Edifício-Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (./Exame)
Fabiane Stefano
Publicado em 24 de junho de 2021 às 06h00.
Última atualização em 24 de junho de 2021 às 07h19.
As pressões inflacionárias continuam no radar de analistas e economistas. Nesta quinta-feira, 24, o Banco Central divulga o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que trará não apenas dados dos últimos meses, mas projeções para os próximos. O documento é aguardado, pois costuma ajudar o mercado financeiro a refinar suas estimativas e cenários.
A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada na terça-feira, 22, reforçou percepções importantes sobre a dinâmica inflacionária no momento. A projeção para o IPCA de 2021 no cenário básico está em 5,8%. Este cenário pressupõe a taxa de juros variando conforme a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,05 e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Já a projeção para 2022 está em 3,5%.
Essas estimativas já constaram no comunicado da semana passada, quando o Copom aumentou a Selic (a taxa básica de juros) em 0,75 ponto porcentual, para 4,25% ao ano. Foi a terceira elevação consecutiva. Na ocasião, o BC também indicou a intenção de novo aumento da Selic no encontro de 3 e 4 de agosto.
Para o cálculo das projeções, o BC utilizou taxa de câmbio partindo de R$ 5,05, que é a média da taxa de câmbio observada nos cinco dias úteis encerrados no dia 11 de junho.
Em setembro do ano passado, durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o BC havia anunciado que pretendia dar preferência ao câmbio PPC em suas projeções, e não mais ao câmbio fixo ou baseado no Focus.
Por meio da ata, o BC repetiu que a persistência da pressão inflacionária "revela-se maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais". Este comentário do BC contrasta com as avaliações iniciais do colegiado sobre os choques que surgiram durante a pandemia.
Quando os preços dos alimentos começaram a pressionar a inflação no fim do ano passado, por exemplo, a avaliação inicial do BC era de que o choque seria temporário. Mais recentemente, o BC vem reconhecendo a continuidade das pressões.
"Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do real", registrou o BC na ata divulgada no dia 22.
Conforme o documento, o comitê segue atento "à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos".
Os riscos fiscais continuam a ter um grande peso nas expectativas para a inflação, diz a ata. O Copom avaliou que as projeções de inflação estão alinhadas à meta para 2022, considerando o cenário básico, que utiliza a trajetória para a taxa de juros extraída da pesquisa Focus. "O Comitê ponderou que apesar da evolução recente mais positiva, os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta nas projeções", enfatizaram no documento.
Essa assimetria no balanço de riscos, conforme a diretoria colegiada, afeta o grau apropriado de estímulo monetário e justifica uma trajetória para a política monetária com menos estímulos do que a utilizada no cenário básico.
Na sequência dessa discussão, os membros do Copom analisaram diferentes trajetórias de normalização de juros. "Levando em conta o cenário básico e o balanço de riscos, o Comitê observou que, caso não haja mudança nos condicionantes de inflação, elevações de juros subsequentes, sem interrupção, até o patamar considerado neutro implicam projeções em torno da meta de inflação no horizonte relevante", trouxe a ata da reunião que elevou a taxa básica de juros em 0,75 ponto porcentual, para 4 25% ao ano.
O documento explicou que, por isso, tornou-se apropriada a normalização da taxa de juros para esse patamar. "O Comitê decidiu comunicar essa decisão, mantendo a transparência sobre a trajetória de política monetária implícita nas suas projeções e reafirmando que essa visão será sistematicamente reavaliada conforme ocorrem mudanças nos determinantes de inflação ou no balanço de riscos", enfatizaram.
O Copom avaliou que os riscos para a recuperação econômica "reduziram-se significativamente". A análise consta da ata da reunião da semana passada. Os membros do colegiado comentaram que, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia, os indicadores recentes, os dados da atividade econômica brasileira continuam mostrando evolução mais positiva do que o esperado.
Eles salientaram também que isso teve como implicação revisões relevantes nas projeções de crescimento. A diretoria colegiada, no entanto, ressaltou que as diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação.
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