EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
Principal fiador da política econômica do governo Lula, após a queda de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, evitou alimentar publicamente as divergências com o atual titular da Fazenda, Guido Mantega, mas defendeu as medidas adotadas pela instituição para conter a inflação. "Se fizermos uma brincadeirinha e abaixarmos a taxa de juros para agradar a população, a inflação volta a crescer, não cumprimos a meta e não ajudamos o país", afirmou Meirelles durante almoço promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), em São Paulo.
Desde a posse de Mantega, no final de março, o mercado teme um embate entre o novo ministro, conhecido como desenvolvimentista, e Meirelles, mais ortodoxo. Nesta quinta-feira (27/4), a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) foi o estopim para que as divergências viessem à tona. No documento, a diretoria do BC indica que a Selic pode cair em ritmo menor nos próximos meses, devido a incertezas no ambiente econômico. O texto menciona que a política monetária deverá ter mais "parcimônia" daqui em diante. O mercado interpretou a ata como um sinal de que os juros cairão menos que o previsto e, até mesmo, podem estar próximos do fim do ciclo de queda. No mesmo dia, Mantega declarou não ver motivos para uma desaceleração dos cortes, ressaltando que há muito espaço para que a Selic retroceda.
Evitando aprofundar a crise gerada pelas declarações de Mantega, Meirelles afirmou, após o encontro do Ibef, que "muitas vezes, a discussão é absolutamente legítima e positiva. Não vi nada demais. Foi uma observação equilibrada". Segundo Meirelles, não há atritos entre ele e o titular da Fazenda. "Minha sintonia e diálogo com Mantega são as melhores possíveis. Temos tido conversas produtivas, em um ambiente de cooperação e debate", disse.
Apesar das declarações destinadas a apagar a fogueira, Meirelles pontuou sua apresentação, durante o almoço no Ibef, de passagens que visavam à defesa das medidas adotadas pelo BC. "A política monetária, da forma como é feita, funciona sim", afirmou, ao mostrar a trajetória decrescente da inflação. Segundo o presidente do BC, o atual desafio do governo é fazer com que a sociedade compreenda as vantagens de contar com uma inflação baixa. Entre os ganhos, o presidente do BC citou a queda do risco-país, que barateia a captação de recursos no exterior.
Meirelles admitiu, porém, que a taxa real de juros do país é alta. Segundo a consultoria GRC Visão, após a redução da Selic para 15,75% ao ano, promovido na semana passada, os juros reais ficaram em 11,1% ao ano - os maiores do mundo. "Não há dúvidas de que a taxa de juros está alta. É evidente. Basta comparar com outros países. O problema é o que fazer para baixá-la", disse.
Numa resposta indireta aos que defendem um corte acelerado de juros - caso de Mantega - Meirelles ressaltou que o BC não controla totalmente a Selic e precisa considerar as variáveis econômicas. "A história mostra que quem tenta baixar os juros em condições para as quais o mercado não está preparado acaba gerando uma alta da curva futura de juros, porque o mercado antecipa que a inflação vai subir e os juros precisarão subir novamente para contê-la", diz. Ou seja, uma queda acelerada serviria apenas a propósitos momentâneos, trazendo a inflação de volta e forçando a uma nova alta de juros. O melhor caminho, para Meirelles, é o gradualismo inspirado no Federal Reserve, o banco central americano. "Quando as pessoas apostarem numa inflação futura baixa e tiverem certeza de que ela será baixa, teremos dado um grande passo no Brasil", diz.