Economia

Queda nas vendas de carros deixa economia da China em alerta

A queda nas vendas de carros pode se transformar em mais um símbolo da constante desaceleração do país


	Carros na China: venda de carros novos caiu em junho pela primeira vez em mais de dois anos
 (AFP/Liu Jin)

Carros na China: venda de carros novos caiu em junho pela primeira vez em mais de dois anos (AFP/Liu Jin)

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Da Redação

Publicado em 3 de agosto de 2015 às 22h45.

Quando a economia da China estava se expandindo, os motoristas se tornaram um símbolo do novo poder de compra do país.

Agora, a queda nas vendas de carros pode se transformar em mais um símbolo da constante desaceleração do país asiático.

A demanda voraz fez a China superar os EUA como maior mercado automotivo do mundo em 2009, levando gigantes automotivas como Ford Motor Co. e Volkswagen AG a turbinarem sua produção no país.

Em contrapartida, a Ford agora vê um potencial declínio nas vendas de automóveis na China pela primeira vez em 17 anos. A Volkswagen sofreu sua primeira queda nas vendas em uma década durante o primeiro semestre do ano.

Devido ao fato de a demanda automotiva ser, muitas vezes, um indicador oportuno da confiança do consumidor e empresarial, ela pode capturar tendências econômicas antes dos dados oficiais.

Com o setor automotivo em segundo lugar, atrás apenas do imobiliário, entre aqueles que provocam o maior impacto sobre os fornecedores, de acordo com o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA, a fragilidade do setor ameaça agravar a recessão da indústria.

Um índice que utiliza informações dos gerentes de compras das fábricas da China caiu em julho e atingiu a maior baixa em cinco meses.

“A queda na venda de carros é, definitivamente, um sinal de alerta para a economia chinesa”, disse Paul Gao, chefe de prática automotiva para a Ásia da McKinsey Co. em Xangai. “A venda de carros é um reflexo da confiança do consumidor”.

A venda de carros novos caiu em junho pela primeira vez em mais de dois anos.

A Ford prevê que o mercado ficará em um nível baixo neste ano, de 23 milhões de unidades, contrastando com os 23,5 milhões de veículos comercializados no ano passado.

A Hyundai Motor Co. também informou queda em suas vendas.

Sentimento do comprador

Na semana passada, a Associação de Concessionárias de Automóveis da China alertou que as vendas nacionais poderiam cair pela primeira vez em mais de 17 anos se a crise do mercado de ações do país continuar.

A queda das ações prejudica o sentimento do comprador, disse Luo Lei, vice-secretário-geral da associação do setor, na sexta-feira.

“A primeira coisa a apresentar reflexos quando há águas agitadas pela frente é a venda de carros”, disse Thomas Glendinning, analista em Londres da BMI Research, uma unidade da Fitch Group que também realiza classificações de crédito.

“As pessoas começam a pensar menos em chamar a atenção e mais no custo-benefício ao fazer uma grande aquisição”.

Sem dúvida o mercado automotivo da China ainda está crescendo e as vendas deste ano vêm sendo afetadas por uma corrida, nos últimos dois anos, para a compra de carros antes de limites ao registro de veículos novos entrarem em vigor.

Outras dinâmicas também estão em jogo. Após anos abocanhando automóveis em números cada vez maiores, os consumidores de classe média estão começando a comprar outros itens caros.

As vias com trânsito congestionado também estão tornando os percursos para o trabalho mais caros e demorados, disse Julia Wang, economista do HSBC Holdings Plc em Hong Kong.

“O mercado cresceu muito rapidamente nos últimos anos e de certa forma está atingindo uma saturação”, disse Wang. “Por isso a velocidade da expansão naturalmente precisa diminuir”.

Contudo, a venda mais fraca de carros prejudicará os fornecedores. Com as fabricantes de carros reduzindo a produção e cortando custos, o impacto repercutirá em todo o país, segundo Le Xia, economista-chefe para a Ásia do BBVA em Hong Kong.

As vendas de carros responderam por 12,2 por cento das vendas totais do varejo em junho, disse Le.

“Esse declínio deverá pesar sobre o consumo da China daqui por diante”, disse Le.

“De fato, o consumo foi o facho de esperança em meio à desaceleração do crescimento da China”.

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