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Brasil não é mais queridinho do mercado, dizem investidores

Patrice Etlin, sócio do Avent, disse que investidores questionam se o Brasil poderia virar Argentina ou Venezuela - e que apesar dos erros, não está indo por aí

André Lahoz, diretor de redação da EXAME, Helio Magalhães, presidente do Citi, e Patrice Etlin, Sócio do Advent Internacional, durante EXAME Fórum 2015 (Flavio Santana/Biofoto/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2015 às 15h19.

São Paulo – Vamos virar uma Argentina ou uma Venezuela?

Essa é uma das questões que o maior fundo de private equity do Brasil, o Advent, recebe de investidores antes de aplicações no Brasil.

“Penso que, apesar dos erros cometidos no primeiro mandato, o governo mostrou que o país é uma economia que busca austeridade fiscal”, afirmou Patrice Etlin, sócio do Avent.

Ele brincou que a presidente poderia ter "dobrado a meta" - ou seja, apostado em um aprofundamento das políticas do primeiro mandato - e decidiu não fazer.

A declaração foi no evento EXAME Fórum, realizado nesta segunda-feira no Hotel Unique, em São Paulo. O vice-presidente Michel Temer, o juiz Sérgio Moro e o ministro da Fazenda Joaquim Levy também participam.

O presidente do Citi no Brasil, Hélio Magalhães, falou no mesmo painel da redução de investimentos estrangeiros.

Segundo ele, os investidores de fora do país podem ser divididos em dois grupos: os que tem por base capital privado, seja em empresas ou ativos, e os que aplicam em renda fixa e variável.

Em dezembro, o primeiro grupo reduziu os investimentos no país em 35% e os recursos em renda fixa e variável caíram pela metade. Estes números subiram em janeiro, com a posse de Levy e outros sinais, mas voltaram a cair a partir de maio.

“Veja que isso coincide com a reeleição, seguida com a demonstração de preocupação do governo com a austeridade e, partir de maio, com a instabilidade das regras econômicas”, afirmou Magalhães.

O crédito default swap no Brasil, uma espécie de seguros de investimentos baseado no risco de investimentos, está abaixo da Rússia mas desde o começo do ano ultrapassou Turquia e Colômbia.

“Isso mostra uma coisa triste: o Brasil está visto lá fora como um risco”, afirmou Magalhães.

Ex-queridinho dos estrangeiros

Para Patrice, a classe empresarial precisa deixar claro para o governo que para sermos vistos como atrativos, é preciso uma agenda profunda de reforma.

“É preciso ser realista e admitir que nosso modelo de receita faliu. É inviável cobrir o buraco e gerar superávit fiscal", disse. "Não estamos à beira do precipício, mas estamos perto”.

Ele disse que há um desconhecimento nos altos níveis do Planalto sobre a importância dos fundos de investimento do longo prazo - mas que de qualquer forma, confiança é questão de políticas e não de relações públicas:

"Não saiu uma licitação desde a Lei dos Portos e quatro ministros da Secretaria de Portos foram mudados só no governo Dilma", disse. "Ter nomeação politica na agência regulatória que vai estar lidando com o meu contrato lá na frente é um no go em qualquer comitê de investimentos".

Isso fica ainda mais central agora que o Brasil não é mais o queridinho dos mercados, como era em 2006: "É preciso ver isso e se abrir para diálogo. Não há mais espaço para dizer uma coisa e fazer outra", diz.

A China em desaceleração - com todas as suas consequências e incertezas - deve atrapalhar ainda mais o cenário nacional: "Quem sabe é a vez da tal falada crise mundial chegar ao Brasil", disse ironicamente Patrice.

Enquanto os recursos vindos do exterior encolhem por aqui, outros mercados como o Chile e Colômbia despontam. A perspectiva de uma possível mudança de governo colocou até a Argentina no radar.

Índia e África do Sul também são mais atraentes, estes pelo potencial de crescimento e projetos de infraestrutura definidos: "Não temos esses projetos e prevemos um cenário ainda mais ruim", disse Patrice.

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Ele brincou que a presidente poderia ter "dobrado a meta" - ou seja, apostado em um aprofundamento das políticas do primeiro mandato - e decidiu não fazer.

A declaração foi no evento EXAME Fórum, realizado nesta segunda-feira no Hotel Unique, em São Paulo. O vice-presidente Michel Temer, o juiz Sérgio Moro e o ministro da Fazenda Joaquim Levy também participam.

O presidente do Citi no Brasil, Hélio Magalhães, falou no mesmo painel da redução de investimentos estrangeiros.

Segundo ele, os investidores de fora do país podem ser divididos em dois grupos: os que tem por base capital privado, seja em empresas ou ativos, e os que aplicam em renda fixa e variável.

Em dezembro, o primeiro grupo reduziu os investimentos no país em 35% e os recursos em renda fixa e variável caíram pela metade. Estes números subiram em janeiro, com a posse de Levy e outros sinais, mas voltaram a cair a partir de maio.

“Veja que isso coincide com a reeleição, seguida com a demonstração de preocupação do governo com a austeridade e, partir de maio, com a instabilidade das regras econômicas”, afirmou Magalhães.

O crédito default swap no Brasil, uma espécie de seguros de investimentos baseado no risco de investimentos, está abaixo da Rússia mas desde o começo do ano ultrapassou Turquia e Colômbia.

“Isso mostra uma coisa triste: o Brasil está visto lá fora como um risco”, afirmou Magalhães.

Ex-queridinho dos estrangeiros

Para Patrice, a classe empresarial precisa deixar claro para o governo que para sermos vistos como atrativos, é preciso uma agenda profunda de reforma.

“É preciso ser realista e admitir que nosso modelo de receita faliu. É inviável cobrir o buraco e gerar superávit fiscal", disse. "Não estamos à beira do precipício, mas estamos perto”.

Ele disse que há um desconhecimento nos altos níveis do Planalto sobre a importância dos fundos de investimento do longo prazo - mas que de qualquer forma, confiança é questão de políticas e não de relações públicas:

"Não saiu uma licitação desde a Lei dos Portos e quatro ministros da Secretaria de Portos foram mudados só no governo Dilma", disse. "Ter nomeação politica na agência regulatória que vai estar lidando com o meu contrato lá na frente é um no go em qualquer comitê de investimentos".

Isso fica ainda mais central agora que o Brasil não é mais o queridinho dos mercados, como era em 2006: "É preciso ver isso e se abrir para diálogo. Não há mais espaço para dizer uma coisa e fazer outra", diz.

A China em desaceleração - com todas as suas consequências e incertezas - deve atrapalhar ainda mais o cenário nacional: "Quem sabe é a vez da tal falada crise mundial chegar ao Brasil", disse ironicamente Patrice.

Enquanto os recursos vindos do exterior encolhem por aqui, outros mercados como o Chile e Colômbia despontam. A perspectiva de uma possível mudança de governo colocou até a Argentina no radar.

Índia e África do Sul também são mais atraentes, estes pelo potencial de crescimento e projetos de infraestrutura definidos: "Não temos esses projetos e prevemos um cenário ainda mais ruim", disse Patrice.

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