The Economist aponta melhoria das perspectivas econômicas do Brasil no governo Lula
Com um intertítulo que pergunta: 'Poderia ser... uma decolagem?', o texto registra o crescente otimismo de investidores em relação à economia brasileira
Agência de notícias
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 08h34.
A revista britânica The Economist, uma das mais respeitadas no mundo na cobertura de temas econômicos, publicou hoje em seu site uma reportagem apontandoa melhoria das perspectivas econômicas do Brasil no primeiro ano do terceiro mandato do presidente Lula do ponto de vista dos investidores internacionais.
Com um intertítulo que pergunta: “Poderia ser... uma decolagem?” — o que pode ser lido como uma referência à famosa capa com o Cristo decolando em 2009, no fim do segundo mandato de Lula —, o texto registra o crescente otimismo de investidores em relação à economia brasileira, num clima bem diferente ao que antecedeu a posse do petista, em janeiro deste ano.
- Fitch eleva ratings de Petrobras e várias empresas brasileiras após melhora em nota soberana
- Fitch eleva ratings de 12 bancos públicos e privados do Brasil
- Índice de gerentes de compras (PMI) industrial da China mostra leve melhora em julho
- Haddad e Lula discutem plano de transição ecológica e medidas de crédito
- Bancos da zona do euro devem manter reservas de capital, alerta vice-presidente do BCE
- Caixa reduz taxa do consignado do INSS acompanhando corte na Selic
'Ministro eficiente'
O texto descreve Fernando Haddad como um “ministro eficiente” e destaca como ponto positivo a autonomia do Banco Central (BC) para conduzir a política monetária e conter a inflação, apesar dos ataques de Lula ao presidente do BC, Roberto Campos Neto.
A revista destaca a melhora na avaliação de agências de classificação de risco sobre o Brasil e atribui parte dessa nova visão das perspectivas econômicas do país a fatores que "não estão sob controle de Lula". O contexto internacional marcado pela invasão da Ucrânia pela Rússia beneficiou a exportação de grãos do Brasil, já que os dois países em conflito são grandes produtores de alimentos.
Segundo a publicação, a guerra reduziu a oferta de alimentos no momento em que a China encerrava as restrições provocadas pela Covid-19, puxando a demanda por grãos. O aumento da exportação de soja pelo Brasil, segundo estimou a revista, poderá responder por um quinto do crescimento econômico do país neste ano, o que eleva o saldo da balança comercial brasileira e favorece a valorização do real frente ao dólar.
A Economist também registra que a perspectiva de redução das taxas de juros nos EUA no ano que vem e as tensões crescentes entre a maior economia do mundo e a China estão levando muitos investidores a procurarem outros mercados emergentes para investir.
No ano passado, o Brasil recebeu US$ 91 bilhões em investimentos diretos do exterior, o dobro do ano anterior, segundo a publicação, que traz declarações de analistas apontando que a visão internacional sobre o Brasil hoje é bem diferente do que foi nos últimos dez anos.
Autonomia do BC ajuda
Um dos pontos que, segundo a revista britânica, ajudam nessa percepção é a autonomia do Banco Central. A Economist registra que a inflação caiu de 12% anuais em abril do ano passado para 3,2% agora, sem que a autoridade monetária hesitasse em manter a taxa de juros em 13,75% mesmo sob intenso ataque de Lula, culpando Campos Neto pelo baixo crescimento econômico.
Avanço das reformas
Mas, segundo o artigo, o principal fator positivo para os investidores é a agenda de reformas do ministro Fernando Haddad, como o novo arcabouço fiscal e a Reforma Tributária. “Até mesmo os que são mais céticos acreditam que a dívida do Brasil provavelmente ficará sob controle”, diz o texto.
A revista adverte que a aprovação final das reformas no Congresso não é garantida, dada a fragilidade da base parlamentar do governo. E cita como exemplo a influência de lobbies que buscam exceções na Reforma Tributária para setores, empurrando para cima a futura alíquota do imposto sobre valor agregado resultante da fusão de impostos sobre o consumo.
Também avalia como frágil o plano de equilibrar contas públicas elevando despesas e arrecadação, embora registre que a ministra do Planejamento, Simone Tebet — descrita como uma “moderada na cúpula do governo” — se diz disposta a fazer cortes orçamentários para perseguir as metas fiscais do novo marco fiscal.
Por outro lado, destaca o grande potencial que o país tem em projetos de transição energética. Menciona os abundantes recursos do país para produzir energia limpa e como Lula tem falado sobre sua ambição de tornar o país uma potência verde.
Histórico de decepções
O artigo termina alertando o leitor de que a história recente do Brasil aconselha cautela quando se avalia o potencial do país, já que frequentemente ele decepciona, sempre ficando atrás de potências emergentes como China e Índia. E deu como exemplo a baixa produtividade do país, que só cresceu na agricultura em três décadas.
“O cenário global e os sucessos de Haddad estão aumentando o otimismo dos investidores agora. Mas será necessária uma política boa e consistente para reverter a tendência de longo prazo do Brasil”, conclui a revista.