O que Ciro quer fazer com a Previdência, segundo seu assessor
Um novo modelo de três pilares foi apresentado nesta terça-feira (12) por Mauro Benevides Filho, coordenador econômico do programa de Ciro
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de junho de 2018 às 19h36.
Última atualização em 12 de junho de 2018 às 20h38.
São Paulo – Se eleito presidente, Ciro Gomes (PDT) pretende propor um novo sistema de três pilares para a Previdência .
É o que diz Mauro Benevides Filho, professor da Universidade Federal do Ceará e coordenador econômico do programa do pré-candidato, queoscila entre 10 e 11% nas intenções de voto segundo o Datafolha.
Mauro participou na tarde desta terça-feira (12) do IX Fórum Nacional do Seguro de Vida e Previdência Privada, realizado pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) em São Paulo.
“O regime de repartição está fadada ao insucesso. As pessoas estão vivendo cada vez mais”, apontou em um debate, completando que “chegou o momento de discutir isso na campanha eleitoral”.
Ciro tem dado declarações contraditórias sobre o tema: ele afirmou na sabatina do Uol/Folha/SBT que "é perfeitamente possível afirmar que o Regime Geral não tem déficit", masem entrevista ao portal GauchaZH, disseque "o buraco neste ano é de R$ 180 bilhões", próximo do número oficial.
Pilares
O novo modelo proposto por Benevides teria três pilares. O primeiro seria de assistência social, para quem não contribui, com custo anual estimado em R$ 21 bilhões.
O que existe hoje é o BPC (Benefício de Prestação Continuada), um benefício de um salário mínimo (atualmente R$ 954) dado para idosos (acima dos 65 anos) e para pessoas com deficiência com renda abaixo dos R$ 238,50 por pessoa.
O segundo pilar é o regime de repartição, como o atual, em que trabalhadores em atividade financiam os benefícios dos aposentados.
O teto do INSS seria reduzido dos atuais R$ 5,6 mil para um valor entre 3 mil e 4 mil, e acima disso o trabalhador participaria de um regime de capitalização – o terceiro pilar.
Neste sistema, os recursos aplicados por cada trabalhador vão para uma conta individual e funcionam como um investimento que fica aplicado para ser resgatado no futuro.
Transição
Um dos problemas com a mudança seria o custo de transição dos sistemas para que ele não quebrasse.
Segundo Benevides, a equipe tem mais de uma dezena de economistas e cientistas de dados trabalhando em modelos de simulações e este custo será divulgado pela campanha.
Hélio Zylberstajn, professor da FEA/USP e coordenador do Projeto Salariômetro da Fipe, sugeriu outro tipo de transição: colocar em um novo sistema de capitalização só aqueles que entram agora no mercado de trabalho.
A transição seria financiada com o PIS/PASEP ou uma alíquota estabilizadora no sistema novo e haveria um ajuste nos parâmetros do regime atual.
Idade mínima
Outra dúvida ainda em aberto é sobre a idade mínima para aposentadoria, algo que poucos países do mundo não têm e que estava no centro da reforma proposta pelo governo Temer.
Benevides disse que a campanha de Ciro vai propor duas idades, para contemplar diferenças na expectativa de vida nos perfis de trabalhadores brasileiros, mas não deu o patamar.
Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, sócio da Rio Bravo Investimentos e atual coordenador do programa econômico do Partido Novo, vê dificuldade de implementação:
“Na prática, tenho a impressão que será mais fácil fazer de forma modular”, disse ele, mas completou que “a vantagem da capitalização é introduzir um parâmetro do que é justo. Qualquer coisa além do patamar muito pequeno deve refletir a ideia da cigarra e da formiga”.
Para Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo e coordenador econômico do Partido de Trabalhadores (PT), a Previdência precisa de reformulações e não de uma mudança profunda:
“Temos que olhar com cuidado se várias propostas colocadas são compatíveis com a democracia”, disse ele e completou que a reforma trabalhista desestimula a contribuição e “inviabiliza qualquer sistema de Previdência”.