Economia

Seattle mostra o risco de aumentar muito rápido o salário mínimo

Cidade já tinha maior salário mínimo do país e o aumentou muito e rapidamente. Segundo estudo, isso causou queda da renda e emprego entre mais pobres

Seattle, cidade de 700 mil habitantes no extremo noroeste americano (tdlucas5000/ Creative Commons/Flickr)

Seattle, cidade de 700 mil habitantes no extremo noroeste americano (tdlucas5000/ Creative Commons/Flickr)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 2 de julho de 2017 às 08h00.

Última atualização em 2 de julho de 2017 às 08h00.

São Paulo - Seattle, cidade de 700 mil habitantes no extremo noroeste americano, é conhecida como berço do grunge e sede do Starbucks e da Amazon.

Mais recentemente, se destacou também por dois grandes aumentos do salário mínimo por hora, partindo de US$ 9,47 para US$ 11 em 2015 e para US$ 13 em 2016, com a meta de atingir US$ 15 em breve.

A proposta surgiu de um longo processo de negociação em um comitê formado por líderes políticos, trabalhistas e do mundo dos negócios, mas sempre foi polêmica do ponto de vista econômico.

A teoria elementar diria que o nível dos salários é determinado pela oferta e demanda do trabalho, e que qualquer tentativa de regular este processo causaria desemprego.

E agora, um estudo da Universidade de Washington encomendado e financiado parcialmente pela própria Seattle e publicado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (o NBER) aponta que a mudança na cidade causou perda de emprego e de renda entre os mais pobres.

Aplicando vários métodos sobre dados oficiais da última década, os pesquisadores calcularam que a primeira alta do mínimo teve pouco impacto, mas a segunda matou 5 mil empregos e reduziu em 9% o número de horas trabalhadas em empregos de renda baixa.

O resultado: um trabalhador de renda baixa acabou ganhando em média 125 dólares a menos por mês.

Outra possibilidade é que tenha havido migração de horas trabalhadas para o setor informal (com trabalhadores compensando perdas dirigindo para o Uber, por exemplo) ou para áreas em volta de Seattle, duas variáveis que não são capturadas pelo estudo.

Questão em aberto

Nunca houve consenso sobre o impacto de altas do salário mínimo sobre o emprego. Há inúmeros estudos de instituições respeitadas concluindo coisas diferentes, e uma pesquisa encontrou os economistas divididos.

Mas a maior parte dos estudos até agora media o impacto de uma alta modesta do salário mínimo, o que não é o caso de Seattle.

Além de estar com a economia aquecida, a cidade já tinha o maior salário mínimo nacional e o aumentou bastante e rapidamente.

Sua experiência pode não ser comparável a casos de altas menores e mais graduais sobre bases mais baixas, ou que acontecem em economias mais fracas (onde o efeito poderia ser ainda pior).

Muitos estudos analisavam apenas o efeito sobre algum setor específico, como o de restaurante, onde é grande a participação de trabalhadores que ganham pouco.

Um estudo da University of California em Berkeley divulgado também nesta semana, com foco na Seattle mas usando outra metodologia, não encontrou impactos negativos nos restaurantes.

Política

O prefeito da cidade, Ed Murray, reagiu ao estudo defendendo os aumentos e mandando uma carta para a universidade questionando os limites da metodologia e se não poderia ter havido uma generalização.

A questão é acompanhada de perto porque 8 cidades e 8 estados americanos estão experimentando subir o salário mínimo por hora para a faixa entre 12 e 15 dólares.

Na campanha de 2016, a candidata derrotada Hillary Clinton apoiou uma alta no valor federal dos US$ 7,25 atuais para US$ 12.

Esse tipo de iniciativa tem amplo apoio popular e é vista como uma questão de justiça – já que o valor federal é hoje, em termos reais, mais baixo do que nos anos 60, apesar da produtividade ter dobrado no período.

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