O que empresas brasileiras aprenderam no sudeste asiático
Gigantes como Stefanini, BRF e Marcopolo apostam na região e contam como a diversidade cultural e parcerias locais contribuíram para o sucesso nas operações
Vanessa Daraya
Publicado em 13 de junho de 2017 às 11h21.
Última atualização em 19 de julho de 2017 às 16h25.
As relações comerciais entre o Brasil e os países asiáticos têm aumentado exponencialmente nas últimas duas décadas. A China, por exemplo, saltou do 12º destino das exportações brasileiras, em 2000, para a primeira parceira comercial em 2009 – onde se mantém até hoje.
No ano passado, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o Brasil exportou 35,1 bilhões de dólares para a China, o equivalente a 18,97% do total exportado no ano. O bom exemplo do mercado consumidor chinês e a mudança da economia no país fizeram com que empresas brasileiras passassem a olhar oportunidades em outros países do continente.
Novo foco estratégico das companhias que atuam no Brasil, os países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) – Singapura, Indonésia, Malásia, Tailândia, Filipinas, Brunei, Myanmar, Camboja, Laos e Vietnã – movimentam 1 bilhão de dólares das exportações brasileiras desde 2015. “O grande facilitador é a disposição de ambos em dialogar. O caminho para os negócios está aberto”, diz Rodrigo Lima, diretor-geral da consultoria Agroicone, especializada em comércio internacional.
Os olhares voltados ao sudeste asiático não são à toa. Singapura, o principal país da Asean, tem um dos maiores hubs logísticos do mundo: 20 das 25 maiores companhias globais do setor de logística administram suas operações por lá. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) apontam que o país é o segundo lugar mais conectado do mundo. A base de sua estrutura portuária possui cerca de 200 linhas de navegação e links para 600 portos que podem embarcar para 123 países.
No fim de 2013, Brasil e Singapura assinaram um acordo para evitar dupla tributação e aprofundar laços políticos e econômicos. Para facilitar a vida dos empresários e aproveitar a capacidade logística de Singapura, governos estaduais brasileiros e entidades do país asiático têm trabalhado em conjunto para movimentar mais os negócios entre ambos. É o caso do Maranhão, que, em janeiro de 2017, passou a formular estratégias para fortalecer o porto de Itaqui, um dos principais do Nordeste.
Diante desse cenário, grandes companhias brasileiras como Stefanini, BRF e Marcopolo estreitaram as relações comerciais na região e agregaram mais valor aos seus negócios. Veja a seguir o que elas têm aprendido no sudeste asiático.
Marcopolo – Uma das maiores fabricantes de carrocerias do mundo, a Marcopolo é dona das marcas Volare e Moneo, além da empresa que leva o seu nome. A atuação internacional é um dos pontos fortes do negócio. Em 2016, a companhia registrou um faturamento de 2,5 bilhões de reais. Desse montante, 950 milhões de reais foram obtidos por meio de exportação e 835,8 milhões de reais em operações que a companhia possui fora do Brasil.
A atração pelo mercado asiático não é de hoje. Há mais de 16 anos, a Marcopolo fechou contrato de transferência de tecnologia para a montagem de três modelos de ônibus na China. Desde então, o interesse no sudeste asiático aumentou. Exemplo disso foi a parceria firmada com a empresa sueca Scania, em meados de 2015, para operar na Malásia com a produção de peças para ônibus de luxo que a empresa comercializa no local. “O potencial do mercado é bem grande para o transporte coletivo”, diz André Vidal Armaganijan, diretor de estratégias e negócios internacionais da companhia. “Temos um plano de crescimento para a região do sudeste asiático com metas para os próximos cinco anos.”
Segundo Armaganijan, um dos grandes responsáveis pelo sucesso do desempenho da empresa na Ásia é a diversidade. Na fábrica instalada na região, a maioria dos trabalhadores é composta por pessoas locais, sendo a minoria brasileira. A troca diária entre as duas culturas é um dos diferenciais da operação asiática. “Essa mescla tem sido fundamental para unir a sabedoria de técnicas e processos da matriz com o conhecimento local de cada mercado”, explica.
(Germano Luders/Exame)Stefanini – Fundada em 1987 por Marco Stefanini como uma empresa de treinamento, a multinacional brasileira está presente atualmente em todos os continentes por meio de prestação de serviços, software para informática e consultoria. Na Ásia, a empresa conta com escritórios na China, Índia, Malásia, Filipinas, Singapura e Tailândia.
Segundo Marco Stefanini, o interesse na região surgiu, principalmente, pela capacidade de mão de obra especializada com baixo custo. A inserção no mercado de Singapura, por exemplo, foi iniciada em meados de 2013. Já em 2015, a companhia anunciou a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento, composto por um time de pesquisadores e cientistas de tecnologia que trabalham em parceria com outros centros da empresa ao redor do mundo. O objetivo é usufruir todo o hub do país para conseguir fornecer serviços para todo o continente asiático.
A companhia também tem um escritório nas Filipinas com 1 200 funcionários. Por lá, a empresa presta serviço offshore para o mercado americano. Para Stefanini, os próximos cinco anos serão ainda mais promissores. Com uma economia em expansão, o mercado para serviços estará mais fortalecido, o que pode aumentar a presença da empresa no local. “A Ásia é um continente em construção. A relevância da região para nós vai aumentar proporcionalmente conforme o seu amadurecimento econômico”, diz.
Segundo Stefanini, um dos pontos fortes da região foi a hospitalidade. Quando passou a operar nas Filipinas, ele não imaginou encontrar nas pessoas uma semelhança tão grande com os latinos. “É um país muito interessante, com pessoas amigáveis e simpáticas, um prato cheio para quem trabalha com serviços”, afirma. Ele também se surpreendeu pelo interesse dos filipinos pela cultura dos Estados Unidos. Por atender o mercado americano, Stefanini se diz satisfeito em ter escolhido o local para montar o escritório.
(Stefanini/Divulgação)