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Venezuela pode ficar sem cerveja em breve

Fabricação pode ser praticamente paralisada em uma semana; produtores estão sem dólares do governo para pagar a matéria-prima que vem do exterior

Homem carrega caixa de cerveja em Caracas, na Venezuela (Mario Tama/Getty Images)

João Pedro Caleiro

Publicado em 27 de julho de 2015 às 16h59.

São Paulo - A crise da escassez na Venezuela está atingindo um dos produtos mais queridos da população: a cerveja .

De acordo com a Federação Venezuelana de Licores (FVL), 7 das 24 regiões do país já estão com falta da bebida e a oferta pode cair dramaticamente em breve se nada mudar.

“No dia 3 de agosto desaparecerá 80% do fornecimento de cerveja e malte e isso significa a quebra do setor", de acordo com Fray Roa, porta-voz da instituição. Ele diz que isso colocaria em risco 400 mil empregos diretos e 1 milhão de empregos indiretos.

Como o preço das demais bebidas alcóolicas triplicou, a cerveja responde hoje por 70% das vendas dos produtores. A Venezuela tem o terceiro maior consumo de álcool per capita da América Latina, atrás de Chile e Argentina.

Os produtores de cerveja na Venezuela reclamam que não conseguem comprar no exterior cevada e malte, a matéria-prima, porque não tem disponíveis os dólares necessários.

Desde 2003, a Venezuela tem um rígido controle cambial e o governo limita o nível de divisas disponíveis para as empresas quitarem suas obrigações.

A dívida das cervejarias venezuelanas com seus fornecedores já ultrapassa 200 milhões de dólares, de acordo com estimativas não-oficiais.

O mercado negro é uma alternativa, mas as taxas de câmbio são no mínimo duas vezes maiores do que a oficial, o que o governo tenta abafar a qualquer custo.

Cenário

A falta de dólares para financiar as importações tem resultado em preços em disparada e filas quilométricas. Os supermercados estão com as prateleiras vazias de produtos básicos, como alimentos e papel sanitário ( há hóteis que pedem para você trazer o seu ) .

O índice de escassez parou de ser publicado oficialmente e especialistas falam há meses do risco de uma crise alimentar.

A qualidade de vida dos venezuelanos caiu durante o governo de Nicolas Maduro. Quando ele assumiu em abril de 2013, a inflação anual era de 20,1% e a pobreza estava em 25,1%. Dois anos depois, a inflação disparou para 68,5% e a pobreza atinge 32,1%.

Até a mania nacional do implante do seio foi afetada. Um pacote de camisinhas chega a sair por mais de 2 mil reais e um iPhone pode custar 145 mil reais. A situação se agravou com a queda do preço do petróleo, principal produto de exportação e fonte de recursos para o governo.

A cesta básica familiar na Venezuela aumentou 163,6% desde junho de 2014 e, com o custo atual, uma família necessita de quase oito salários mínimos para cobrir suas necessidades, de acordo com o Centro de Documentação e Análise para os Trabalhadores (Cendas).

Maduro se diz vítima de uma "guerra econômica" e responde com um controle ainda maior das vendas (as eleições parlamentares estão marcadas para dezembro).

Os venezuelanos tem recorrido às redes sociais para saber informações sobre fornecimento e promover uma espécie de escambo chamado de “trueque”.

São Paulo - A desaceleração dos emergentes é um fato consumado e a projeção do Banco Mundial para o crescimento da economia global em 2015 não é exatamente brilhante: 2,8%. No entanto, há um grupo de países que não devem chegar nem perto deste número - neste ou nos próximos anos. É o caso do Brasil, que deve ter sua pior recessão em duas décadas, uma ressaca da euforia do passado somada com as consequências de políticas desastradas do primeiro mandato de Dilma e fatores como a Operação Lava Jato . A Ucrânia é vítima da hostilidade da Rússia, que sucumbe diante de sanções e da queda do preço do petróleo, levando junto a vizinha Bielorússia para o fundo do poço. O petróleo em queda, aliás, ajuda a explicar a situação do Iêmen e na Venezuela, também afetados por guerra civil e políticas erráticas, respectivamente. Veja a seguir as 9 economias que tem as piores perspectivas para este e os próximos 2 anos de acordo com o último relatório do Banco Mundial:
  • 2. Iêmen

