Saúde mental precisa virar prioridade também no ambiente profissional
Levantamento da OMS estima que são perdidos cerca de 12 bilhões de dias de trabalho a cada ano devido à depressão e à ansiedade
Esfera Brasil
Publicado em 6 de janeiro de 2023 às 10h30.
A pandemia de Covid-19 fez com que a saúde mental ocupasse um espaço privilegiado no quadro de preocupações de todos. Não por acaso: segundo o Relatório Global de Saúde Mental da OMS (Organização Mundial da Saúde) publicado em junho, no primeiro ano da pandemia houve um aumento de mais de 25% nos casos de transtornos mentais como depressão e ansiedade. Isso, sobre uma base de quase um bilhão de pessoas que já viviam com tais condições antes de a Covid-19 se tornar uma ameaça global.
Em setembro do ano passado, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) se juntou à OMS no apelo por medidas para combater t ranstornos de saúde mental no ambiente profissional. Um levantamento das duas organizações estima que são perdidos cerca de 12 bilhões de dias de trabalho a cada ano devido à depressão e à ansiedade, com um custo próximo de US$ 1 trilhão – mais da metade do PIB brasileiro, estimado em US$ 1,6 trilhão em 2021, segundo o Banco Mundial.
As preocupações que colocam em xeque nossa saúde mental estão presentes em nossas vidas cotidianas desde antes da pandemia: o ritmo acelerado da vida moderna, com a comunicação digital instantânea, tornou urgente todos os assuntos e quase eliminou prazos para reflexão e preparação. Este estado de pressão psicológica fez da síndrome de burnout tema de inúmeras reportagens, para ficar em só um exemplo. Mas a Covid-19, que impôs limitações à vida de todos, também ampliou muitos medos e situações críticas com que lidamos todos os dias: conflitos familiares e no trabalho, solidão, preocupações com o futuro, maior exigência e insegurança nos empregos, violência e aquele que puxa a lista: o receio de contrair doenças.
Transtornos mentais ainda são alvo de fortes preconceitos, mesmo sendo um mal tão comum e presente. Muitas vezes, a ajuda médica de profissionais (psicólogos, psiquiatras, psicanalistas etc.) é postergada por conta desse estigma que o tratamento carrega. Adiar a busca por ajuda e apoio pode levar a um quadro mais complexo --o que poderia ser mais fácil de tratar, se torna uma questão muito mais séria.
Durante a pandemia, verificou-se na base de beneficiários da Qualicorp, plataforma de escolha de planos de saúde, um aumento na busca por atendimento psicológico. No período mais crítico, houve um crescimento de 10,4% na frequência de utilização dos serviços de psicologia. A partir de março de 2022, o crescimento foi de 7,35%.
Com o subfinanciamento da saúde mental no Brasil, que representa menos de 2% do orçamento do SUS, a saúde suplementar desempenha um papel de maior importância em levar apoio a quem tem quadro de transtornos mentais.
Um fator que tem elevado a busca por ajuda psicológica é a decisão da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), que entrou em vigor em agosto, de não mais limitar o número de consultas e sessões com psicólogos para usuários de planos de saúde. Antes, o limite para esse atendimento variava de 12 a 40 sessões por ano, estendendo o alcance do atendimento psicológico e psiquiátrico e induzindo ao crescimento da demanda por profissionais de saúde mental.
As pressões da vida moderna tendem a se intensificar – e o temor de um agravamento da atual pandemia, ou mesmo do surgimento de outra irá nos acompanhar. Atualmente, dispomos de recursos e podemos contar com apoio profissional, tendo em vista que já se pode dizer que o imenso obstáculo cultural e social, que predominava no passado, está sendo superado.
Cuidar da saúde mental é o pilar fundamental para o bem-estar geral, e precisa figurar entre as prioridades de todos no mundo de hoje.
* médico e diretor da Qualicorp, responsável pelo Programa Qualiviva