Álvaro Frasson, Fabiane Stefano e Arthur Mota apresentam Questão Macro a partir desta semana (Divulgação/Exame)
Fabiane Stefano
Publicado em 14 de outubro de 2020 às 17h20.
Última atualização em 14 de outubro de 2020 às 17h37.
Mesmo durante a pandemia, alguns setores da economia têm crescido, como farmácias, supermercados e material de construção. Ao mesmo tempo, a reabertura gradual das atividades econômicas tem dado uma ponta de esperança a setores fortemente afetados pelas restrições, como o de serviços, mas ainda não o suficiente para voltar ao patamar pré-pandemia.
Para o economista Álvaro Frasson, do BTG Pactual Digital, esse desempenho desigual entre os diferentes setores econômicos deve se manter até que se tenha uma vacina contra o coronavírus.
"Está bastante claro que não teremos uma recuperação homogênea, com serviços fortes, sem uma vacina disponível", explicou Frasson no Questão Macro. "Enquanto isso não acontecer, a recuperação continua incerta e heterogênea, liderada por atores que, por motivos naturais, conseguem se adaptar melhor à realidade da pandemia. Um exemplo no varejo é o Magazine Luiza, que cresceu muito neste ano."
Enquanto uma vacina não vem, o consumo presencial também está fora de cogitação para uma parte significativa da população. Metade dos brasileiros afirma estar com medo de fazer compras pessoalmente. Para 42%, um pouco mais otimistas, a segurança só virá quando o número diário de casos registrar uma queda significativa, o que ainda não ocorreu. E boa parte das pessoas, 45%, se sente desconfortável em fazer atividades fora de casa. É o que mostra uma pesquisa da consultoria Oliver Wyman, feita com 3.000 brasileiros entre os meses de maio e julho, em uma reportagem publicada na última edição da EXAME.
Economista da EXAME Research, Arthur Mota destacou que é importante analisar se o ritmo de crescimento dos setores que estão indo bem é sustentável. Para ele, a depender dos cenários para 2021, pode haver uma convergência do desempenho dos setores. "Aqueles que saíram na frente, como a indústria, podem recuar caso haja uma frustração da atividade econômica. E aqueles que estavam para trás podem acelerar e alcançar bons números", explicou.
Há alguns dias, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sinalizou que a prioridade do Congresso nesses últimos meses de 2020 é a aprovação da PEC Emergencial. Na avaliação de Frasson, é improvável que essa votação, considerada impopular, aconteça antes das eleições municipais. E que, por isso, o Congresso deve buscar arranjos que garantam votar a PEC logo após o pleito — por exemplo, a possibilidade de suspensão do recesso parlamentar no final do ano.
"Os dados de confiança da indústria confirmam que, caso não haja um sinal claro do governo em relação às reformas, o empresário não vai investir", disse Frasson. "Se não houver algo minimamente concreto até o fim do ano, teremos uma volatilidade muito ruim entre dezembro e janeiro. E aí temos, de novo, esse cenário de crescimento bagunçado para 2021."
No cenário internacional, há um horizonte de estabilidade em relação às eleições americanas, uma vez que o mercado já começou a digerir bem uma possível vitória de Joe Biden. Para Arthur Mota, apesar da preocupação com o aumento da carga tributária corporativa proposto pelo democrata, o controle do Senado pelos republicanos desenha uma conjuntura positiva para o próximo ano.
"Os democratas têm um histórico de gastos públicos mais alto, que é a sugestão do mercado e do Fed para sustentar a retomada econômica no próximo ano", disse Mota. "Um governo mais 'gastão' de um lado, e do outro um aumento de carga tributária menor do que se Biden tivesse o Congresso inteiro a seu favor, os Estados Unidos estariam em um cenário perfeito."
Esses e outros assuntos foram debatidos na tarde desta quarta, 14, no programa semanal Questão Macro, apresentado pelos economistas Arthur Maia, da EXAME Research, e Álvaro Frasson, do BTG Digital. A conversa é mediada pela jornalista Fabiane Stefano, editora de macroeconomia da EXAME.