Produtores argentinos seguram soja com inflação em disparada
Apenas 46% da safra de soja foi vendida, ante 57% no mesmo estágio no ano passado
André Lopes
Publicado em 15 de julho de 2022 às 17h23.
Na Argentina, o maior exportador mundial de óleo e farelo de soja, os produtores estão segurando suas colheitas mais do que o normal para se defenderem da inflação e esperar uma alta do dólar, em mais um golpe para o abastecimento global de alimentos.
Os produtores há muito usam a estocagem para se proteger contra a economia notoriamente volátil da Argentina, especialmente as oscilações da moeda e dos impostos de exportação.
Mas este ano, a disparada de inflação está exacerbando essa dinâmica. Eles venderam apenas 46% da safra de soja, ante 57% no mesmo estágio no ano passado, segundo dados do governo e da bolsa de grãos.
Vá além do básico. Assine a EXAME e tenha acesso ilimitado às principais notícias e análises.
Os estoques de soja maiores do que o normal, muitas vezes mantidos nos campos em sacos gigantes em forma de salsicha, mostram a luta dos agricultores com taxas de inflação entre as mais altas do mundo - os preços ao consumidor subiram 64% em junho em relação a um ano atrás, com previsão de piorar.
Mais estocagem sinaliza embarques mais lentos de óleo de soja e farelo de soja em um momento em que as cadeias de suprimentos de alimentos já estão fortemente afetadas pelo impacto persistente da pandemia e da guerra na Ucrânia.
Também reduz os fluxos de divisas para a Argentina, agravando a dificuldade do país de honrar suas dívidas.
VEJA TAMBÉM:Banco Mundial diz que mundo pode viver estagflação como nos anos 1970
Os preços de tudo estão subindo - desde diesel e pneus para tratores a salários de lavradores e o custo de frete cobrado por caminhoneiros.
Mas a alta da cotação oficial do dólar, que é controlada pelo governo e determina a receita de exportação dos produtores, não tem acompanhado o ritmo da alta de preços.
Então, em vez de vender soja para exportação agora, é melhor esperar por uma desvalorização cambial maior do peso ou simplesmente trocar grãos por insumos.
VEJA TAMBÉM:Por que o mercado imobiliário chinês está preocupado com calote de hipotecas
“Na Argentina, eles tendem a manter os grãos o maior tempo possível, tratando-os como dinheiro no banco”, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX. “Chega ao ponto de escambo para comprar uma nova caminhonete com grãos em vez de pesos.”
Mas o escambo de soja em meio a inflação alta e oscilações cambiais é arriscado.
Ariel Striglio, agricultor da província de Santa Fé, aproveitou a alta de preços da soja para trocar parte de sua safra por insumos e pagar dívidas enquanto estoca cerca de metade de sua colheita. Mas dois negócios fracassaram por causa do ritmo dos movimentos de preços.
VEJA TAMBÉM:Caso Evergrande: por que o mercado imobiliário está na mira de Xi Jinping
Depois de negociar um empréstimo para uma nova semeadora, Striglio teve que cancelar a compra depois que o banco aumentou a taxa de juros em 15 pontos percentuais.
Fornecedores de fertilizantes também anularam uma venda de que ele precisa para o plantio de milho e girassol em apenas algumas semanas após uma disparada do dólar paralelo.