Brasil tenta fortalecer Sul Global e liderar reformas em organismos internacionais
País preside G20 pela primeira vez; grupo concentra quase 90% do PIB global
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Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 06h00.
Ainda que não represente uma unidade decisória oficial, o G20, que reúne 19 países, dois blocos econômicos e concentra quase 90% do PIB mundial, se reúne a partir de quarta-feira, no Rio de Janeiro, com a missão de estimular debates sobre a reforma de organismos internacionais – como a ONU e o FMI – e a transição energética.
Para o Brasil, que pela primeira vez exerce a presidência do colegiado, o principal desafio é tornar perene os questionamentos sobre a governança global, e fortalecer agendas em comum entre os países do chamado sul global.
Desde o início deste terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem insistido na tese do anacronismo das regras vigentes das organizações internacionais para justificar a implementação de reformas. Em diferentes ocasiões, o líder brasileiro sugeriu mudanças que passem por maior protagonismo de nações emergentes no Conselho de Segurança da ONU.
De acordo com o chanceler Mauro Vieira, que vai liderar o encontro com homólogos de outras nações, é preciso que sejam mudadas as bases da política econômica global. Segundo ele, a relação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) com países pobres não pode estar condicionada a fatores que refletem em prejuízos econômicos significativos a essas nações.
Na agenda verde, pautas como a regulamentação do mercado de carbono, o marco legal das eólicas offshore e o projeto de lei sobre o combustível do futuro estão em tramitação no Congresso e são fundamentais para que o país alcance o protagonismo esperado dentro da transição energética. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem sinalizado que tais temas devem ser prioritários ao longo do ano.
Blinken e Lavrov na mesma mesa
Para o encontro do G20 no Rio, também foram feitos convites a representantes de nações que não integram o fórum econômico, como Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, e Noruega. Entre as presenças confirmadas estão o secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, e o ministro das relações exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. Ambos possuem programação de encontros bilaterais com o governo brasileiro.
Quatro países não devem enviar seus chefes da diplomacia ao Brasil: China, Índia, Itália e Austrália. Nesta relação, as ausências mais sentidas pelo governo brasileiro deverão ser dos dois primeiros, que também integram o Brics. Analistas não creem que o episódio envolvendo as críticas de Lula ao governo de Israel tragam impacto significativo ao encontro, ainda que a guerra esteja entre um dos tópicos a serem debatidos.
Até o final do ano, estão previstas pelo menos mais oito reuniões do G20 em solo brasileiro, incluindo a cúpula de chefes de Estado, prevista para novembro, também no Rio, e aguardada com grande expectativa. Além dos debates sobre a governança global, também estará em pauta o estímulo ao desenvolvimento sustentável e ações de combate às desigualdades.