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Reino Unido introduz novo plano salarial menos generoso ao trabalhador

O governo vem tentando se equilibrar na linha tênue entre controlar a propagação do vírus e evitar um segundo bloqueio nacional

Reino Unido: governo vem tentando se equilibrar na linha tênue entre controlar a propagação do vírus e evitar um segundo bloqueio nacional (Getty Images/Getty Images)

Karla Mamona

Publicado em 3 de outubro de 2020 às 14h57.

O governo britânico, lutando contra uma segunda onda de casos de coronavírus, anunciou uma série de medidas econômicas novas e estendidas para apoiar empregos e empresas. Mas a peça central, um programa de apoio salarial, é menos generosa para trabalhadores e empregadores do que o programa de licença a ser substituído, que expira este mês.

E isso parece ser proposital.

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Em um discurso na Câmara dos Comuns, Rishi Sunak, o chanceler do Tesouro, falou sobre o peso que o vírus continua representando para o país, e disse que os britânicos têm de "conviver" com ele. "Pelo menos nos próximos seis meses, o vírus e as restrições vão ser um fato de nossa vida. Nossa economia agora provavelmente passará por um ajuste mais permanente", declarou Sunak à Câmara dos Comuns.

O governo vem tentando se equilibrar na linha tênue entre controlar a propagação do vírus e evitar um segundo bloqueio nacional. Além disso, tem tentado proteger os empregos sem apoiar os chamados empregos zumbis, aqueles que estão sendo sustentados apenas por estímulos fiscais.

Sunak está determinado a acabar com o caro programa de licença, que custou ao Tesouro mais de 39 bilhões de libras (US$ 50 bilhões) e apoiou até um terço da força de trabalho britânica. Ele reiterou que este terminaria em 31 de outubro e afirmou que era "fundamentalmente errado manter pessoas em empregos que só existem por causa da licença".

A agência de estatísticas britânica disse que 11 por cento da força de trabalho ainda está no programa de licença.

Em primeiro de novembro, ele será substituído por um novo programa que aumentará parcialmente os ganhos dos trabalhadores que tiveram suas horas cortadas, aparentemente inspirado pelo duradouro programa de trabalhos de curta duração da Alemanha, o Kurzarbeit.

De acordo com o plano, os funcionários devem trabalhar pelo menos um terço de suas horas normais, e a empresa pagará esses salários. Para as horas restantes, a empresa pagará um terço, o governo pagará outro terço e o empregado abrirá mão do último. O programa terá duração de seis meses.

Embora o Tesouro não tenha publicado detalhes de projeções de custos do plano ou de quantas pessoas poderiam ser cobertas por ele, o total provavelmente será significativamente menor que o da licença. No máximo, o governo terá de pagar apenas 22 por cento do custo do salário de um trabalhador antes da redução das horas, e não mais do que cerca de 700 libras por mês. O programa de licença, em sua versão mais generosa durante o confinamento, cobriu 80 por cento do salário de um empregado de até 2.500 libras por mês.

"Isso é menos generoso de alguma forma do que o esquema de licença, e é uma mudança natural, pois as restrições sociais são menos severas", disse Carl Emmerson, vice-diretor do Instituto de Estudos Fiscais.

A declaração de Sunak foi ainda mais otimista do que seu último grande discurso na Câmara dos Comuns, no início de julho, quando disse que o Reino Unido estava entrando na segunda fase de sua resposta econômica ao vírus e o governo anunciou um programa de desconto de refeições para o verão, que se mostrou extremamente popular.

"Sei que as pessoas estão ansiosas, com medo e exaustas com a perspectiva de novas restrições às liberdades econômicas e sociais", afirmou Sunak, acrescentando que "o ressurgimento do vírus e as medidas que precisamos tomar em resposta representam uma ameaça à frágil recuperação econômica".

Sunak, de 40 anos, está apenas no sétimo mês do cargo, assumindo as finanças britânicas poucas semanas antes de o governo fechar grande parte da economia para conter a pandemia. Eleito pela primeira vez para o Parlamento há cinco anos, ele foi mais popular do que Johnson em meados deste ano, reunindo apoio público do programa de licenças e de outras medidas para ajudar a economia. Agora, porém, ele começa a reduzir algumas dessas medidas fiscais. "Não posso salvar todos os negócios. Não consigo salvar todos os empregos", resumiu.

É claro que o desafio é determinar quais empregos devem ser protegidos. Sunak disse que fazer as empresas pagarem por algumas das horas reduzidas seria um sinal de quais empregos eram viáveis.

Mas a adoção de novas restrições, como o fechamento de bares e restaurantes às 22h, atrasam os planos de retomar eventos com grandes multidões de espectadores, e incentivar os trabalhadores de escritório a trabalhar de casa afetará mais empregos e forçará os empregadores a decidir se podem pagar os salários durante mais seis meses de restrições.

Emmerson comentou que era uma boa ideia fazer com que os empregadores pagassem por algumas das horas perdidas, mas que muitos não estariam dispostos a aceitar. "E é por isso que o desemprego certamente vai aumentar em novembro, talvez de forma bastante acentuada."

Até agora, quase 700 mil empregos assalariados foram perdidos desde março no Reino Unido, mesmo com o plano de licença. Sunak disse esperar que o programa de apoio ao emprego incentive os empregadores a reduzir as horas dos funcionários, em vez de demiti-los.

A Resolution Foundation, um think tank econômico focado em padrões de vida, alertou que as empresas podem ter um "forte incentivo" para reduzir as horas dos trabalhadores sem colocá-los formalmente no programa governamental, para evitar incorrer em custos salariais adicionais. "Com estimados três milhões de trabalhadores ainda em licença, um projeto do apoio ao emprego bem estruturado é crucial", observou Torsten Bell, executivo-chefe da organização.

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