PIB do Reino Unido pode ter queda histórica de 13% em 2020
Cálculos feitos pelo Escritório de Responsabilidade Orçamentária apontam que o retrocesso será maior que o registrado depois de cada Guerra Mundial
Beatriz Correia
Publicado em 14 de abril de 2020 às 15h42.
Última atualização em 14 de abril de 2020 às 15h58.
A economia britânica pode retroceder 13% em 2020, devido à paralisia econômica gerada pela pandemia do coronavírus , de acordo com os cálculos publicados pelo Escritório de Responsabilidade Orçamentária.
Os cálculos do instituto, encarregado das previsões econômicas e orçamentárias do governo, baseiam-se em um confinamento de três meses, seguido de três meses de suspensão progressiva das restrições.
"Será um retrocesso mais importante que o registrado depois de cada Guerra Mundial ou durante a crise financeira de 2008", advertiu a instituição.
Os números serão especialmente negativos no segundo trimestre, mas a economia registraria rapidamente resultados positivos no terceiro e quarto trimestres.
O instituto considera ainda que, nestas condições, o desemprego deve passar de 7% da população ativa em 2020. De modo concreto, no segundo trimestre do ano o país pode registrar dois milhões de novos desempregados.
Reabertura na Europa
A reabertura de alguns estabelecimentos comerciais ou locais públicos na Áustria e na Itália e a tímida volta ao trabalho de alguns setores industriais na Espanha, depois de semanas de confinamento, injetam esperança em um planeta paralisado pela pandemia e que teme a futura recessão.
Com mais de 120.000 mortos no mundo desde que surgiu em dezembro na China, a pandemia da covid-19, que avança em ritmo acelerado nos Estados Unidos, parece que começa a retroceder na Europa, onde os países planejam como sair aos poucos do confinamento.
Nesta terça-feira em Viena, a avenida comercial do bairro popular Favoriten retomou as atividades, mas as marcas da covid-19 estão presentes: muitos clientes aguardavam do lado de fora das lojas, mantendo a distância uns dos outros, e a maioria usava máscaras.
Fatih Altun, dono de uma loja de reparo de telefones celulares, afirmou que tem medo do vírus, mas se viu obrigado a reabrir após um mês sem faturamento.
"Perdi entre 5.000 e 6.000 euros e tive que demitir meu único funcionário", disse.
Na vizinha Itália, o país mais afetado na Europa, com mais de 20.000 mortos e quase 160.000 casos, papelarias, livrarias e lojas de produtos infantis foram autorizadas a reabrir as portas, mas nem todas as regiões decidiram aplicar a medida, por precaução.
O confinamento na Itália deve prosseguir até 3 de maio, mas o governo também autorizou a retomada das atividades florestais e agrícolas, entre outras, seguindo os passos da Espanha, que na segunda-feira viu o retorno do trabalho nos setores da construção e em algumas indústrias.
As autoridades da Espanha, país que nesta terça-feira superou 18.000 mortes provocadas pela covid-19, consideram que o pico da pandemia ficou para trás. O confinamento estrito prosseguirá em vigor, porém, até pelo menos 25 de abril.
Na França, com quase 15.000 óbitos provocados pelo coronavírus, o balanço também começa a desacelerar, mas o presidente Emmanuel Macron prorrogou o confinamento até 11 de maio.
A data, afirmou Macron em um discurso à nação na véspera, será "o início de uma nova etapa". O chefe de Estado também mencionou a reabertura progressiva das escolas.
"O Grande Confinamento"
Ante o início da suspensão progressiva das medidas, sob a pressão da necessidade de reativar a economia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos países que não baixem a guarda até a obtenção de uma "vacina segura e eficaz", com o objetivo de evitar novos surtos.
"As medidas devem ser retiradas lentamente e com controle", afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que pediu um "equilíbrio" entre a proteção da população e a retomada da economia.
O mundo se prepara para uma recessão pior que a registrada após a crise de 1929. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma contração econômica global em 2020 de 3% e um "grave risco" de um cenário pior.
O "Grande Confinamento", que afetará sobretudo os países em desenvolvimento, provocará uma queda de 7,5% do PIB na Eurozona e de 5,9% nos Estados Unidos. Apenas China e Índia devem escapar da recessão este ano, com crescimentos de 1,2% e 1,9%, respectivamente.
Nos Estados Unidos, país mais atingido pelo novo coronavírus, com mais de de 23.000 mortos, o presidente Donald Trump afirmou que está decidido a reativar a economia o mais rápido possível e considerou que a nação está deixando para trás o momento mais duro.
A contração do PIB também será aguda na América Latina, com fortes impactos para México (-6,6%) e Brasil (-5,3%), além de um aprofundamento da recessão na Argentina (-5,7%).
A volta ao trabalho, como aconteceu na China após o fim do confinamento, parece longe em outras partes do mundo, como na Índia, que decidiu prorrogar o confinamento de seu 1,3 bilhão de habitantes até pelo menos 3 de maio.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin, que defendeu um plano "extraordinário" para enfrentar a pandemia, reconheceu que a situação "não segue na melhor direção", ao mencionar a escassez de equipamentos de proteção para os médicos.
Na América Latina, a pandemia já provocou quase 3.000 mortes e mais de 69.000 contágios, sobretudo no Brasil (1.328 mortos e 23.430 casos), Equador (355 e 7.529) e México (332 e 5.014).
Em todo mundo, a pandemia afeta especialmente os mais pobres.
No bairro Nigéria, área carente da cidade equatoriana de Guayaquil, o local mais afetado pelo coronavírus no país, Washington Angulo, líder comunitário, lamenta a pobreza multiplicada pela pandemia.
"As autoridades dizem às famílias: fiquem dentro de casa, mas não observam além. A necessidade que tínhamos antes disso agora é pior", desabafa.
Em Cuba, que tem mais de 700 casos confirmados de coronavírus, aumentam as vozes que pedem o fim do embargo americano contra a ilha, em vigor desde 1962 e que dificulta, entre outras coisas, a compra de material médico.
"O bloqueio é ainda mais cruel e genocida do que normalmente é (...) quando não estamos com uma epidemia", denunciou o diretor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde, Néstor Marimón.
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