Economia

Recuperação da economia brasileira será longa e lenta, aponta FT

A reportagem do Financial Times ressalta que muitas famílias enfrentam um longo período de aperto financeiro e apresenta dados da CNC

Crise: o FT cita dados da Euromonitor que mostram que a despesa média por domicílio caiu 9% entre 2014 e 2016 (Getty Images/Getty Images)

Crise: o FT cita dados da Euromonitor que mostram que a despesa média por domicílio caiu 9% entre 2014 e 2016 (Getty Images/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de fevereiro de 2017 às 16h37.

Londres - A recuperação econômica brasileira será longa e lenta, de acordo com uma reportagem publicada nesta quarta-feira, 8, no site do jornal britânico de economia Financial Times.

"Os brasileiros estão chegando à conclusão de que a recuperação da profunda recessão do país nos últimos dois anos será muito mais lenta do que o esperado", trouxe a publicação.

O FT cita dados da Euromonitor (uma empresa de pesquisa de mercado com sede no Reino Unido), que mostram que a despesa média por domicílio caiu 9% entre 2014 e 2016, ao mesmo tempo em que a criação de emprego se tornou negativa e terminou o boom do consumo alimentado pelo crédito. "O rastreamento de volta será longo e lento", resumiu.

A Euromonitor prevê que as despesas das famílias ultrapassem seu nível de 2014 somente em 2025, em termos ajustados pela inflação.

O gasto médio por domicílio foi de cerca de R$ 68 mil em 2014 e caiu para R$ 61,8 mil no ano passado. Este ano, cairá para cerca de R$ 61,4 mil antes de começar a subir novamente, de acordo com a empresa.

"Estamos em um período de estabilização (e não de recuperação)", observou a gerente de renda e despesa da Euromonitor, An Hodgson, ao FT.

Uma razão apontada para a recuperação lenta é que ela não será alimentada por dívida. "Houve muita conversa sobre a expansão da classe média, sobre pessoas que deixam a pobreza por meio de gastos com crédito", lembrou An.

"Mas a renda familiar está caindo e as condições de crédito estão se apertando." Os dados da Euromonitor mostram agora "uma mudança de confiança no modelo de crescimento liderado pelo consumo".

A especialista salientou que, desde a crise financeira internacional de 2008/2009, a economia brasileira tem sido muito mais dependente do consumo doméstico do que muitas outras economias emergentes.

A despesa do consumidor como fatia do Produto Interno Bruto (PIB) atingiu o pico de 61,8% no ano passado. A Euromonitor espera que caia mais de um ponto porcentual este ano e continue a cair no futuro previsível.

O site do FT ressalta que muitas famílias enfrentam um longo período de aperto financeiro e apresenta dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), mostrando que o volume de dívidas vencidas em janeiro já diminuiu em relação ao pico de setembro do ano passado, mas que continua em níveis historicamente elevados.

A proporção de famílias que dizem não ter condições de pagar suas dívidas também permanece elevada (9,3%), segundo a CNC.

A causa dessa angústia é clara, de acordo com a reportagem: "Depois de anos de criação de empregos, o Brasil vem perdendo vagas no setor formal a um ritmo alarmante".

Em 2016, mais de 1,1 milhão de empregos foram fechados. "Embora a taxa de destruição dos empregos tenha diminuído ao longo do ano passado, a ameaça de desemprego será uma ruptura nas despesas por um longo tempo para vir."

Para o Financial Times, não foi o consumo doméstico que levou o Brasil à recessão e tampouco o fará sair de lá. O site cita dados negativos da produção industrial, mas traz análises de que os investimentos não podem ser adiados "para sempre".

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