O esforço do McDonald's para garantir que a carne dos hambúrgueres esteja livre de desmatamento
Marie Tarrisse, gerente senior de impacto social e desenvolvimento sustentável da Arcos Dorados, franquia que opera o McDonald's, explica práticas da empresa contra o desmatamento nos fornecedores de carne
Repórter de ESG
Publicado em 31 de julho de 2023 às 07h01.
A Arcos Dorados, franquia que opera o McDonald's em 20 países da América Latina e Caribe, implementou uma política de rastreamento da carne em 2018. O objetivo era garantir que a proteína utilizada nos sanduíches estivesse livre de desmatamento, condição fundamental para uma empresa do ramo ostentar o título de ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). Neste ano, a empresa alcançou 99,92% de fornecedores em conformidade com sua Política de Abastecimento de Carne Livre de Desmatamento.
"Este é um trabalho complexo e de acompanhamento constante. A meta é estar com mais de 99% dos fornecedores em conformidade. O que não significa que os demais não estão, mas sim que há um residual que pode ter um tempo maior da análise da informação", explica Marie Tarrisse, gerente senior de impacto social e desenvolvimento sustentável da Arcos Dorados em entrevista à EXAME.
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De acordo com a executiva, caso seja constatada alguma irregularidade, o fornecedor deve promover informações que comprovem o trabalho correto. "Não excluímos o fornecedor de imediato, buscamos fazer a reintegração daquele que, muitas vezes, não está com um documento atualizado ou falta realizar um treinamento. A irregularidade pode não ser o desmatamento em si", afirma.
Monitoramento contra o desmatamento
Na prática, o que a Arcos Dorados faz é uma etapa de checagem própria, que pode ir além dos critérios de cada frigorífico. Desde a criação daPolítica de Abastecimento de Carne Livre de Desmatamento,em 2018, a empresa afirma ser a única do setor de restaurantes a realizar o monitoramento via satélite das fazendas fornecedoras de carne bovina. Em 2022, 9,6 milhões de hectares foram monitorados no Brasil, divididos em mais de 8 mil fazendas e 5,6 milhões de animais.
O trabalho é realizado em parceria com a plataforma de soluções digitais Agrotools, que a partir da geolocalização verifica dados públicos das fazendas em relação ao uso da terra, trabalho digno, compliance, entre outros. "A partir dos dados realizamos uma reunião mensal com o time de qualidade, de compras e de sustentabilidade. A compra acontece todos dias e as fazendas e forncedores mudam. Assim, assumimos esse controle para além do que o frigorífico monitora para garantir que não há nenhum tipo de desmatamento, uso de terra de povos orginários e outras irregularidades", afirma.
Para Breno Félix, diretor de produto da Agrotools, os maiores aprendizados nesta jornada com Arcos Dorados, se devem a implementação com uma abordagem colaborativa e muito próxima dos fornecedores de matéria prima. "A busca incessante pela padronização de processos e por excelência nos resultados nos estimulam no caminho da melhoria contínua. Essa parceria fortalece o olhar responsável do negócio e contribui para um ambiente de cooperação e progresso sustentável", diz.
A política e o monitoramento refletem as premissas da Receita do Futuro, estratégia ESG da Arcos Dorados, que tem entre seus objetivos a meta de eliminar o desmatamento da cadeia de abastecimento até 2030. A empresa também conta com o apoio da Proforest, importante ONG internacional que atua na preservação do meio ambiente, na aplicação de suas políticas e está presente em grupos de discussão sobre o tema, como é o caso da Mesa Brasileira de Pecuária Sustentável no Brasil.
Além disto, a agropecuária é um dos setores que mais emitem gases causadores do efeito estufa. Assim, para além do desmatamento, é preciso olhar as emissões. "No ano passado emitimos oSustainability Linked Bond (SLB), que associa um instrumento financeiro aos objetivos ambientais", afirma Marie. O bônus foi atelado à meta previamente estabelecida pela companhia de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 36% em sua operação própria e em 31% em sua cadeia de fornecimento até 2030, sendo que em ambos casos, serão utilizados dados absolutos de 2021 como base.
"O animal vive em média três anos antes de ir para o abate. Isto significa que, quando falamos de escopo 3 (relacionado aos fornecedores) precisamos de um esforço agora para alcançar a meta do médio prazo. Estamos trabalhando em projetos de mudança de pastagem e alimentação bovina para diminuir as emissões".