Emmanuel Macron: "nós vamos lutar, mas não vamos lutar contra os que estão no nosso campo" (Charles Platiau/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de agosto de 2014 às 13h16.
São Paulo - A França tem jeito?
É essa a questão que assombra Emmanuel Macron, de 36 anos, nomeado ontem ministro da economia do presidente François Hollande, de quem era conselheiro.
Macron entra para ser, segundo o Le Monde, o "molho liberal" do governo socialista - que se viu obrigado a nomear essa semana seu segundo gabinete em menos de 6 meses. O estopim da crise foram as declarações explosivas de membros do governo no final de semana.
Arnaud Monteburg, agora ex-ministro da economia, foi um dos "rebeldes" que criticaram a política de cortes de gastos de Hollande em entrevistas e em discurso na reunião do partido Socialista:
"A prioridade deve ser sair da crise. A redução dogmática dos déficits deve vir em segundo lugar. (...) Precisamos levantar o tom. A Alemanha está presa na armadilha da austeridade que está impondo a toda a Europa."
Desde a crise do euro, a Europa é palco de uma disputa entre aqueles que apoiam e críticam uma política de cortes de gastos e reformas liberalizantes liderada pela Alemanha. Depois de um início em que tentou sem sucesso uma orientação pró-estímulos, Hollande decidiu por uma guinada pró-austeridade e pró-mercados.
Não foi a primeira vez que Arnaud propôs medidas contrárias à orientação atual. Seu histórico inclui a disposição em adquirir participações do governo em companhias abertas e a autoria de um manifesto chamado "Vote pela Desglobalização!".
Novos rumos
Macron é seu exato oposto. Formado na prestigiada Escola Nacional de Administração (ENA), ele ficou 4 anos no banco de investimentos Rothschild e foi membro da Comissão pela Liberalização do Crescimento Econômico criada na gestão de Nicolas Sarkozy.
"Precisamos ganhar de volta a confiança que nossos parceiros e investidores lá fora precisam ter no nosso país e ganhar de volta a confiança dos próprios franceses. Sem isso, não podemos fazer nada", disse ele na posse.
Sua tarefa não é pequena. Ele precisa levar a França, a segunda maior economia da Europa, em direção a um superávit do governo, algo que não acontece desde antes dele ter nascido. A disputa deve pegar fogo no mês que vem, quando o Orçamento 2015 chega para discussão no Parlamento.
A meta de 4% de déficit concordada com a União Europeia já foi abandonada depois que os números do segundo trimestre mostraram que a economia continua totalmente parada. A previsão de crescimento este ano foi cortada de 1% para 0,5% e o desemprego continua acima de 10% - entre os jovens, é quase o dobro.
Não é por acaso que Hollande tem a aprovação de apenas 17% dos franceses - o pior índice desde que a Quinta República foi estabelecida em 1958.