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Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono avança e visa medidas práticas

Com empresas parceiras, McKinsey coordena o conteúdo da Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono e planeja repositório de boas práticas, integridade e outras ações até a COP28

Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário inicia a fase de implementação (Leandro Fonseca/Exame)
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 24 de maio de 2023 às 10h01.

Última atualização em 31 de maio de 2023 às 19h19.

A Iniciativa Brasileira para o Mercado Voluntário de Carbono, coordenada pela consultoria McKinsey e com uma dezena de empresas participantes, inicia a fase de implementação de ações que visam potencializar o financiamento de uma ampla restauração florestal e a geração de benefícios socioeconômicos para o Brasil a partir da geração de créditos de carbono.

A iniciativa, que começou em 2022 a partir de um esforço coletivo sobre o entendimento do potencial mercado de carbono no país, agora espera implementar mecanismos que acelerem a adoção de boas práticas a partir do desenho de um órgão de integridade, a participação em discussões internacionais e um repositório de transparência dos projetos, compradores, entre outros.

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Segundo Henrique Ceotto, sócio da McKinsey, a nova fase pretende gerar ações práticas a partir da estruturação nas duas fases anteriores (de diagnóstico e desenho dos mecanismos), quando se descobriu, por exemplo, a possibilidade do Brasil gerar até 2 giga toneladas de compensações por ano, além de 1 milhão de empregos. "O Brasil precisa reconhecer a oportunidade de liderança na economia verde e descarbonização. Para o avanço, a integridade e as boas práticas são os maiores desafios das empresas com as quais conversamos", afirma.

Segundo dados da McKinsey, o potencial do Brasil no mercado de crédito de carbono é um dos maiores do mundo, podendo gerar até 15% da oferta global – muito acima de outros países, como Peru (4%) e Estados Unidos (3%). Isso significa que existe um potencial de mercado de até US$26 bilhões ao ano (mais de R$131 bilhões ao ano), considerando atividades REDD+, agroflorestais e de reflorestamento em áreas de pastagens degradadas.

A rede que a integra a Iniciativa é composta por empresas e instituições de diversos setores: Amaggi, Auren, B3, Bayer, BNDES, CBA, Dow, Itaú, Natura, Rabobank, Raízen, Systemica, Vale, Votorantim, Votorantim Cimentos e, por fim, McKinsey & Company, como coordenadora de conteúdo.

Entre as participantes, a indústria química Dow vê a participação como estratégica para o negócio. "Para a Dow, a estratégia principal é descarbonizar as operações ao mesmo tempo em que os negócios continuam crescendo. Atualmente, 60% das operações do Brasil acontecem com energia renovável. E, entendemos, que parte dos desafios da indústria acontecem pelas compensações das emissões de CO2. Assim, é importante ter uma ação conectada com a viabilização do mercado mais claro e seguro", diz Mariana Orsini, diretora de relações governamentais da Dow Brasil.

Agora, entre os mecanismos propostos estão a criação de uma entidade independente para coordenar o mercado voluntário de carbono no Brasil; o desenvolvimento de uma plataforma digital que consolidará as principais informações relevantes; um conjunto de dados de referência para agilizar a auditoria para validação dessas informações; soluções financeiras para mitigar desafios no financiamento de projetos; definição de contratos de referência e, por fim, a revisão de metodologias, a fim de adaptá-las à realidade do clima tropical no País.

De acordo com Henrique, o mercado já está em andamento e o papel da iniciativa é certificar de que tudo acontece da melhor forma, incentivando as empresas e os países. "Muito investir está interessado no mercado de carbono, que já acontece para o bem ou mal. O que estamos fazendo é unificando ações para garantir, por exemplo, que um crédito de carbono seja comprado, por exemplo, de uma terra onde não houve grilagem", afirma.

Segundo ele, apesar de não haver uma bala de prata, a Iniciativa quer também reduzir os custos operacionais uma vez que, com a transparência, os processos sejam mais objetivos e menos custosos. "Podemos tornar o custo da intermediação mais eficiente. Além de garantir uma análise jurídica, tributária e contábil".

Já de acordo com Mariana, a Iniciativa pode diminuir riscos. "Como uma empresa global, a Dow conhece as críticas feitas aos modelos de mercado de carbono. Conhecemos os riscos e o que estamos fazendo visa mostrar a credibilidade dos desenvolvedores de projetos responsáveis, que podem ajudar práticas globais".

Foi esta ideia que fez a Systemica também participar da Iniciativa. "Decidimos integrar a iniciativa por três fatores: o primeiro, pelo compromisso da empresa com projetos de alta integridade; segundo, uma proposta consistente que vai habilitar vários aspectos do mercado de carbono, fazendo com que os projetos brasileiros ganhem escala e relevância global; terceiro, uma base de dados e um repositório de projetos que vão gerar vários benefícios, como estabelecer procedimentos comuns com uma visão clara de quais são os principais pontos que todos os projetos devem considerar no contexto nacional", diz Munir Soares, CEO da Systemica, que integra a Iniciativa a partir do início da fase atual.

Etapas da iniciativa para a descarbonização da economia

A descarbonização da economia até 2050 é prioridade para diversos países, à medida que milhares de empresas globais definem metas ambiciosas de redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Apesar dos esforços, há dificuldades para grande parte das organizações alcançarem esses objetivos. É nesse cenário que o mercado voluntário de carbono possa apoiar na compensação das emissões dentro da jornada de neutralização das emissões líquidas.

Visando estruturar ações-chave para desenvolver um mercado de alta integridade no Brasil, a Iniciativa foi lançada em julho de 2022 e, desde então, mapeou as principais jornadas e os pontos sensíveis de toda a cadeia de valor. O passo seguinte foi propor seis mecanismos para destravar o mercado, que foram apresentados na COP 27, a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, e submetidos em consulta pública para serem discutidos com outros atores desse mercado, etapa encerrada em fevereiro deste ano. Após estas duas primeiras fases e a entrada dos novos integrantes, Itaú e Systemica, a Iniciativa agora inicia a implementação prática destas ações.

O foco agora é escalar o mercado brasileiro. “Nos debruçamos para entender a perspectiva de compradores, fornecedores, desenvolvedores de projetos, instituições financeiras, entidades jurídicas e de contabilidade, mapeando suas principais dificuldades em comum no processo de conduzir um projeto de crédito de carbono. Definimos, então, mecanismos para transpor essas adversidades, a fim de escalar esse mercado e aumentar a integridade dos offsets, como são chamadas as toneladas de CO2 compensadas da atmosfera”.

As soluções naturais do crédito voluntário, além de serem menos custosas do que as tecnológicas, trazem diversos benefícios, como recuperação da biodiversidade, segurança hídrica e desenvolvimento socioeconômico. “Estamos focados em iniciativas de governança e as que darão mais transparência, confiabilidade e fácil acesso às informações relevantes para o mercado, assim como as que otimizarão processos de diligência, auditoria, e de financiamento, que atualmente são longos e custosos, para destravar a oferta de créditos de alta integridade”, complementa Henrique Ceotto.

As entregas práticas da iniciativa brasileira estão previstas para serem implementadas até agosto deste ano, sempre alinhadas aos princípios de integridade de agências internacionais, como VCMI e The Integrity Council.

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