"Reação à crise foi muito atabalhoada", diz Marcos Lisboa
Em conversa ao vivo com Arthur Mota e Gabriel Barros, o economista alertou que "a macroeconomia sozinha não salva a dívida de sair do controle"
João Pedro Caleiro
Publicado em 23 de junho de 2020 às 18h30.
Última atualização em 23 de junho de 2020 às 20h48.
O economista Marcos Lisboa, presidente do Insper, avalia que a reação do Brasil à crise econômica causada pelo coronavírus foi "muito atabalhoada".
Em conversa ao vivo com Arthur Mota, economista da EXAME Research, e Gabriel Barros, economista do BTG Pactual, Lisboa destacou a falta de "liderança do poder Executivo".
Isso porque ao contrário do Legislativo e do Judiciário, o Executivo não é um poder "entre iguais" e por isso pode assumir papel de balizar o debate, o que não vem ocorrendo no Brasil.
Um exemplo de soluçõe neste processo, citado por Lisboa, foi a medida de "antecipar renda para quem tem renda garantida", como aposentados, além dos problemas de desenho e execução do auxílio emergencial.
Lisboa notou que apesar do objetivo declarado ter sido conter a perda de renda de parte dos informais devido às medidas de isolamento social, o número de beneficiários já superou o total deste contingente na população - e continua subindo.
"No Brasil descuidamos da implementação, e por isso tantas políticas fracassam", diz o economista.
Uma das razões para isso, no caso do auxílio, foi a falta de cruzamento entre os bancos de dados, o que faz com que não haja controle estrito da eligibilidade de quem recebe o benefício.
"A Receita Federal tem uma base, o antigo Ministério do Trabalho tem uma base, o Ministério da Cidadania tem outra e por ai vaí", disse Gabriel Barros, do BTG Pactual.
Crise fiscal
Marcos Lisboa destacou que a "economia brasileira não vinha bem antes da crise", que o Brasil tem um problema crônico de baixo crescimento e gastos públicos e que mesmo com juros baixos, "a macroeconomia sozinha não salva a dívida de sair do controle".
Sua preocupação maior é com a sustentabilidade fiscal dos estados, que "vèm quebrando no Brasil desde os anos 80, sistematicamente", não realizam as suas reformas estruturais para conter gasto com pessoal e aposentadorias e sempre buscam socorro da União na hora da dificuldade.
Arthur Mota, do EXAME Research, levantou o tema das agendas em debate, como as reformas administrativa e tributária, cujos textos não foi apresentado pelo governo federal, e do novo Marco Legal do Saneamento Básico, que deve ser votado nesta quarta-feira (24) no Senado Federal.
Lisboa considera o Marco do Saneamento "importante, mas tímido" para os desafios de uma área que é um "caso inegável do fracasso brasileiro". O economista tem uma visão semelhante sobre as diretrizes gerais já antecipadas da reforma administrativa, que não estariam à altura do desafio.
Veja como foi a conversa: