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Rússia vive "nascer de uma nova era": de pobreza e recessão

Sanções e queda do preço do petróleo fazem Banco Mundial traçar cenário sombrio para economia russa, com recessão profunda, inflação alta e aumento da pobreza

Rússia (Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de abril de 2015 às 17h20.

São Paulo - A economia da Rússia deve enfrentar uma recessão de 3,8% em 2015 e de 0,3% em 2016 - e isso se o preço do petróleo não cair ainda mais.

A pobreza, que foi de 40% da população em 2001 para 10% em 2010, deve subir para 14,2% - o que não acontecia desde as crises de 1998 e 1999. A inflação anualizada já chegou a 15% e deve cair só no ano que vem.

Os números estão em um novo relatório do Banco Mundial de 50 páginas, lançado nesta semana com o título "A Aurora de Uma Nova Era Econômica?". E esta nova era promete ser sombria graças a dois choques.

O primeiro foram as sanções em resposta às atitudes da Rússia na Ucrânia , como a tomada da Crimeia. Os países ocidentais restringiram o acesso a financiamentos internacionais e troca de tecnologias, causando uma enorme fuga de capitais e paralisação de investimentos.

O relatório prevê que o impasse geopolítico não será resolvido tão cedo e que as sanções devem continuar em vigor no ano que vem, podendo alterar definitivamente "a estrutura da economia russa e como ela se integra ao resto do mundo"

O segundo choque foi a queda abrupta do preço de petróleo de acima de US$ 100 o barril em julho para menos de US$ 50 em dezembro. A economia russa é altamente dependente desta commodity e o Banco Mundial não espera uma recuperação forte deste valor em nenhum futuro próximo.

O rublo perdeu quase metade do seu valor em 2014, pressionando a inflação. Com recapitalização, aumento de juros e uso de fundos, a Rússia conseguiu fazer uma estabilização bem-sucedida e evitar a recessão, mas por pouco tempo. O governo se comprometeu a cortar 10% do orçamento em todas as áreas (com exceção de segurança), mas isso não foi suficiente.

No começo deste ano, a Rússia perdeu o grau de investimento na avaliação das agências Moody's e Standard & Poor's (a mesma que recentemente deu um voto de confiança ao Brasil).

O desemprego também ainda não foi muito afetado: tradicionalmente, a economia russa se adapta a contrações mais com cortes de salários do que com demissões.

A alta porcentagem de funcionários no setor público também ameniza este efeito, mas o relatório alerta: a pobreza vai subir, e os mais vulneráveis serão os mais afetados.

São Paulo - Em 2009, o jornalista Clóvis Rossi perguntou a Henrique Meirelles como ele havia convencido Lula a aumentar os juros dias após sua posse em 2003. O então presidente do Banco Central respondeu: "Disse a ele que, no Brasil, a inflação dispara sempre que atinge os dois dígitos." Por enquanto, não estamos neste patamar, mas a situação é tudo menos confortável. Na semana passada, o IBGE divulgou que o Brasil teve em janeiro sua maior inflação mensal em mais de uma década. Tudo indica que a taxa deve fechar 2015 acima dos 7%, estourando o teto da meta - o que não acontece desde 2003. Economistas esperam que mesmo com a recessão, o índice só vá começar a ceder em 2016. Mas pelo menos por enquanto, a distinção dos dois dígitos fica com dois vizinhos latino-americanos, duas nações africanas e dois países que estão basicamente em guerra um contra o outro. Veja a seguir qual deve ser a inflação anual nestes 6 países na mediana de economistas ouvidos pela Bloomberg e quais são as raízes do fenômeno em cada um deles:
  • 2. Venezuela

    2 /8(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

  • Veja também

    Inflação estimada para 2015: 72,3% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: o pacote de camisinhas de 2 mil reais é só o último exemplo do quão longe chegou o caos econômico na Venezuela , um dos piores países do mundo para se fazer negócios. Anos de estímulo da demanda combinados com uma desorganização total do setor produtivo e uma moeda desvalorizada levaram a prateleiras vazias; e nada estimula a inflação mais do que a escassez. A recente queda do preço do petróleo arrasou com as finanças do governo e só piorou a situação, já que faltam recursos para comprar importados.  Enquanto isso, o presidente Nicolas Maduro continua culpando forças ocultas pelos desequilíbrio econômicos, que tenta resolver com medidas "criativas" como controle de preços, tomada de empresas e cadastro biométrico para compra em supermercados.
  • 3. Argentina

    3 /8(Reprodução/Facebook)

  • Inflação estimada para 2015: 22,5% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: nossos vizinhos portenhos não hesitaram nem um pouco em aumentar gastos e imprimir dinheiro mesmo durante períodos de bonança. O resultado foi um peso desvalorizado e uma inflação que deve resistir ao segundo ano seguido de recessão na Argentina . As respostas de Cristina Kirchner se resumiram a aumentar o controle do setor privado, tentar segurar a saída de dólar, instituir controles de preços e maquiar as estatísticas oficiais, que já não são consideradas válidas pelas instituições privadas.
  • 4. Ucrânia

    4 /8(Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 17,5% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: instabilidade política, a perda da Crimeia e o separatismo violento no leste empurraram a Ucrânia para uma grave crise econômica. A queda de produção industrial e desvalorização de sua moeda, em especial, contribuíram para a maior taxa de inflação em 14 anos. Outro fator (este em comum com o Brasil) é o aumento dos preços de energia, resultado da decisão do governo de cortar subsídios que existiam há décadas.
  • 5. Gana

    5 /8(SXC.Hu)

    Inflação estimada para 2015: 13,2% (pesquisa de nov/2014) O que está acontecendo: a economia de Gana vem crescendo bastante nos últimos anos, mas isso acelerou a demanda e pressionou a inflação. Uma moeda em desvalorização e um governo com problemas fiscais também não estão colaborando.  A boa notícia é que a tendência é de queda: o petróleo mais barato ajuda a segurar os preços, e a taxa projetada pela Bloomberg está no centro da meta do governo (13% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo).
  • 6. Rússia

    6 /8(Andrey Rudakov/Bloomberg)

    Inflação estimada para 2015: 13% (pesquisa de jan/2015) O que está acontecendo: a Rússia está em um momento difícil, para dizer o mínimo. Em 2014, o país se viu atingido por uma tempestade dupla: de um lado, sanções ocidentais para pressionar Vladimir Putin a deixar a Ucrânia em paz; do outro, uma queda brutal dos preços de petróleo, principal fonte de divisas do governo. O resultado foi uma recessão violenta e uma depreciação forte do rublo. A alta dos juros não foi capaz de conter o processo, e algumas das reações de Putin - como proibir a importação de alimentos da Europa - só pioraram o problema. A solução para acalmar os ânimos foi diminuir o preço mínimo da vodca, que está agora em R$ 14,64 por litro.
  • 7. Egito

    7 /8(Amr Abdallah Dalsh/Reuters)

    Inflação estimada para 2015: 10,6% (pesquisa de dez/2014) O que está acontecendo: o Egito é um dos países do mundo que mais subsidiam energia suja. A redução deste apoio é importante para melhorar a situação fiscal do governo, mas leva a aumentos de preços no curto prazo. O Banco Central também vem cortando os juros, priorizando o crescimento ao invés do controle da inflação. A economia do Egito é muito dependente do turismo e está patinando com toda a turbulência política desde a derrubada de Hosni Mubarak no início de 2011.
  • 8 /8(Getty Images)

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