    2 /11(Paul Hilton/Bloomberg)

  • Veja também

    O Iêmen nunca teve uma economia dinâmica e sofre com alto desemprego, explosão populacional e falta de água e produtos. A situação ficou ainda pior com a queda do preço do petróleo e a escalada dos conflitos políticos em uma guerra civil.
    Estimativa de crescimento
    2015-2,8%
    20162,8%
    20173,4%
  • 3. Croácia

    3 /11(Divulgação / Trivago / Tambako The Jaguar – Flickr)

  • A Croácia é, junto com a Grécia, o único país europeu que viu sua economia encolher todos os anos desde 2008. Em fevereiro, o governo cancelou a dívida dos cidadãos mais pobres para estimular a demanda doméstica, mas as projeções de crescimento continuam modestas.
    Estimativa de crescimento
    20150,5%
    20161,2%
    20171,5%
  • 4. Brasil

    4 /11(HEUDES REGIS/ Guia Quatro Rodas)

    O crescimento está diminuindo de forma generalizada nos emergentes e na América Latina, mas o processo começou antes e foi mais forte no Brasil.  Depois de ficar parada em 2014, a economia brasileira deve sofrer neste ano a pior recessão em 20 anos, com recuperação tímida esperada para 2016 e 2017. O governo brasileiro vem tentando mostrar ao mercado que mudou de rumo após as políticas dos últimos anos que levaram a aumento da dívida, piora nas contas públicas e inflação próxima do teto da meta.
    Estimativa de crescimento
    2015-1,3%
    20161,1%
    20172%
  • 5. Sérvia

    5 /11(Getty Images)

    Assim como o Brasil, a Sérvia está em um processo de consolidação fiscal após fechar um acordo com o FMI em fevereiro. A dívida pública em relação ao PIB dobrou entre 2008 e 2014, e o país tem tropeçado diante de corrupção, uma população envelhecida e alto desemprego.
    Estimativa de crescimento
    2015-0,5%
    20161,5%
    20172%
  • 6. Rússia

    6 /11(Thinkstock/Sergei Butorin)

    O tombo é generalizado entre os emergentes após a euforia da década passada, mas o caso da Rússia é agravado pela dependência do petróleo (cujo preço despencou nos últimos meses) e pelas sanções dos países ocidentais após a anexação da Crimeia.
    Estimativa de crescimento
    2015-2,7%
    20160,7%
    20172,5%
  • 7. Santa Lúcia

    7 /11(WikimediaCommons)

    Esta pequena ilha do Caribe tem apenas 160 mil habitantes e um PIB de US$ 1,8 bilhão altamente dependente do turismo, uma das indústrias que nunca se recuperaram totalmente desde a crise financeira de 2008.
    Estimativa de crescimento
    2015-0,6%
    20160,8%
    20171,4%
  • 8. Bielorússia

    8 /11(SERGEI SUPINSKY/AFP/Getty Images)

    É só olhar para o nome: a Bielorússia é altamente integrada com a Rússia, e sua economia e moeda tem seguido a trajetória (declinante) dos seus vizinhos russos nos últimos anos - o que deve continuar.
    Estimativa de crescimento
    2015-3,5%
    2016-1%
    20171%
  • 9. Venezuela

    9 /11(Reuters)

    A queda brutal do preço do petróleo foi como uma bomba para a economia da Venezuela , altamente dependente do produto para sua receita e exportações. E isso porque o país já estava sofrendo com instabilidade política, desabastecimento e uma das maiores inflações do mundo.
    Estimativa de crescimento
    2015-5,1%
    2016-1%
    20171,1%
  • 10. Ucrânia

    10 /11(Podluzhnaya/WikimediaCommons)

    A Ucrânia já tinha uma economia vulnerável e altos níveis de corrupção quando começou a se desestabilizar politicamente. Depois, viu a Crimeia ser anexada e tem que lidar até hoje com a ameaça constante da Rússia e de rebeldes no leste. O resultado: recessão de 6,8% em 2014 e uma perspectiva de recuperação lenta, e isso se nada mais der errado.
    Estimativa de crescimento
    2015-7,5%
    20162%
    20173%
  • 11 /11(Jose Cendon/Bloomberg News)

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