Polo de celulose, Três Lagoas tem infraestrutura fraca
Três Lagoas, Mato Grosso do Sul - Uma cidade com menos de 100 mil habitantes no Mato Grosso do Sul deve se tornar o maior centro produtor de celulose no mundo, com capacidade acima de 4 milhões de toneladas em 2014, mas sofre hoje com problemas de infraestrutura. Três Lagoas, na divisa com o Estado […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
Três Lagoas, Mato Grosso do Sul - Uma cidade com menos de 100 mil habitantes no Mato Grosso do Sul deve se tornar o maior centro produtor de celulose no mundo, com capacidade acima de 4 milhões de toneladas em 2014, mas sofre hoje com problemas de infraestrutura.
Três Lagoas, na divisa com o Estado de São Paulo, é com frequência descrita como um polo mundial de celulose. O município de 95 anos trocou a vocação para a pecuária pela silvicultura.
No município, os eucaliptos estão por toda parte e todos sabem o nome das empresas responsáveis pela alta de quase 120 por cento na arrecadação em cinco anos: Fibria e International Paper (IP). No futuro, o crescimento será maior, com a chegada da novata Eldorado Celulose, que tem entre os sócios os donos do frigorífico JBS.
O taxista Gerson Souza e Silva, 50, vem acompanhando a transformação da cidade. Segundo ele, o número de "corridas" de Três Lagoas para Araçatuba (SP), onde fica o aeroporto mais próximo, mais do que duplicou durante a construção da fábrica da Fibria, concluída no começo de 2009.
"Com o início da construção da Eldorado Celulose, a quantidade de trabalho voltou a crescer", disse Silva.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Três Lagoas ainda é a 56o maior exportadora do Brasil. Mas de janeiro a maio multiplicou por seis o montante exportado em comparação a igual período de 2009, para 263 milhões de dólares.
A celulose que terá origem na cidade sul-mato-grossense em 2014 equivale a quase um terço do total do insumo produzido no país no ano passado, segundo a Bracelpa, associação do setor.
Contudo, apenas no ano passado Três Lagoas passou a ter aterro sanitário. Só metade da cidade tem rede de esgoto, mesma fatia que terá de ruas asfaltadas no final de 2010. O município, dominado por bicicletas, tem poucas linhas de ônibus e nenhuma livraria.
"Com o desenvolvimento vem a demanda por habitação, asfalto, esgoto, escolas, saúde e segurança", disse à Reuters a secretária de Produção e Turismo do Estado, Tereza Cristina da Costa.
Incentivos
Fibria e IP inauguraram linhas de produção integradas de celulose e papel no início de 2009. Antes mesmo das fábricas o setor já estava presente em Três Lagoas: desde a década de 1980, a Champion, atual IP, tinha uma relevante base florestal no município.
Segundo o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), as produtoras de celulose escolheram Três Lagoas pela qualidade do município e "também porque a cidade e o Estado concederam benefícios fiscais".
As empresas do setor têm redução de 90 por cento no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por 15 anos.
Segundo a secretária de Produção e Turismo do Estado, Três Lagoas tem atraído outras indústrias. A cidade espera o início da construção da Siderúrgica Três Lagoas (Sitrel) e de uma fábrica de fertilizantes da Petrobras, que na última semana recebeu a escritura do terreno de 500 hectares.
A prefeita de Três Lagoas, Márcia Moura (PMDB), destaca o outro lado dos incentivos. "Todas as indústrias sabem que quando finalizam a obra têm que ter dois terços de funcionários da cidade."
Na época da construção da fábrica da Fibria, quando a empresa não estava restrita ao uso de mão de obra local, 12 mil pessoas habitaram temporariamente Três Lagoas.
Durante a construção, Fibria e IP fizeram parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Em 2007, ambas formaram 6 mil alunos em áreas como construção civil, montagem mecânica e elétrica. "Os cursos e todas as vagas foram criadas a partir da demanda das empresas", disse a supervisora de Educação e Tecnologia do Senai de Três Lagoas, Lívia Messias.
Cerca de 10 mil pessoas trabalham nas indústrias de Três Lagoas, incluindo as que estão nas florestas de eucalipto. Devido à migração do emprego para as fábricas, sobram vagas de trabalho no comércio da cidade.
Novas fronteiras
Três Lagoas tem cerca de 1 milhão de hectares e 160 mil são ocupados por eucalipto. O secretário de Finanças e Planejamento de Três Lagoas, Walmir Arantes, disse que o preço de terras na cidade mais do que triplicou de 2005 a 2009.
Segundo o Plano Estadual de Florestas do Mato Grosso do Sul, o leste do Estado tem forte potencial para a silvicultura. Além de Três Lagoas, municípios como Santa Rita do Pardo, Brasilândia e Bataguassu têm os requisitos necessários para a instalação de uma fábrica de papel e celulose.
O Estado todo tem 265,2 mil hectares de florestas de eucalipto, de acordo com o levantamento. Até 2030 devem ser plantados 660 mil hectares em áreas das empresas, mais 130 mil por parceiros e 95 mil por outros produtores.
"Três Lagoas está preparada para uma nova fábrica (de celulose)... Temos consciência do que é o desenvolvimento e como as carências devem ser administradas", disse a prefeita da cidade.
A secretária de Produção e Turismo do Estado discorda. "Em Três Lagoas não cabe mais uma fábrica de celulose", afirmou Tereza Cristina. "Mas existe interesse de duas empresas de celulose de se instalarem no Estado. Não em Três Lagoas, mas na região", acrescentou, sem revelar os nomes das companhias.
A cidade de Aracruz e região vizinha, no norte do Espírito Santo, é hoje o principal polo produtor de celulose do Brasil, com capacidade de 2,3 milhões de toneladas anuais da Fibria. A impossibilidade de expansões adicionais ali levou a maior produtora mundial de celulose a investir também na Bahia, onde tem uma joint-venture com a finlandesa Stora Enso.
Para chegar a mais de 4 milhões de toneladas anuais de celulose daqui a cinco anos, Três Lagoas conta com a fábrica em construção pela Eldorado de 1,5 milhão de toneladas e uma nova linha de produção da Fibria de 1,3 milhão de toneladas, que se somam à unidade já em operação pela última.