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Recuperação desigual: vendas de microempreendedores seguem 18% abaixo de 2021

Índice SumUp do Microempreendedor (ISM) de agosto mostra que vendas seguiram em patamar inferior ao ano passado; expectativa é de melhora no fim do ano

Vendedores na avenida Paulista, em São Paulo: inflação e endividamento das famílias afeta especialmente os pequenos negócios (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
CR

Carolina Riveira

Publicado em 24 de setembro de 2022 às 11h45.

Última atualização em 24 de setembro de 2022 às 11h56.

Apesar do crescimento da economia em 2022, as vendas dos pequenos negócios no Brasil seguem longe da recuperação plena, impactadas pela inflação e endividamento das famílias mais pobres — as principais consumidoras desse tipo de negócio.

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É o que mostra o Índice SumUp do Microempreendedor (ISM) de agosto, elaborado pela empresa de pagamentos SumUp referente à atividade de microempreendedores e autônomos. O setor teve estabilidade no mês, com leve desaceleração de 0,16% na comparação com julho, atingindo a marca de 62,55 pontos no índice.

Na comparação com agosto de 2021, a queda é de quase 18,5%.

A queda na casa dos dois dígitos em relação a 2021 não é exclusividade de agosto e já vinha sendo registrada nos meses anteriores. O índice está na casa dos 62 pontos desde junho, com tendência de estabilidade nos últimos três meses, após desempenho melhor no início do ano.

"Temos mais gente trabalhando, uma massa salarial maior. Mas, por outro lado, a inflação subiu e apertou o bolso do cidadão, a disposição a comprar das pessoas diminuiu. O que estamos observando agora é uma mistura desses efeitos contraditórios", diz Renan Pieri, professor da Fundação Getúlio Vargas e um dos responsáveis por formular o índice.

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O ISM é divulgado mensalmente pela SumUp desde 2019, usando como ponto de partida a cartela de clientes da empresa — que oferece serviços financeiros a micro e pequenos negócios —, combinado a um método estatístico que permite analisar o desempenho nacional dos microvarejistas.

Pior para os pequenos

Os desafios enfrentados pelos microempreendedores e identificados no ISM são parecidos aos do varejo geral. As ações de grandes empresas do setor despencaram na B3 desde o ano passado impactadas pelo cenário macroeconômico, com inflação e perspectiva de alta de juros.

No último dado do varejo divulgado pelo IBGE, referente a julho, o setor teve queda de 0,8% na comparação com o mês anterior e de 5,2% frente a julho de 2021.

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Mas Pieri aponta que o pequeno varejo tem tido uma recuperação ainda mais lenta passado o auge da pandemia — em 2020, os pequenos, sem estrutura de vendas online e sem conseguir concorrer com os preços das competidoras maiores, viveram seu pior momento.

"O varejo sofreu muito, mas o pequeno empreendedor sofreu mais [na pandemia]. E agora, com inflação, também está demorando mais a se recuperar do que o restante", diz o professor.

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Uma pecualiaridade dos pequenos negócios é que uma fatia significativa vende sobretudo para a população de classe C, D e E, cujo poder de compra de insumos básicos tem sido afetado com a alta no preço dos alimentos. O rendimento real das famílias medido pelo IBGE, que leva em conta o impacto da inflação na renda, está em seu pior patamar desde 2013 (mesmo com o desemprego em 9,1%, o menor desde 2016).

O endividamento recorde também atrapalha. Em agosto, o número de famílias endividadas atingiu 79% no Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), e a instituição aponta que parte importante desse bolo é de famílias que têm buscado crédito para sustentar o consumo básico.

Efeito do Auxílio Brasil é incerto

A expectativa é que os números melhorem com a proximidade do fim do ano e datas de descontos como a Black Friday (em novembro). Em 2021, em dezembro, o ISM teve alta de mais de 30% na comparação com agosto do mesmo ano. "Para o microempresário, o final de ano é até mais importante do que para a média do varejo", diz Pieri.

Agosto foi também o primeiro mês com pagamento do Auxílio Brasil elevado de R$ 400 para R$ 600. O resultado ainda não se mostrou no pequeno varejo nesse primeiro mês, mas o programa deve impactar o consumo das famílias mais pobres ao longo do segundo semestre — embora não seja um impacto comparável ao do auxílio emergencial de 2020, quando o auxílio atingiu mais pessoas e, na época, com inflação em menos de 5%, muito abaixo dos atuais 8,7%.

"O Auxílio com certeza deve puxar um pouco as vendas no segundo semestre, mas também não sabemos como as famílias vão administrar, se vão pagar dívida ou consumir no varejo", diz. "Com todo esse problema da inflação e endividamento das famílias, pode acabar diminuindo um pouco o resultado do microvarejista mesmo no fim do ano."

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