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Férias são, mais que descanso, uma pausa para recuperar saúde mental

Nunca se discutiu tanto a importância do recesso e das férias para equilibrar a vida profissional e pessoal

Nunca se discutiu tanto a relevância da saúde mental (ViewApart/Thinkstock)

Nunca se discutiu tanto a relevância da saúde mental (ViewApart/Thinkstock)

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Publicado em 11 de janeiro de 2023 às 11h00.

Por Claudia Vieira Levinsohn*

Muitos profissionais escolhem o início do ano para tirar dias de recesso ou férias coletivas combinadas com as férias escolares. Essa pausa tem sido cada vez mais valorizada para manter o equilíbrio mental, principalmente porque o Brasil é um dos países recordistas de pessoas com transtornos de ansiedade e depressão. Levantamento do Instituto Ipsos mostra que 53% dos trabalhadores apresentaram piora em sua saúde mental nos últimos anos, com consequências severas desses diagnósticos, como a síndrome de burnout, que compromete a rotina pessoal e profissional de todos.

Independentemente da faixa etária, o período de afastamento das atividades obrigatórias do dia a dia é tão importante quanto a atuação no trabalho, na faculdade e na escola. É o momento de aliviar a fadiga física, o estresse e o cansaço emocional. Segundo o International Stress Management Association (ISMA-BR), 72% da população brasileira sofre alguma sequela do estresse, sendo 32% têm a síndrome de burnout. Reconhecida desde janeiro de 2022, pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma doença ocupacional que apresenta sintomas físicos e emocionais, a síndrome de burnout é considerada um tipo de estafa profissional, que tem se tornado cada vez mais comum, principalmente no universo corporativo.

O interessante desse cenário é que nunca se discutiu tanto a relevância da saúde mental para uma boa qualidade de vida das pessoas. Antes, o lema era “tempo é dinheiro” e o lado emocional era visto como “frescura”. Agora, “tempo é lazer” e o tema ganha cada vez mais luz para a sociedade, até porque os sintomas ocasionados pelos novos hábitos cotidianos, como a sobrecarga de tarefas, acúmulo de funções fora dos horários de trabalho e grande dependência da internet e redes sociais, estão mais claros. Observamos alunos com crise de ansiedade no pátio da escola, pessoas com síndrome do pânico nos consultórios médicos, e um grande número de casos de afastamento do trabalho por conta da síndrome de burnout.

A discussão abrange tanto a performance dos profissionais no mercado de trabalho, sobretudo no mundo corporativo, quanto o desenvolvimento das crianças e dos adolescentes na escola. O longo isolamento social e as situações restritas durante a pandemia podem ter colaborado para este quadro, assim como a tecnologia, que embora apresente benefícios em diversos aspectos também ajuda a deixar as pessoas mais dependentes de suas aplicabilidades.

O trabalho foi impactado pelo home office, cuja facilidade da internet possibilitou a atuação a distância. A partir do momento em que as pessoas começaram a trabalhar em casa iniciou um período de tensão. Primeiro porque queriam entender se continuariam empregadas e adaptadas ao novo modelo, e depois, a exaustão para dar conta de mais horas de trabalho e da dependência do Whatsapp, que de aplicativo de mensagens pessoais se transformou em ferramenta imprescindível que precisa ser verificada a todo instante para não perder nenhuma informação e, claro, as respostas devem ser devolvidas o que mais rápido possível. O Whatsapp é a demonstração de que não existe mais o horário de expediente formal.

Já as crianças, foram obrigadas a se adaptar às aulas online, sem o convívio social com os amigos e fora do ambiente em sala de aula. Tiveram que se encaixar ao ensino amador dos pais e a figura do professor ficou mais distante. Acuadas dentro de seus quartos, sobrou para as redes sociais, que passaram a ser companhia, com todas as cenas bonitas e de felicidade apresentadas por milhares de influencers – a mais disputada profissão atualmente.

O novo ano chega com a esperança de um recomeço, com a sensação de limpeza do que já passou e de que podemos usar o que aprendemos com a pandemia para construir uma sociedade melhor. Um desses aprendizados é entender que não fazer nada ou não ter obrigações é importante para a mente descansar e produzir mais e melhor.

Não teremos eleições e Copa do Mundo em 2023, mas há muitos feriados no calendário, o que pode representar mais proximidade com a família e os amigos. Tirar férias ou alguns dias de descanso é uma questão de necessidade e de saúde para que corpo e mente relaxem e recuperem as energias. E, porque não, pode significar um momento de reflexão e reequilíbrio do bem-estar profissional e pessoal para retornar com força total e, assim, seguir uma vida mais ajustada e feliz. Não podemos abrir mão disso.

*Claudia Vieira Levinsohn é mestre e especialista em educação

 

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