Economia

Pesadelo da Venezuela indica que default pode vir mais cedo

O pesadelo inflacionário do país sinaliza que o calote da dívida venezuelana talvez esteja mais perto do que se pensava


	Homem faz compras em uma loja subsidiada pelo governo da Venezuela
 (Meridith Kohut/Bloomberg)

Homem faz compras em uma loja subsidiada pelo governo da Venezuela (Meridith Kohut/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2015 às 18h10.

A Venezuela está prestes a ganhar mais uma medalha de desonra.

Há muito o lar da taxa de inflação mais alta do mundo, o país agora deve se tornar a sede do 57º caso de hiperinflação registrado na história moderna, disse Steve Hanke, professor de Economia Aplicada na Universidade Johns Hopkins.

Embora a façanha não passe de uma formalidade no país onde, segundo os cálculos de Hanke, o aumento anual do custo de vida chega a 772 por cento, trata-se do mais recente sinal de que o calote da dívida talvez esteja mais perto do que os traders pensavam.

Como a moeda venezuelana já perdeu 32 por cento de seu valor nos últimos 30 dias no mercado paralelo, de acordo com o dolartoday.com, e a queda dos preços do petróleo está sufocando a maior fonte de receita do país descapitalizado, talvez o governo fique sem dinheiro para pagar suas dívidas até o fim do ano, de acordo com o Société Générale SA.

Os traders de derivativos incrementaram para 63 por cento a probabilidade de um calote dentro de um ano, em comparação com os 33 por cento estimados há apenas dois meses.

“Eles estão muito perto da hiperinflação”, disse Hanke, que escreveu um livro sobre a hiperinflação no Zimbábue, em entrevista por telefone, de Baltimore.

“Quando a moeda doméstica está apodrecendo no pé, fica mais problemático pagar a dívida externa”.

A moeda se desvalorizou tanto na segunda-feira que implicou uma taxa mensal de inflação de 53,98 por cento.

Um mês inteiro de dias em que a taxa mensal implicada seja maior que 50 por cento entraria na definição dele de hiperinflação.

Impotência

O ritmo da deterioração econômica da Venezuela preocupa Siobhan Morden, diretora de estratégia para a América Latina do Jefferies Group LLC.

“Está só começando”, disse ela, em entrevista por telefone, de Nova York. “Esse choque econômico poderia acabar minando a disposição deles para pagar”.

O arquivo de hiperinflação de Hanke inclui desde a França em 1975 e 1976, quando os preços subiam até 304 por cento em um mês, até a Hungria em julho de 1946, quando os preços dobravam a cada 15 horas.

O surto mais recente foi no Zimbábue entre 2007 e novembro de 2008.

Nubia Mendoza, que vende produtos de limpeza em um posto do Mercado Chacao, uma feira de produtores na abastada região leste de Caracas, pode atestar o aprofundamento das dificuldades da Venezuela. Mendoza, 40, disse que parou de atualizar a lista de preços escrita à mão afixada para os clientes.

“Os preços estão aumentando praticamente todos os dias”, disse ela.

“As pessoas se chateiam. Elas simplesmente não entendem. Mas depois que elas dão uma volta para procurar os produtos por conta própria e percebem que não encontram o que querem, elas acabam voltando e pagando o preço. O que mais se pode fazer? Toda essa situação faz com que a gente se sinta impotente”.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaInflaçãoVenezuela

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado eleva projeções do IPCA para 2024 e 2025; Selic de 2025 também avança

Plano Real, 30 anos: Qual o legado e o futuro da moeda? Veja episódio final da série da EXAME

Lula negocia com Latam compra de 9 aviões da Embraer; aérea deve anunciar aporte de R$ 11 bi no país

Brasil é 'referência mundial' em regulação financeira, diz organizador de evento paralelo do G20

Mais na Exame