Economia

Quanto mais rápido Temer cair, melhor, diz consultoria econômica

"O governo Temer, muito provavelmente, morreu. Resta saber como será sepultado", diz nota da LCA Consultores; veja na íntegra

 (Ueslei Marcelino/REUTERS/Reuters)

(Ueslei Marcelino/REUTERS/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de maio de 2017 às 18h50.

Última atualização em 24 de maio de 2017 às 17h59.

São Paulo - De acordo com a consultoria econômica LCA Consultores, quanto mais rápido Michel Temer cair, melhor será para a economia.

O mercado financeiro amanheceu em pânico após as denúncias de que um dos controladores do frigorífico JBS gravou o presidente autorizando pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso.

"Enquanto Temer resistir, a crise escalará, nos mercados e nas ruas. Coxinhas e petralhas, cada um no seu quadrado, se unirão para pedir a cabeça de Temer", diz o texto.

Há três possibilidades agora: renúncia, cassação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e impeachment, e todas levam a uma eleição indireta pelo Congresso.

A consultoria e outras economistas preveem corte menor nos juros, abalos na retomada da atividade econômica e paralisação no andamento de reformas, pelo menos por enquanto.

Veja na íntegra a nota da LCA Consultores enviada pelo economista-chefe Bráulio Borges:

"O governo Temer, muito provavelmente, morreu. Resta saber como será sepultado.

Temer somente sobreviverá se a gravação, ainda não divulgada, for pífia. Porém, dificilmente a gravidade do conteúdo da conversa entre Temer e Joesley Batista ficará aquém do que foi noticiado.

A delação da Odebrecht não foi capaz de paralisar o governo e o Congresso. Mas a da JBS será. A paralisia perdurará enquanto Temer permanecer na Presidência.

Do ponto de vista da economia e da restauração da normalidade do país, quanto mais rápido Temer cair, melhor.

Sendo assim, uma renúncia seria a opção que aceleraria a restauração da governabilidade. Enquanto Temer resistir, a crise escalará, nos mercados e nas ruas. Coxinhas e petralhas, cada um no seu quadrado, se unirão para pedir a cabeça de Temer.

Caso Temer resista à renúncia, a “alternativa TSE” se imporá. Antes, o TSE, assumindo o papel de guardião da normalidade institucional, manteria Temer para não gerar nova crise política. Agora, talvez opte por cassá-lo para evitar o aprofundamento da crise (e o STF tenderá a rapidamente sancionar sua decisão).

Impeachment é a saída mais custosa. Porque é demorada e porque, se chegarmos a esse ponto, significa que Temer levou adiante a disposição de se defender politicamente. E, como afirmamos acima, enquanto Temer permanecer, a crise não se dissipará.

Nesse cenário, as reformas param. Podem ser retomadas mais adiante? É bastante incerto. Pode acontecer, mas somente após a saída de Temer, a depender de quando e como a sucessão transcorrer.

A Constituição determina eleição indireta até 30 dias após a vacância do cargo. Antes disso, o Congresso tem que votar a toque de caixa a regulamentação da eleição indireta.

Haverá muita pressão da opinião pública e mesmo no Congresso para que eleição seja direta. Essa alternativa é menos provável, mas não pode ser descartada.

É muito difícil vislumbrar quem assumirá a Presidência, escolhido pelo Congresso ou pelo povo. No primeiro caso, será alguém pró establishment, de perfil mais conservador e habituée das rodas de poder em Brasília. No segundo, a conjuntura favorece nomes novos, de perfil outsider.

O choque político desfavorável desta semana demandará ajustes nas projeções de nossos cenários macroeconômicos. A hipótese central a partir da qual assentaremos a revisão de nosso cenário base é de que, durante o período de indefinição política, a atual equipe econômica – ou ao menos a atual diretriz de política econômica – será mantida.

Sob essa hipótese, os mercados locais, após assimilarem o choque, tenderão a se acomodar – sem, contudo, devolver boa parte da depreciação de ativos que a deterioração do quadro político tende a provocar nos próximos dias. Isso, em boa medida, porque os ativos (incluindo o risco-Brasil e o câmbio) devem passar a incorporar a percepção de que as reformas não avançarão mais.

Nesse contexto, o Banco Central tende a ficar mais cauteloso na condução da política monetária. Uma intensificação no ritmo de redução do juro, tal como havíamos passado a considerar em nosso cenário base, parece improvável.

Mas um corte de 100 pontos-base no final deste mês ainda é possível, desde que a hipótese de acomodação dos mercados prevaleça, uma vez que o cenário inflacionário de curto e médio prazo segue confortável (mesmo com um câmbio mais depreciado).

Entretanto, o espaço para que o juro básico seja reduzido para abaixo do nível considerado neutro diminui sensivelmente; e, de resto, as estimativas (do mercado e da autoridade monetária) para o juro neutro tendem a ser revistas para cima, em função da frustração com o andamento das reformas.

Nessas circunstâncias, a recuperação da economia – em particular da formação bruta de capital fixo – tenderá a ser ainda mais lenta e irregular do que vínhamos antevendo. Nossos cenários serão recalibrados à luz dos acontecimentos políticos recentes e vindouros."

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