91% dos investidores brasileiros acham que relatórios podem ter greenwashing, afirma PwC
Segundo dados do relatório Global Investor Survey, investidores estão preocupados com a existência de apropriações ambientalistas indevidas por parte dos negócios
Fernanda Bastos
Publicado em 2 de janeiro de 2023 às 15h40.
Última atualização em 2 de janeiro de 2023 às 15h52.
O relatório anual Global Investor Survey 2022 da PwC , lançado em dezembro de 2022, traz novos dados sobre a realidade percebida por diretores de investimentos, investidores institucionais, gerentes de portfólio e analistas em um contexto global.
A pesquisa cobriu uma variedade de classes de ativos com ativos sob gestão variando de US$ 500 milhões a US$ 1 trilhão. Além disso, uma das informações mais alarmantes foi a questão do greenwashing , algo como "lavagem verde", numa tradução livre, visto que 91% dos investidores brasileiros acreditam que os relatórios das companhias podem ter greenwashing, enquanto no mundo, o número cai para 87%.
Em entrevista à EXAME, Mauricio Colombari, sócio da PwC Brasil, explica mais a fundo como o relatório foi feito: “O estudo considera números globais com participação do Brasil e, ao cruzar essas informações com avaliações qualitativas com base no que vemos na prática no mercado nacional, inclusive a partir de outras pesquisas em que temos recortes mais aprofundados no nosso território, podemos concluir que esse dado sobre greenwashing é brutal”, explica Colombari.
De acordo com o sócio, boa parte dos investidores ouvidos (87%) está olhando para os relatórios e constatando que as informações divulgadas não representam o que acontece dentro das empresas, em outras ocasiões, as companhias estão assumindo compromissos inalcançáveis ou estão priorizando ações que não têm tanta relevância para o negócio. Esse fato é descrito no relatório como um “risco de sustentabilidade e oportunidades diante de seus negócios”. O fato pode dificultar a tarefa do investidor de alocar capital.
Colombari ainda destaca em sua fala a importância dos executivos e C-levels das empresas assumirem a responsabilidade para definição da agenda ambiental. “Cada vez mais, as companhias fazem determinadas divulgações em relatórios não financeiros e tempos depois algum evento contradiz o que foi divulgado. A alta liderança precisa estar presente nessas discussões e tomar decisões sobre como essa temática será reportada ao público. Temos aqui um alerta para que os relatórios sejam completos e verdadeiros”, afirma.
Aquecimento global dentre as prioridades
Ainda segundo dados do estudo, quase metade (44%) dos entrevistados globais acredita que o combate ao aquecimento global deve ser uma das cinco prioridades para os negócios. Já no Brasil, o número chega a 41%. Colombari afirma ter duas interpretações sobre este dado: “A primeira delas nos revela que existem outras questões à frente do combate ao aquecimento global para os investidores, como inflação, volatilidade econômica e questões geopolíticas internacionais, além de riscos cibernéticos”, comenta.
Já a outra percepção do sócio é que, ao passo que os investidores começarem a colocar a crise climática como prioridade, o tempo para resolver essas questões será pequeno. Colombari diz: “De todo modo, as empresas que estão preocupadas com as consequências da crise climática estão vendo as dificuldades. Porém, com base nessa pesquisa e em outras observações de mercado que fazemos, fica evidente que a emergência climática está nas agendas de C-levels, investidores e outras pessoas em cargos de liderança”.
Inovação é uma preocupação
Outro fator que apareceu em destaque no Global Investor Survey, foi a inovação. Colombari descreveu como uma “questão fundamental”, pois pode ser considerada uma resposta para preocupações de empresas, executivos e investidores. Segundo o sócio, inovação pode ser a resposta para lidar com questões do clima.
“Costumo dizer que ESG e inovação sempre andam juntos. Os desafios de clima, economia circular e diversidade vão encontrar resposta ao passar por inovação de uma forma mais ampla. Por exemplo, para que se emita menos gases de efeito estufa, será preciso inovar. Se ao olhar para a cadeia de fornecedores e perceber que é preciso ter um impacto menor em recursos naturais, o caminho é o mesmo. Acredito que temos de olhar a inovação como um guarda-chuva. A relevância que um investidor dá a esse quesito varia de negócio para negócio, conforme segmento”, conclui Colombari.
LEIA TAMBÉM:
- Uso de energia solar, gestão de água e papel: Sebrae aponta como está a sustentabilidade em PMEs
- O que tira o sono de Michael Bloomberg
- O dia em que Pelé me ajudou a editar uma revista black