Economia

Religião diminui crescimento econômico, diz Harvard

Estudo de Harvard descobre que Ramadã mais longo come uma fatia significativa do crescimento - e a culpa não é do jejum

Muçulmanos filipinos rezam durante o início do Ramadã (REUTERS/Romeo Ranoco)

Muçulmanos filipinos rezam durante o início do Ramadã (REUTERS/Romeo Ranoco)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 20 de janeiro de 2014 às 09h30.

São Paulo - A religião atrapalha o crescimento econômico?

A discussão ocorre há no mínimo um século, desde que o sociológo alemão Max Weber publicou "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo".

Filipe Campante e David Yanagizawa-Drott, dois pesquisadores de Harvard, abordam o assunto com um novo trabalho sobre a prática islâmica do Ramadã, que exige o jejum e a abstinência sexual entre o nascer e o pôr-do-sol.

A escolha é engenhosa: além de ser um dos cinco pilares da vida religiosa para os mais de 1 bilhão de islâmicos ao redor do mundo, o Ramadã segue o calendário lunar e portanto ocorre em meses diferentes a cada ano.

Dependendo do hemisfério e da estação de cada país naquela época, varia a quantidade de horas (e o jejum) entre o nascer e o pôr-do-sol. Com isso, fica mais fácil isolar o efeito de outros fatores.

Conclusões

A dupla descobriu que o Ramadã tem um efeito negativo claro no crescimento do PIB dos países islâmicos: um aumento de 12 para 13 horas na duração diária da prática come entre 0,6% e 0,9% da taxa de crescimento naquele ano. Não há qualquer tipo de efeito nos mesmos períodos em países não-islâmicos.


Isso não ocorre porque os fiéis ficam menos produtivos por causa do jejum - apesar de outros estudos terem mostrado que isso também acontece - e sim porque mudam as preferências e as atitudes no mercado de trabalho.

Em outras palavras: durante o Ramadã e logo depois, os fiéis tendem a migrar para ocupações informais ou autônomas ou trabalham menos para poder colocar a religião em primeiro lugar.

Como o efeito sobre o crescimento não é culpa do jejum em si, e sim da intensificação dos valores religiosos, a conclusão pode ser, pelo menos na teoria, aplicada também para outros fenômenos não-islâmicos similares.

Felicidade

Os pesquisadores também descobriram que um Ramadã mais intenso causa uma melhora nos índices de felicidade e satisfação pessoal, medidos pela Pesquisa Mundial de Valores.

O mesmo aumento de 12 para 13 horas na duração diária do Ramadã causa uma alta de 4 pontos percentuais na felicidade do islâmico naquele ano, por exemplo. 

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