemos várias cidades europeias proibindo a circulação de veículos a diesel a partir de determinado ano, países regulando a emissão de carbono e incentivando o uso de energia renovável. Vemos, por livre e espontânea vontade, as empresas se comprometendo com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Em um passado não muito distante, falava-se sobre diversidade, mas muitas pessoas conviviam com a falta de diversidade nas empresas sem questioná-la; atualmente, a diversidade é um fator de sucesso.

No passado, o mercado via como uma vantagem uma grande empresa que tinha o poder de “espremer” seus fornecedores e não se preocupava em ter uma relação saudável com eles; hoje, o sucesso está em construir parcerias.

Aprendemos que empresas e setores com baixo NPS sofrerão algum tipo de disrupção. Uma análise ESG nos força a pensar sobre as tendências, o cenário mais provável, os setores e empresas que serão ganhadores e perdedores nesse cenário e as empresas com maior capacidade de se adaptar às mudanças.

Além desses cinco motivos, acreditamos que alguns eventos recentes aceleraram as discussões sobre sustentabilidade. Afinal, vivendo uma pandemia e observando as queimadas, os desmatamentos e os desastres naturais em diversos lugares do mundo, como não nos questionar o que, como sociedade, estamos fazendo errado e como podemos melhorar?

Em um mundo no qual a tecnologia faz tantos novos negócios e empresas emergirem rapidamente — colocando em risco setores e empresas que até pouco tempo atrás eram considerados inabaláveis — e onde uma nova geração nos faz questionar como nos relacionamos, investimos, moramos, trabalhamos, consumimos e até o que comemos e bebemos, como acreditar que um produto ou empresa são perenes?

Ao longo das próximas semanas, publicaremos uma serie de artigos explicando cada um dos aspectos ESG e esperamos, com esses artigos, esclarecer muitas dúvidas de nossos leitores sobre o tema.

Fique por dentro das principais tendências das empresas ESG. Assine a EXAME.

Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalGovernançaONUSustentabilidade

Mais de ESG

Veja o resultado da Mega-Sena, concurso 2731; prêmio é de R$ 82,5 milhões

Busca por crédito sobe 14% em abril/março, mas cai 24% na comparação anual

Empresa japonesa é hackeada e perde R$ 1,5 bilhão em bitcoin

IR 2024: Receita recebe 42,4 milhões de declarações

Mais na Exame