Por que os jovens perdem mais na crise e o que eles podem fazer
Em um ano, taxa de desemprego entre a população de 14 a 24 anos passou de 19,3% para 26,5% - dobro da taxa entre a população em geral
Ana Laura Prado
Publicado em 15 de novembro de 2016 às 08h00.
Última atualização em 16 de novembro de 2016 às 13h09.
São Paulo – Os jovens têm sido os mais afetados pela piora do desemprego em meio a uma das maiores crises econômicas já registradas no Brasil.
Segundo dados do IBGE, o desemprego na população em geral foi de 8,3% no primeiro semestre de 2015 para 11,3% no mesmo período de 2016.
Enquanto isso, a taxa de desemprego entre a população de 14 a 24 anos passou de 19,3% para 26,5% na mesma comparação.
A taxa de desemprego é sempre mais alta entre os jovens. Com menos qualificação e experiência profissional, eles acabam ficando menos tempo nas vagas até que consigam se estabilizar.
Ainda mais em tempos de crise. Do ponto de vista das empresas, é mais importante manter os cargos mais altos, e os postos destinados aos mais jovens são os primeiros a serem cortados.
Imagine um jovem que trabalhava para se sustentar e pagar seus estudos. Precisando cortar gastos, sua empresa o demite.
Agora imagine outro jovem, que tem os estudos pagos pelos pais e não precisa trabalhar. Nesse caso, sua mãe ou pai sustentava a família e perdeu seu emprego em uma empresa que fechou com a crise.
O primeiro jovem precisa encontrar um novo emprego. O segundo, com renda familiar comprometida, precisa começar a procurar. Com um mercado de trabalho fraco e poucas vagas abertas, tanto um quanto outro podem demorar para encontrar.
Mas para Wilson Amorim, professor do departamento de Administração da FEA-USP, é o primeiro caso, do jovem que já estava no mercado de trabalho, que tem pesado mais.
“O mais comum é que o segundo semestre apresente uma taxa de desemprego em queda”, afirma. “Mas, de setembro e outubro de 2014 para cá, não observamos esse comportamento normal”.
O que esperar
Segundo Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências, a economia já deve melhorar no ano que vem, com um crescimento de 1,5% no PIB:
“O índice de desemprego deixaria de subir ao redor do 1º trimestre e, então, poderia caminhar para uma trajetória de redução”.
Uma projeção semelhante é apontada por Juliana Serillo, economista da MB Associados. Para ela, a expectativa é que em dezembro de 2017 o índice de desemprego agregado já diminuirá para 10,6%.
“A partir disso, há um movimento natural e todas as taxas voltam a índices mais normais”.
Além disso, o próprio número de pessoas procurando emprego deve diminuir – quem perdeu o emprego pode voltar ao mercado e, quem havia começado a procurar, pode deixar de precisar. Segundo ela, esse movimento já tem mostrado seus sinais.
Isso, é claro, se a recuperação econômica se confirmar. A previsão para 2017 do Boletim Focus, que expressa o consenso do mercado, caiu de 1,3% para 1,13% no último mês.
“A dinâmica de recuperação ainda não é clara”, explica Bacciotti, completando que o cenário atual é comparável aos anos 80, a chamada “década perdida”.
Até lá...
Um mercado de trabalho fraco não é desculpa para se acomodar. Para Amorim, é justamente o contrário:
“Em um cenário de maior oferta de empregos, as organizações terão filas. E vai estar em primeiro quem se qualificou”, explica.
Sendo assim, buscar por cursos técnicos ou de idiomas é uma boa opção. O professor destaca que quem não tem como pagar por uma formação não precisa ficar parado:
“É importante se manter atualizado e buscar pela programação gratuita pela cidade. Sempre há opções de palestras e muitas coisas culturais, principalmente em faculdades que abrem para o público”.
Outro ponto fundamental, segundo ele, é o networking. Avisar aos amigos e conhecidos que se está em busca de novas oportunidades, por exemplo, pode ser uma boa ideia.