Economia

PIB deve cair já neste trimestre, dizem analistas

Recessão em 2009, porém, ainda é considerada pouco provável

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2008 às 09h34.

A maioria dos brasileiros pode ainda não ter percebido, mas é cada vez maior o número de economistas que acredita que o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas por um país) terá uma retração já neste quarto trimestre. O Portal EXAME consultou quatro especialistas e somente um descartou a contração econômica. Vários motivos devem pressionar o desempenho do país no quarto trimestre, como a queda dos investimentos, a sazonalidade da produção agrícola e o recuo da atividade industrial. Entre os setores mais afetados pela crise, destacam-se a construção civil e o automotivo - que tem grande participação no PIB.

Já para 2009, o fantasma de uma recessão econômica ainda não assusta. Nesta segunda-feira (1/12), o banco americano Morgan Stanley levantou a possibilidade - ainda que baixa - de o Brasil cair numa recessão técnica, ou seja, um período de retração de dois trimestres consecutivos. Para os economistas ouvidos pelo Portal EXAME, a chance de uma recessão em 2009 é bastante baixa. Mas fatores como o efeito inflacionário da alta do dólar e a provável necessidade de manter os juros em alta preocupam. Veja, a seguir, a avaliação dos especialistas:

Luiza Rodrigues, economista do Banco Santander: Acredito que a probabilidade de uma recessão é baixa. O PIB deve ter uma contração de 0,5% no quarto trimestre em relação ao terceiro, mas ter uma leve alta nos primeiros três meses de 2009. Entre outubro e dezembro, a agricultura terá queda forte de 2%, mas isso nada tem a ver com a crise. Pela metodologia estabelecida pelo IBGE, a safra se concentra no segundo e no terceiro trimestres. Já a indústria deve ter uma contração de 0,5%, principalmente devido aos efeitos da crise. Houve uma deterioração muito forte das expectativas dos empresários e os investimentos terão uma queda de 7%. Há crédito para bons projetos, principalmente do BNDES, mas o empresário aguarda um cenário mais claro para investir. O crédito vai atrapalhar o setor de serviços, que terá uma contração de 0,3%. Haverá uma redução das vendas do comércio e também da atividade das instituições financeiras devido à crise do crédito. O consumo das famílias vai crescer só 0,6%, um patamar abaixo dos trimestres anteriores, também pelo aperto da política monetária. O Santander acredita que, com a alta do dólar, haverá mais quatro altas da taxa básica de juros. Serão quatro elevações de 0,5 ponto percentual cada uma, elevando a Selic para 15,75% em abril. Mas esses novos aumentos terão uma defasagem de seis meses para fazerem efeito. Então acreditamos que ser provável que o PIB volte a ter um leve aumento no primeiro trimestre. Para o Santander, o pior do pânico já passou, as coisas pararam de piorar, então será possível crescer mesmo em um ambiente inflacionário e de aperto monetário. Para 2009, nossa previsão é de crescimento de 2,5%.

Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria econômica LCA: O PIB deve ter uma expansão de pelo menos 1,9% em 2009, mas o Brasil muito provavelmente enfrentará níveis negativos de crescimento no quarto trimestre de 2008 e, com um pouco menos de certeza, no primeiro trimestre de 2009. Se confirmado esse cenário, o país entraria em recessão técnica, mas mesmo assim tenderia a se recuperar nos semestres seguintes, o que evitaria uma queda tão acentuada no PIB do ano como um todo. Os dados mais recentes de produção industrial, divulgados nas últimas semanas, apontam para uma queda significativa nas encomendas da indústria e uma expressiva elevação dos níveis de estoque a patamares indesejáveis, sinais claros de freada brusca do setor produtivo. O analista afirma que o problema será ainda mais grave para dois dos setores mais dinâmicos nos últimos anos, o automobilístico e o de construção civil. Fortemente dependentes da disponibilidade de crédito e da confiança para investimentos, justamente os fatores mais atingidos pela crise global, esses setores devem acentuar as demissões de trabalhadores e a paralisação de plantas já observados em menor escala nas últimas semanas. “A regra básica é que quem crescia mais em 2008, até o agravamento da crise, é quem vai cair mais no ano que vem”, explica. A desaceleração do setor produtivo acabará por puxar o índice de desemprego no país de 7,5% para 8,5%, segundo estimativas da LCA, e respingará por fim no setores de bens de consumo, mesmo que indiretamente.

Jaison Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria: Não fechamos a projeção para o quarto trimestre, mas esperamos um PIB negativo ou com um crescimento muito próximo de zero, como 0,5%. Mas nossa expectativa não é de retração, porque ainda existe um crescimento inercial que vai impactar o final do ano. A agricultura deve vir ainda levemente melhor. E a indústria seria a primeira a entrar em retração, já nesse trimestre. O que deve evitar a contração do PIB é o setor de serviços, que será o último a sentir a crise econômica. O que deve pesar na desaceleração de fim de ano é a falta de crédito e a queda de confiança dos consumidores. Para 2009, esperamos um crescimento bem mais modesto do PIB, de 2,5% a 2,6%. Os dois primeiros trimestres devem ser bem ruins, mas não se sabe se serão negativos. Tudo depende dos rumos da economia americana. Se o PIB americano continuar caindo até o fim do segundo trimestre, o Brasil pode entrar em uma recessão técnica. E a política de juros altos do Banco Central será nociva. Mas o BC não pode fazer muita coisa porque precisa manter a taxa elevada para compensar o inchaço e a ineficiência da máquina pública. Infelizmente, o crescimento brasileiro mascarou nossos problemas de déficit fiscal e má gestão pública. Com a economia mais fraca, eles vão aparecer.

Juan Jensen, sócio da Tendências e coordenador da área de macroeconomia: "Existe a possibilidade de uma retração técnica, mas não é nosso cenário mais provável. Diria que a probabilidade está entre 20% e 30%. Se ela ocorrer, será até o primeiro semestre de 2009. No quarto trimestre, é possível que haja uma forte desaceleração, puxada por setores como os de bens duráveis, mas ainda não fechamos uma previsão. A construção civil também deve desacelerar, mas o governo está tomando medidas para mitigar os efeitos da crise de crédito sobre o setor. O ritmo dos investimentos também deve cair. No próximo ano, a desaceleração será motivada pela menor oferta de crédito, menor geração de empregos e menor expansão da renda. O Brasil vai sofrer menos que outros países, mas estamos mais integrados com o mundo. Não há como não sofrer junto. Além da falta de crédito, também sentiremos a queda da confiança dos consumidores.

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